Quando a construção da obra é a própria motivação
Assisti a um documentário sobre as atividades dos insetos. Em determinado momento o narrador explica que a construção de um ninho de vespas é a própria motivação das operárias. Todas trabalham concentradas, em ritmo do tipo “não parem, precisamos ir em frente”. Nas colônias de insetos não existe ninguém para dar ordens, dizer como o trabalho deve ser feito ou para inspecionar resultados e metas. Nada de gerentes ou diretores: cada um sabe qual é seu trabalho e o faz, geralmente, com acabamento esmerado e eficiente, afinal vespas, abelhas, cupins e formigas constroem seus ninhos há milhões de anos, tempo suficiente para aperfeiçoar o trabalho e seus processos.
O exemplo da construção da própria obra como motivação daquele que a constrói serve de metáfora para nossa vida pessoal e profissional. Quantos estão em um bom projeto ou em uma boa empresa e não percebem o bom momento que estão vivendo? Por isso, pergunte-se: “O que estou construindo nesta fase da minha vida: uma carreira, uma casa, uma empresa ou um patrimônio financeiro? Qual desses trabalhos me motiva mais?”
A história dos operários que trabalhavam com pedras e perguntados sobre o que faziam serve de ilustração. O primeiro respondeu secamente: “Não vê que estou quebrando pedras?”; o segundo, um pouco mais consciente, disse: “Estou construindo uma parede”; e o terceiro, ciente do propósito da sua missão e motivado pela razão da sua construção, esclareceu: “Estou construindo uma catedral.” Com certeza, o último, que sabia o motivo do seu trabalho, tinha mais disposição, energia e motivação. Do seu labor sairiam paredes retas e bem amarradas. Com certeza um forte candidato a mestre de obras.
A automotivação pode estar ancorada nas necessidades de status, poder, reconhecimento, acúmulo de dinheiro ou no simples fato de se construir a obra. Cabe ao líder descobrir qual a verdadeira motivação de cada um dos seus liderados e estimulá-los. Uma curiosidade: a palavra “estímulo” designava nos tempos antigos uma vareta de ferro com uma ponta fina que servia para o tocador empurrar os porcos pelas estradas. Uma cutucada no traseiro e o animal andava.
Trabalhos criativos e geradores de boas histórias são extremamente motivadores. Com certeza, ter trabalhado na Nasa na época áurea das conquistas espaciais e ter pertencido à equipe que enviou o homem à Lua foi motivante. Fazer parte do time do Barcelona nos dias atuais ou da Seleção Brasileira nas décadas de 60 e 70, idem. Hoje, trabalhar na Apple, no Facebook ou no Google é o sonho de todo jovem. São “empresas-obras” vencedoras ainda em construção. Será que “as melhores empresas para se trabalhar” são também “as melhores empresas em construção?”
Deve-se fazer com que os colaboradores percebam que o correr da obra, seja ela a montagem de um carro, a feitura de móveis modulares ou a criação de um sofisticado processo de informática, por si só, já é um estímulo permanente. Quando os lideres conseguem transmitir este estado de espírito aos seus subordinados as dificuldades serão menores e as batalhas vencidas com mais facilidade. O jogador só vence se o time dele vencer. Fazer o pessoal perceber que a construção contínua da empresa é a própria motivação, é a suprema meta dos comunicadores. O engajamento vai se tornar espontâneo porque todos almejam construir e pertencer a uma boa história.
A falta de motivação e envolvimento emocional, por parte de nós brasileiros, com a construção das obras preparatórias para a Copa do Mundo, é decorrente de não acreditarmos no sucesso da causa. Num país onde se rouba na merenda escolar e se falsificam medicamentos, acreditar, apoiar e se motivar com construções governamentais de grande porte é acreditar em contos de fada. Tais obras só motivam políticos e empreiteiros. Um exemplo é a construção do canal de transposição do rio São Francisco. Uma obra que já se apresenta abandonada e em processo de deterioração logo no início faz com que nem mesmo aqueles que pretensamente se beneficiariam com seu término acreditem e se motivem com a causa. Como dizia Hemingway, comece sempre a obra com uma frase verdadeira.
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