Como chegar a um consenso entre quatro irmãos gaúchos?
Técnicas de negociação que podem ser úteis, sempre.
A missão do último feriado parecia fácil: definir o que seria feito na próxima etapa da reforma na casa da praia. Porém, a decisão deveria vir do consenso entre quatro irmãos: dois homens e duas mulheres, genuinamente gaúchos e, como tais, de personalidade forte e opiniões contundentes, muitas vezes contrárias (que vão da preferência política partidária à escolha da carne para o próximo churrasco). E nessa casa de veraneio, todos têm a mesma “participação acionária”. O desafio, portanto, era chegar a um acordo sobre quais melhorias deveriam ser prioritárias, e feitas ainda para as festas do final de ano, e quais deveriam esperar, tanto por falta de tempo quanto por falta de dinheiro.
Para tornar ainda mais difícil a decisão, por uma questão de economia e de aproveitamento da estrutura já existente, os quartos reformados não ficaram igualmente confortáveis. Cada um trouxe prós e contras: o do andar de cima tem visual privilegiado, mas não é uma suíte; a antiga copa tornou-se o quarto mais arejado, mas é o menor; já a ex-cozinha virou o quarto mais bem iluminado, porém sem ventilação no banheiro; e o quarto dos fundos, que já foi uma sala de estar, é o maior de todos, mas ficou conhecido como a “caverninha”, pois tem o pé-direito mais baixo. E bem em cima dele fica o espaço das crianças...
Na condição de cunhada, em que às vezes é melhor ouvir mais e falar menos, fiquei observando os preparativos para a reunião em família. Os irmãos com as mesmas preferências na reforma rapidamente tornaram-se aliados, definindo argumentos consistentes de “defesa” e analisando minuciosamente o perfil de cada um: para cada possível reação contrária, havia uma estratégia de neutralizar divergências e colocar o outro a favor de suas ideias.
Quando, finalmente, a roda da conversa começou, regada a muito “tchê” e chimarrão, fiquei surpresa com o que vi: muito jogo de cintura, argumentação consistente e várias técnicas de negociação colocadas em prática: a de “competição”, mais persuasiva e objetiva; a de “conciliação”, em que se avalia prós e contras e é sugerido um acordo; a de “colaboração”, em que são reconhecidas as diferenças, procurando consenso com qualidade; e também alguns momentos de “concessão”, quando o voto é finalmente vencido ou passa a ser uma "moeda de troca". Cheguei a me sentir em plena reunião de orçamento, defendendo projetos, iniciativas e novos investimentos.
Pensando bem, o que é a vida se não uma eterna negociação? Seja com os amigos, com a família, com o chefe e colegas de trabalho: do ambiente mais político ao mais acolhedor. Ora você tem que ceder, ora questionar..., conciliar, evitar ou adiar uma discussão. O desafio é ter consistência, inteligência emocional e saber usar com habilidade e equilíbrio as técnicas de negociação no momento certo - lembrando que a diversidade de idéias será sempre saudável se todos tiverem espírito construtivo e um objetivo final comum. Assim como foi na reunião entre os quatro irmãos que queriam, antes de tudo, fortalecer o ponto de encontro da família nas férias, com a reforma na casa da praia.
Falando nisso, adorei ter ficado com o quarto “caverninha”. Depois, é claro, de ter negociado uma porta-janela que se abre para o deck da varanda e um forro acústico no teto, para amenizar o barulho que certamente virá da gurizada do andar de cima.
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