Recentemente o portal da Aberje abordou a pesquisa realizada pela
Global Alliance for Public Relations and Communication Management, representante de associações e instituições mundiais com cerca de 160 mil profissionais e educadores em relações públicas. A Global Alliance tem a missão de unificar o discurso do setor e ser seu porta-voz, mapear as melhores práticas e procedimentos globais e compartilhar o conhecimento em benefício de seus membros. O estudo foi apresentado em Melbourne, na Austrália, durante o Fórum Mundial de Relações Públicas, por Jean Valin, coautor e ex-presidente da Global Alliance.
Participaram do estudo as empresas brasileiras Petrobras e Natura, junto com Enel, Allianz, Novo Nordisk, Dow Chemical, Pratt & Whitney, Philips e Coca-Cola. A participação de duas empresas brasileiras revela a sofisticação e qualificação das técnicas desenvolvidas aqui no Brasil. A italiana Enel, que patrocinou a pesquisa, selecionou critérios para escolher participantes comparáveis entre si: 30 mil ou mais empregados; operações multinacionais; respeitada reputação entre seus stakeholders; área única de relações públicas com alinhamento regional; forte desempenho nas relações institucionais e lobby; experiência na introdução de novas tecnologias com aceitação pelo mercado; listada na bolsa de valores e/ou índices de sustentabilidade.
A grande conclusão que o estudo revela é a de que o sucesso do negócio e liderança na sociedade global de hoje dependem de ampliar a capacidade de antecipar, identificar, priorizar e resolver a variação constante de expectativas e exigências de um amplo espectro de stakeholders e outros formadores de opinião. Por decorrência, igual atenção para escutar e se envolver com stakeholders é necessária para ter sucesso. Na verdade, o engajamento com públicos de interesse parece ser o elemento central dos modelos de gestão moderna de relações públicas em empresas.
Além dos cases destas empresas, algumas definições são importantes como a busca do perfil ideal do gestor de comunicação corporativa- Chief Communications Officer (CCO). As competências hoje vão além das tradicionais, mas o comportamento ético permanece imprescindível. Os resultados de RP devem estar alinhados com os do negócio; o desenvolvimento de uma cultura de transparência, “emponderamento”, treinamento, diálogo e respeito estão em maior evidência; uma cultura organizacional harmoniosa com influência em outras áreas que afetam a reputação da organização; a interação com as mídias/redes sociais, desenvolvendo um modelo de comunicação bidirecional que se relaciona com a base e ao mesmo tempo se torna um sistema de alerta para gerenciamento de crises; o foco em responsabilidade social corporativa e desenvolvimento sustentável se torna uma forma especialmente eficaz para elevar a reputação corporativa.
Interessante é que o estudo traz dados de outras pesquisas para ratificar seus achados sobre o relações-públicas do amanhã. O exemplo é o de uma pesquisa realizada em 2010- The PR Gap -pela
Annenberg School Strategic Communication and Public Relations Center da University of Southern California (USA). Além da expansão das relações públicas para novas funções como administrar redes sociais, a construção das relações com público interno e com o consumidor são mais implementadas. Para os próximos cinco anos,acredita-se que relações internacionais e coaching pessoal, “online communication” (websites, e-mail, intranet), treinamento para apresentações públicas e porta-voz serão as atividades de RP mais demandadas pelo mercado. O estudo também apresenta a monografia da Arthur Page Society –
Building Belief - que propõe um ponto de vista, uma hipótese sobre a comunicação empresarial para ser melhor explorada e refinada no futuro e descreve dois papéis importantes para o gestor da comunicação: 1º.
definição e ativação de caráter corporativo: “como somos é quem nós somos” – identidade única e a integração da reputação e da cultura da organização; 2º.
construção da cadeia institucional em larga escala: nunca antes a influência do boca-a-boca e do ponto-a-ponto esteve tão presente no dia-a-dia da sociedade. Bilhões de pessoas têm os meios para compartilhar suas experiências, opiniões e idéias – e organizar a ação – em escala. Estão gerando grande quantidade de informações sobre si mesmos que precisam ser gerenciadas.
O estudo analisa ainda como as empresas têm combatido os muitos desafios da mídia social incluindo como alinhar as atividades de comunicação em todos os continentes, e como a RSE é um 'modo de vida' em organizações bem sucedidas. Além disso, explora o papel crucial desempenhado por uma cultura empresarial aberta e transparente em alcançar metas e objetivos e em facilitar a mudança. A excelência em relações públicas requer mais do que sistemas, métodos e práticas. Parte de uma cultura aberta e transparente e uma abordagem clara onde o relações-públicas está integrado no processo de decisão da organização e realmente age como guardião da reputação.
Repetindo as palavras de Daniel Tisch, presidente da Global Alliance, "Quem já viu o futuro?” é tanto uma leitura atraente como uma pergunta provocativa. Encantou-me a maneira como o método apresentado conseguiu produzir um estudo aprofundado das funções do relações-públicas em um universo aparentemente pequeno, mas rico na oferta variada de possibilidades de ação. Uma contribuição inestimável para o setor da comunicação empresarial e para o relações-públicas.