"Você é seu Porta-Voz na Web"
Esta pérola que ouvi no Congresso da Mega Brasil 2011, no final de maio, me chamou a atenção. Nós, relações públicas, realizamos treinamentos para porta-vozes se apresentarem frente a seus públicos. O foco está em preparar o executivo para se expor em reuniões, palestras, conferências, entrevistas e coletivas de imprensa, audiências públicas e CPIs, seja em momentos positivos ou de conflito.
Para os ambientes comemorativos, uma parafernália de instrumentos digitais ajuda a apoiar a fala. Mas quando um “amigo da onça” faz um questionamento que não está no script, se o executivo não está preparado para responder, todo o esforço vai por água abaixo. Mas se a lição de casa foi feita - um bom aquecimento com perguntas e respostas prováveis - ele adquire o controle e volta a dominar o ambiente. Muitas vezes, quando surge a proposta de treinar executivos, ouvimos respostas de nossos pares nos clientes do tipo “não precisa, os números estão ótimos” ou “o produto é bom mesmo, inédito”, ou então “deixa pra lá, ele é preparado”. Se a pergunta é mal respondida, o investimento destinado a construir a imagem da organização que ele representa se perde. Por isso, eu insisto na palavra “treinamento” que para muitos parece ser uma ofensa propor.
Quando comecei minha carreira, achava mais fácil falar com a imprensa, mesmo sendo jornalista de ocasião, do que enfrentar grandes plateias. Então descobri que treinar executivos com jornalistas tornava a tarefa mais completa, acabada. Os jornalistas assumem ser os “vigilantes” da sociedade. Podem ser agressivos, arrogantes, conciliadores e investigativos. Nos treinamentos que contêm exercícios simulados como uma coletiva de imprensa, uma entrevista por rádio ou um post em algum blog, Twitter ou Facebook, os jornalistas fazem as perguntas mais “quentes”. Eles detêm um banco de informações de verdadeiros elefantes. Suas perguntas instigantes deixam os treinandos mais alertas. As reações não corretas chamam logo a atenção e são analisadas e ensaiadas. Além disso, um jornalista que está nos holofotes por algum brilhante trabalho, aporta credibilidade e excelente apoio ao exercício. E os executivos se sentem mais confiantes. Por isso, eles são indispensáveis nos treinamentos. Quem passa por eles, passa por qualquer plateia.
Mas, voltando à pérola, me pergunto se os executivos estão prontos para assumir esta tarefa no mundo digital e virtual, “on line” e “on time”. Já participei de muitos “chats”, grupos por MSN, conferências pelo Skype e outras, além de troca de mensagens por Facebook, Twitter e tudo o mais. Tenho notado que ser porta-voz de si mesmo requer treinamento, além do domínio do conteúdo. Acima de tudo, controle, agilidade e concisão. Já ouvi, vi e li muitos porta-vozes tarimbados que se saíram mal nas suas reações e exposições na Internet e viraram chacota nos YouTubes da vida ou outras mídias sociais mais acessadas.
Deduzo que devemos incluir o exercício “ser porta-voz de si mesmo” nos treinamentos atuais, simulando ocasiões especiais, saias justas e comportamentos “antigafe”. O termo simular é justo: aprendi nas grandes corporações quando se simulam de grandes crises até “brigadas de incêndio”. Não podemos esquecer que o “porta-voz de si mesmo”, querendo ou não, representa um setor, ou uma organização ou um grupo onde atua. Não se trata de engessar reações, mas se comunicar de forma adequada para não se arrepender depois. Há um ditado popular que diz que o povo não tem memória. Mas aqui estamos falando de memórias que são medidas em bytes e que são registradas e acessadas em segundos. Com um click “ressuscitam” a informação relevante negativa ou positiva e aí vem a colocação inusitada, fora do contexto.
Pesquisas têm demonstrado que cada vez mais os jornalistas estão utilizando as mídias sociais para apurar suas pautas. O que está registrado nas mídias sociais é informação pública. “Não sei se o Twitter torna você burro, mas ele faz algumas pessoas inteligentes parecerem burras”, diz Bill Keller, jornalista do New York Times em artigo de 3 de junho publicado pelo O Globo, intitulado “A armadilha do Twitter”. E nós, profissionais da imagem, não podemos permitir que os porta-vozes passem esse recibo. Temos que prepará-los também para serem porta-vozes de si mesmos.
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