Muitas vezes perseguimos objetivos errados porque, desde o início, não soubemos questionar de forma correta o real motivo daquilo que pretendemos. Ao chegar aonde desejávamos, sentimos a decepção de perceber que não era nada daquilo que queríamos. Partir de pressupostos falsos é o pior caminho para tentar resolver problemas.
Vamos a um exemplo. Alguém diz:
- Preciso ganhar mais dinheiro.
- Por que você quer ganhar mais dinheiro?
- Para fazer projetos interessantes.
- Então, não é ganhar dinheiro que você quer, é fazer projetos interessantes?
- Isso mesmo.
- E por que você quer fazer projetos interessantes?
- Para ajudar pessoas.
- Então não é ganhar dinheiro, nem fazer projetos interessantes, o que você quer é ajudar pessoas?
- É isso mesmo...
E assim por diante...
A técnica é ir fazendo perguntas em cima de perguntas até chegar ao cerne da questão. Como nossa tendência é ir direto para a primeira, àquela que parece ajudar com mais facilidade os caminhos da solução, só perceberemos o erro lá na frente e, aí, é tarde. Perdemos tempo, dinheiro e energia, e ficamos chateados com os resultados finais. Erro de predição é quando conseguimos o que queremos, mas com decepção ao atingir o objetivo.
Quando partimos de uma indagação errada, sem questioná-la, perdemos a chance de corrigi-la logo no início, por isso a necessidade de continuar perguntando sempre. Ir testando uma a uma, até deixar limpo o conceito que se procura. Ninguém é obrigado a elaborar a questão certa logo no início do processo; serão necessárias várias perguntas até chegarmos ao âmago do assunto. Nesse ponto, marqueteiros e cientistas fazem trabalhos muito parecidos - fazer marketing é estar no ramo das perguntas e não no das respostas.
Ao nos confrontarmos com um desejo ou desafio a ser solucionado, mas ficarmos apenas na primeira proposta, entramos com facilidade nos caminhos do autoengano. Um erro vai alimentar o outro até o desagradável desfecho final. René Descartes ensinava que, ao confrontarmos um desafio, deveríamos questionar: “isso é realmente um problema? Se for, vamos analisá-lo a fundo e dividi-lo em diferentes pequenos problemas.” Einstein completou: “se me dessem o desafio de salvar o planeta em uma hora, eu gastaria 59 minutos definindo o problema real pelas perguntas certas, e um minuto solucionando-o.” É melhor gastar mais tempo nos questionamentos do que nas respostas.
E, atenção, para resolver problemas complexos só com a lógica não dá - o mundo dos humanos não é tão racional quanto parece; ele é desordenado, incompleto e ambíguo. A lógica tradicional nos ensina a lidar com “sins” e “nãos”, ao passo que problemas fundamentais normalmente estão ligados aos caminhos da emoção e do sentimento, e as palavras desse universo são “talvez” e “pode ser”. Daí a necessidade de aliar sentimentos profundos com clareza de raciocínio para elaborarmos as questões certas. Ouvir a voz interior é o melhor remédio - não nos damos conta de que sabemos muito mais coisas do que conseguimos explicar. Cálculos e raciocínios exatos podem nos ajudar a elaborar as perguntas e buscar soluções, não por causa das suas lógicas, mas porque nos ajudam a transferir decisões e anseios inconscientes para o nível da consciência.
O indivíduo criativo é curioso e perguntador, e não tem medo de se expor com perguntas idiotas e impertinentes. Ele sabe que no excesso de questionamentos é que aparecerão aqueles que abrem os caminhos das soluções. Mas, atenção, determinadas perguntas são tão poderosas que podem criar constrangimentos, pois induzem a um pensar mais profundo sobre o assunto e nem sempre as pessoas querem saber de “verdades.” Nessas ocasiões é preciso habilidade de estadista para elaborar sofisticadas argumentações de modo que o outro não se sinta ofendido com o questionamento feito. Nem todo mundo entende o velho bordão humorístico “perguntar não ofende”.