O título acima pode ser agressivo e até soar prepotente, mas é apenas uma provocação sobre a nossa forma de muitas vezes ver o trabalho de relacionamento com as comunidades por parte das organizações.
Estamos vivendo em nosso país um avanço considerável no nível de investimento em todos os seguimentos da nossa economia e na área de infraestrutura isto não é diferente.
Muito se fala das grandes obras e nos benefícios diretamente ligados a elas, bem como, no interesse das comunidades em receber esses investimentos.
Mas muitas vezes, nós, como representantes das organizações e convictos dos resultados positivos das ações que vamos promover nas comunidades nos esquecemos de ver o outro lado deste mesmo processo que, além de desenvolvimento, gera impacto e até certo incomodo considerável.
Falo isto, pois, apesar dos relatórios de impacto ambiental nortearem os projetos de infraestrutura no país e regulamentarem, até com muita propriedade, a proteção e garantia da qualidade de vida de vários bichos, pouco se encontra nestes documentos, de maneira clara e direta, como fica o bicho homem neste processo.
Claro que investimentos, sejam eles em grandes centros ou nos rincões deste país promovem o desenvolvimento, geram empregos e trazem um novo horizonte a muitas pessoas, que até pouco tempo nada tinham para sonhar. No entanto, esses investimentos também trazem problemas e é ai que a área de relacionamento comunitário deve entrar no processo.
Toda empresa em seu relacionamento comunitário deve primar pela transparência nas relações, foi-se o tempo em que um jogo de camisa de futebol, uma cesta básica ou um churrasquinho no final de semana resolviam para apaziguar os ânimos em uma comunidade e garantir a política da boa vizinhança.
Hoje vivemos em um mundo conectado, onde todos conversam com todos e isto promove um ambiente mais concreto na geração de relações entre empresa e comunidades, mas também apresenta, possivelmente, um cenário mais conflituoso.
Assim, todo o programa de relacionamento comunitário deve ser pautado por um programa de responsabilidade social que traga vantagem para ambos os lados, pois como diz Michael Porter, um programa eficiente de responsabilidade social deve trazer benefícios para as comunidades e consequentemente resultados para os negócios. A empresa precisa das comunidades e as comunidades ganham com organizações responsáveis.
Assim, o relacionamento comunitário não deve ser pautado por ações paternalistas com foco em resultados no curto prazo ou de uma política burocrática de colar figurinhas em álbuns, apenas para atender condicionantes impostas por organismos governamentais de regulação.
Toda política de relacionamento comunitário deve ser pautada na escuta e negociação. Existe vida inteligente do outro lado do portão que deve ser tratada com tanto respeito quanto qualquer outro público de relacionamento da organização.
Hoje, poder de mobilização não falta. É só correr a internet para ver blogs, postagens em redes sociais e notícias que revelam políticas equivocadas de relacionamento em que fica claro que o resultado da ebulição de todo o problema foi menosprezar a inteligência de um líder comunitário, ativista, jornalista de um pequeno veículo regional, ou de um simples morador irritado porque uma obra em sua rua fechou o acesso de sua garagem.
É o dialogo associado ao respeito mútuo, integrado a programas efetivos de desenvolvimento comunitário e atrelado as estratégias de negócio das empresas que garantirão o sucesso de políticas de relacionamento comunitário numa sociedade conectada em rede.
Estamos vivendo só o começo de uma quebra de paradigma no relacionamento comunitário e as empresas que não estiverem preparadas poderão ter sérios prejuízos em sua carteira de investimentos. Prejuízo que poderia ser minimizado por um barato e simples veículo de comunicação, a boa e velha conversa.