O impacto das inovações tecnológicas na comunicação
Há algum tempo, o mundo da comunicação tem estado agitado por causa do impacto das redes sociais nas empresas e pelo modo como as organizações se comunicam com a sociedade. No entanto, se traçarmos uma perspectiva histórica, veremos que os novos meios de comunicação e as novas tecnologias sempre influenciaram e modificaram nossa atividade profissional, além do que desempenhamos em comunicações, relações públicas, publicidade ou marketing.
Vejamos alguns marcos:
- As comunicações nascem e ganham impulso com a Revolução Industrial, mas a alfabetização maciça do final do século XIX e as novas tecnologias de impressão massificam a leitura de jornais. Os pais das relações públicas, como Ivy Lee e Edward Bernays, focaram seus primeiros esforços nos jornais e, pouco depois, no rádio.
- A popularização do rádio, entre 1920 e 1940, gerou enormes desafios e oportunidades para os comunicadores. Os grandes acontecimentos eram relatados pelos comentaristas, chegando a um público maciço, muitas vezes analfabeto. Os produtos de consumo em massa tiveram a oportunidade de se destacar como nunca antes haviam conseguido.
- O surgimento da TV, nos anos 40, impulsionou ainda mais a comunicação dos produtos de consumo em massa, graças à publicidade. O fator imagem permitiu não só relatar os acontecimentos, como também mostrá-los. Também nessa época, nascem as primeiras grandes consultorias de relações públicas dos Estados Unidos.
- Nos anos 70, a tecnologia aplica um golpe nos publicitários, mas muito bom para as relações públicas: chega a TV por satélite e a cabo, e se amplia o controle remoto (e, com isso, o zapping). O público tem muito mais opções para assistir e passa a poder mudar de canal com um clique, se não estiver interessado no que está passando no momento. Para as relações públicas, é aberta a oportunidade de “criar acontecimentos” que chamem a atenção da imprensa e dos consumidores.
- Em 1993, nasce a web e, em 2004, a web 2.0, gerando as plataformas que tornam possíveis as redes sociais que, por sua vez, roubam maciçamente leitores dos jornais e telespectadores da TV. “O que tudo isso significa?”, perguntaram-se marqueteiros e publicitários do mundo todo. “Conversação”, um mundo onde os comunicadores se movem como peixes na água.
Como acabei de mostrar, cada inovação tecnológica de envergadura impactou a comunicação das organizações. Hoje em dia, as empresas divulgam seus produtos nas redes sociais, os políticos fazem campanha pelo Twitter e até os “manifestantes” se organizam pelo Facebook. Esse é o destino final para o mundo da comunicação? Não necessariamente. Eu diria que é um novo começo, que no futuro poderá ser afetado pelo impacto de novas tecnologias.
Examinemos algumas das coisas que estão acontecendo neste momento:
- Redes: desde a utilização da primeira rede celular, em 1984, até as modernas LTE (4G) na atualidade, passaram-se 28 anos em que o mundo estendeu a conectividade por toda a parte. Adicionalmente, a extensão maciça de redes Wi-Fi em lugares públicos eliminou os gastos de conexão para bilhões de pessoas.
- Cidades hiperconectadas: há poucos anos essas tecnologias começaram a chegar a todos os setores da ação municipal, da administração pública aos hospitais, das escolas à segurança pública. E até se instalaram redes gratuitas. Nunca foi tão fácil conectar-se onde quer que seja. E, além disso, os governos agregam milhares de dispositivos de comunicações.
- A revolução celular: mais de 4 bilhões de telefones no mundo dão exemplo de um dos fenômenos tecnológicos mais impactantes de nossos tempos. A revolução atual é a dos smartphones, na qual a imagem e o som se unem com o acesso à internet onde e quando for necessário. E, com isso, mais aplicações, mais dados, mais conteúdo.
- Mobilidade empresarial: tablets e smartphones empresariais, redes por todos os lados, equipamentos inteligentes. A revolução acontece não só em governos e entre os consumidores, mas também nas empresas. Tudo se digitaliza e conecta-se à internet.
- Web 2.0: no mundo das aplicações, a mobilidade e as redes sociais se unem no mundo do 2.0, gerando novas regras de jogo o tempo todo. Em menos de dez anos, mudamos radicalmente o modo como nos comunicamos.
O que tudo isso tem a ver conosco? Estamos presenciando o nascimento de um mundo hiperconectado, tanto em tempo real quanto geograficamente. E isso está mudando radicalmente o mundo das comunicações. Um dispositivo móvel + uma rede sem fio + uma opinião fizeram nascer o repórter cidadão: cada cidadão é um repórter em potencial, porém com códigos absolutamente pessoais. Hoje o poder está na pessoa, que opina, testemunha, traz imagens em tempo real, informa e finalmente cria opinião. O homem comum se transformou em um grande criador de conteúdo, que compete com os meios tradicionais. É o estilo da cultura 2.0. As pessoas tendem a confiar mais na opinião de seus semelhantes, baseados em sua experiência pessoal, mesmo que sejam desconhecidos. Alteram o papel central dos líderes de opinião pública e das celebridades. Neste contexto, destaca-se a comunicação P2P (par a par).
Também estamos vivendo uma “mediamorfose”, em que os meios adaptam suas formas, esquemas comerciais e concepção tradicional às novas possibilidades da web 2.0. O surgimento de novos formatos jornalísticos e do jornalismo 2.0, no qual o público é o protagonista, prediz uma nova época de desafios para os comunicadores.
O novo cenário obriga a mudar a educação e o perfil dos novos profissionais de comunicação. Passamos das relações públicas puras ao estrategista, na década de 90, e ao expert em redes sociais, na atualidade. Poderia ser até um paradoxo de excelentes estratégias da comunicação, que apenas saem do escritório, versus o paradigma anterior do homem com centenas de contatos pessoais. O novo profissional deve sobressair pela sua visão estratégica integral no manejo da comunicação, por seus conhecimentos de tecnologia e redes sociais, sua criatividade, bom julgamento e abertura mental para adaptar-se às inovações tecnológicas. Os novos profissionais devem estar sempre alertas e conectados à rede, e não somente a linhas telefônicas.
Caem velhos paradigmas da comunicação corporativa. Antes bastava convidar para almoçar 20 editores por mês para ter “tudo sob controle”. Agora acabou o controle absoluto: a única certeza é a incerteza. Os riscos são permanentes, porque passamos de um estado de alerta em relação a alguns poucos meios ao alerta permanente em relação a milhões de consumidores e ativistas.
As marcas passaram de símbolos distantes a elementos cotidianos que aparecem em conversas nas redes sociais, assim como em canções e artigos. As marcas se humanizaram ao se aproximar das pessoas. As empresas ainda estão experimentando com sorte variável sua presença na rede e seu lugar perante as novas tecnologias. Mas ainda há muito para aprender, porque isso está apenas começando.
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