A Copa será um fracasso! A Copa será um sucesso!
A maioria das pessoas que fazem parte de minhas redes de relacionamento são da opinião que a Copa do Mundo de Futebol no Brasil será um retumbante fracasso. Estádios importantes ainda não foram entregues, as obras em infraestrutura estão atrasadas, as cidades-sede não se prepararam adequadamente para receber a imensa massa de turistas estrangeiros são alguns dos fatores que fazem esse grupo acreditar que o evento mais esperado do ano será um fracasso. Eu acrescentaria a essa perspectiva o fato de que, até o momento, não apareceu ninguém que batesse a mão no peito e dissesse: deixa comigo! A Copa não tem dono. E projetos sem dono costumam ser fadados ao fracasso. A FIFA até aparece de vez em quando, mas é tão dependente de tudo e todos, que o máximo que tem feito é reclamar. A CBF, dona natural, parece estar nem aí e fica à distância torcendo para alguém assumir a solução dos problemas ou a culpa, caso a tese do fracasso se concretize. E a Dilma, bem, se puxar para si a responsabilidade, vai dar argumentos de sobra para a oposição descer a lenha nela, afinal, o salário da presidente é pago com dinheiro público, e a Copa do Mundo, como todos sabemos, é um evento da iniciativa privada. Por outro lado, nunca se gastou tanto dinheiro público neste país num evento privado. E esta é uma das razões porque outra parcela de pessoas afirma que a Copa será um sucesso. São tantos os interesses envolvidos que, dificilmente, “the cow will really go to the swamp”. Algumas das maiores e importantes empresas do mundo já associaram suas marcas à Copa e, claro, a própria Dilma pode balançar caso o caos se instale durante esse período, há poucos meses das eleições. Na falta de um dono, temos muitos donos. Só que como estão espalhados, não são tão visíveis como os salvadores da pátria que costumam dar suas caras nas horas de crise.
Qual dos dois cenários irá prevalecer? Ninguém sabe... Eu até apostaria num terceiro, que seria a Copa do “Marromeno”, que não irá chegar a encantar ninguém, mas também não será um completo desencanto. A Copa do empurra com a barriga, com filas imensas nos aeroportos, mas estádios lotados cheios de alegria e integração entre gente de diferentes culturas e origens; a Copa do trânsito caótico e também da emoção de torcer pelo Brasil ao lado dos amigos e familiares; a Copa da repressão contra as manifestações nas ruas e das manifestações gratuitas de carinho nos estádios, nas casas e em qualquer canto que um punhado de pessoas se junte para acompanhar os jogos da seleção. Enfim, será uma Copa bem a cara do Brasil, mestiça, improvisada, alegre, cheia de gambiarras e improvisações, a Copa que o mundo irá acabar chamando de a Copa do “Marromeno”. Se esse cenário irá acontecer, não faço a menor ideia. Por isso, não o defendo categoricamente, ao mesmo tempo em que não espero a Copa se realizar para emitir minha opinião. Depois que passar, será muito mais fácil analisar o que aconteceu. Mesmo assim, surgirão novos cenários nesse processo.
Você, que chegou até essa parte do texto, talvez se pergunte: ok, Fábio, já entendi seu ponto com relação à Copa, mas o que isso tem a ver com você que trabalha com ou estuda Comunicação Empresarial? E eu te respondo: Copa e você, tudo a ver! Organizações são ambientes complexos, onde projetos do tipo Copa acontecem o tempo todo. Projetos sem dono, projetos que ninguém sabe explicar porque fracassaram ou porque foram bem-sucedidos, projetos que atraem torcedores, projetos que conquistam inimigos – e, claro, tem sempre a turma que fica em cima do muro comentando à distância, da arquibancada, e posando como os maiores especialistas.
E enquanto cada facção defende sua própria opinião como a mais pura expressão da verdade, o que fazem as organizações? Esperam. Isso mesmo: esperam até terem certeza da precisão da informação. Enquanto isso, a Rádio Peão corre solta.
O que fizemos nos dois primeiros parágrafos do texto foi explorar alguns dos cenários possíveis envolvendo a realização da Copa no Brasil – visões, justificativas e implicações. E é isso o que qualquer organização deveria fazer. Ao invés de delegar toda a responsabilidade a um salvador da pátria – o famoso "líder inspirador” - ou esperar até que o quadro se estabilize para, só então, se comunicar, escolha conversar sobre cenários. E faça isso o mais rápido possível. A empresa está negociando com outra uma parceria – desnecessário dizer que a Rádio Peão já deu a notícia -, quais são os cenários com os quais a organização trabalha? Quais são as implicações para ela e para os colaboradores caso a parceria se concretize? E se não acontecer? E se demorar mais do que o previsto? E se, no meio do caminho, surgir uma outra oportunidade melhor? Só aí, já temos quatro cenários sobre os quais conversar.
O consultor T.J. Larkin, talvez o maior evangelista da comunicação face a face no mundo, vem repetindo ad nauseum há quase 30 anos que esperar para comunicar, normalmente, é percebido como uma escolha deliberada em não comunicar, o que acaba por gerar todo tipo de especulação e instabilidade. Num mundo onde a complexidade aumenta numa proporção absurda, as certezas, que nunca foram assim tão certas quanto imaginávamos, tornam-se ainda mais fugazes e, muitas vezes, fictícias. Comunicar cenários é, portanto, um caminho muito mais sensato e eficaz para lidar com a complexidade no mundo organizacional.
Minta, omita, adie, distorça, esconda a informação, trate as pessoas de sua organização como crianças e espere que elas ajam como crianças. Se, no entanto, é gente empreendedora e engajada o que você quer, é de conversas de gente grande que você precisa.
E, por favor, mate minha curiosidade: em qual desses cenários sobre a Copa do Mundo você acredita?
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