Acredito que um dos grandes prazeres em ser professor é encontrar, entre uma aula e outra, pensamentos diversos e pontos de vista interessantes apresentados pelos alunos, que às vezes nos surpreendem pela forma diferente de ver determinadas questões.
Como professor da cadeira de Responsabilidade Social, trabalho muito com os alunos o pensamento crítico com relação a uma gestão sustentável das organizações e como as empresas podem e devem colaborar com o desenvolvimento de uma sociedade.
Dentro da ementa que apresento, uma parte é exatamente sobre as várias formas que as organizações podem intervir de maneira positiva em seu ambiente, partindo das conhecidas e pontuais ações filantrópicas até projetos realmente estruturantes de desenvolvimento social, cultural e ambiental no âmbito das comunidades.
Foi neste momento que, ao apresentar os modelos de incentivos fiscais para programas sociais e culturais no Brasil, como forma de integrar as empresas como agente financiamento na sociedade, um aluno levantou a seguinte questão:
- Professor. Tudo isto é muito interessante, mas quando a empresa patrocina alguma ação social, ambiental e cultural com recurso próprio, isto é problema dela, mas quando esta mesma empresa trabalha com incentivo fiscal, isto é também problema meu!
Esta observação levantou um ponto importante na discussão. Realmente quando as empresas trabalham com incentivos fiscais, a responsabilidade sobre este recurso dobra, pois em nenhum momento isto é um favor por parte da organização, mas uma transferência de responsabilidade, pois neste tipo de modalidade o governo transfere para uma organização privada a prerrogativa de definir onde vai ser alocado um recurso público.
Assim, programas ligados a incentivos fiscais são muito mais susceptíveis ao escrutínio da sociedade, pois este recurso deve ser muito bem empregado dentro do projeto ao qual foi proposto.
Programas de responsabilidade social das empresas por meio de incentivos fiscais não devem ser somente para definir e alocar um recurso público em determinado projeto, mas efetivamente promover uma gestão clara para que o patrocínio incentivado possa atingir o objetivo proposto.
Claro que os organismos governamentais possuem ferramentas de controle para avaliar a aplicação desses recursos, mas as empresas podem e devem complementar estas ações como forma de garantir o sucesso do projeto e a transparência na prestação de contas.
Realmente como afirmou o meu aluno, projetos com incentivos fiscais são um problema de todos e cabe a nós, profissionais das empresas tomadores desses recursos públicos, zelar pelo bom andamento dos projetos. Não só por questão profissional, mas também por cidadania.