Lá vem nuestra onda."Bamos", para frente!
Um ambiente acolhedor e um líder que motiva fazem você ir muito mais longe. Até debaixo d'água.
O motivo que me levou a fazer inscrição na primeira aula de surfe, aos 42 anos, não foi dos mais nobres (começar o ano encarando o novo, por exemplo). Na verdade, foi um comentário assustador de meu filho, quando sugeri acompanhá-lo - de fato - dentro do mar: "mãe, não vai dar para você surfar porque é muito difícil, você já não tem mais idade e não cabe no long" (aquela roupa que surfista usa). Diante de um atestado desses, que me declarava velha, incapaz e obesa, tinha duas opções: ou me conformava com aquela sentença (de morte, praticamente) ou reagia o quanto antes. Não tive a menor dúvida. Dia seguinte, às 8h da manhã, lá estava eu com a cara, coragem e muita determinação para encarar meus medos, a água gelada, o desconhecido... e o tal uniforme de borracha.
Lingue, o dono da escola de surfe, e todos os instrutores me receberam muito bem. Em nenhum momento me senti um peixe fora d'água. Pelo contrário: o professor Pedro me deu as boas-vindas com a mesma empolgação que incentivou a outra iniciante, uma garotinha de 10 anos de idade, a se preparar para a primeira aula. Nosso desafio, logo de cara, foi vestir o já assombrado macacão, pesadelo da noite anterior. Mas depois de alguns minutos, puxa daqui, puxa dali, e lá estava eu, orgulhosíssima, dentro daquela borracha colante (sim, tamanho "G"), rumo às primeiras instruções. Aprendemos a remar e a subir na prancha. E apesar de ter sentido na pele o quanto estava fora de forma, não podia desistir justamente quando estava prestes a colocar em prática, no mar, toda a técnica exercitada na lagoa.
Ao acordar no outro dia, a sensação de que um caminhão (ou transatlântico) havia passado por cima de mim logo desapareceu. Ao ver meu nome, escrito com parafina, na prancha reservada para meu uso, achei o máximo. Que prestígio! Iniciativa do professor Jeronimo, o jovem instrutor argentino conhecido como Jero, que me acompanharia, a partir daquele momento, em todas as aulas da temporada - e que me surpreenderia com seu espírito de liderança. Mal sabia ele, mas aquele gesto exclusivo havia me enchido de motivação para encarar o que estava por vir. Cheguei a colocar, com muito mais rapidez, a já considerada íntima vestimenta. Em poucos minutos, estávamos prontos, carregando o pranchão para dentro d'água - que, diante de tamanha empolgação, nem percebi o quanto estava gelada.
Não demorou muito para ouvir a primeira instrução com sotaque castelhano: "Suba em la plancha, Malu. Lá vem nuestra onda. Comece a remar". E, de repente, veio o segundo comando: agora, "bamos", para frente, Malu! Jero deu o empurrão inicial e me colocou na onda. A partir de então, a bola (ou o surfe) estava comigo. Respirei fundo, coloquei as mãos ao lado do peito, pisei na prancha e por alguns segundos fiquei em pé. Antes do primeiro tombo, ouvi gritos de incentivo: "dá-lhe, dá-lhe"!! E a motivação só aumentava.
Quando eu acertava, Jero levantava os braços e comemorava; quando eu errava, ele me corrigia, mas sempre dizia, com sua pronúncia inconfundível: "No passa nada, bamos, para frente". Íamos estabelecendo metas cada vez mais ousadas. Até que, na última aula, meu carismático professor lançou o desafio de irmos para o fundo do mar. Aceitei na hora. E juntos passamos a arrebentação, superamos o cansaço e transformamos o que parecia impossível em um passado distante. Vibramos muito ao chegar na areia. Estávamos exaustos, mas radiantes. Principalmente eu, ao receber de meu filho, “colega” bem mais experiente, um inesquecível e revigorante abraço de aprovação.
Toda essa experiência me fez refletir o quanto um ambiente acolhedor e a motivação de um líder nos faz ir muito mais longe. Em terra, no mar ou até debaixo d'água: ter alguém ao seu lado apostando em você, que reme junto e realmente acredite que a onda não é só sua, mas dele também. Que elogie, estimule ("para frente"!) e comemore os pequenos avanços. Corrija os erros e ensine o melhor caminho. Cada um, claro, fazendo sua parte. Até que o aluno esteja preparado para seguir a onda - ou o rumo - com suas próprias pernas e braços, o empurrão do instrutor é super importante. Mas ficar em pé na prancha - ou enfrentar qualquer outro desafio - depende muito do aprendiz.
Aliás, fiquei tão empolgada que mudei minha rotina. Comecei a fazer aula de Pilates e a correr. Mudei a alimentação e o estilo de vida. Não só para surfar melhor e não morrer na praia, sem fôlego. Confesso que minha maior vitória, neste carnaval, será voltar às aulas de surfe, com meu filho, na expectativa de receber dele um atestado mais saudável, e pedir, sem cerimônias, a já saudosa e querida roupa de borracha. Só que, agora, no tão esperado tamanho "M".
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