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COLUNAS


Luiz Fernando Brandão


Jornalista e tradutor, é diretor da in futuro, consultoria de comunicação que valoriza a transparência, a prestação de contas e o engajamento genuíno dos públicos estratégicos como vetores de transformação no ambiente dos negócios. Com 40 anos de experiência profissional, especializou-se na gestão da narrativa empresarial no contexto da sustentabilidade. É membro do conselho deliberativo e professor do programa de MBA da Aberje.

Relatórios de sustentabilidade: é hora da divulgação integrada

              Publicado em 02/05/2011

Artigo de Michael Kruz, traduzido por Luiz Fernando Brandão. Kruz é co-autor, com Robert Eccles, de Relatório Único - divulgação integrada para uma estratégia sustentável, traduzido do inglês por Brandão e Cristina Duarte.

O processo decisório no mundo dos negócios no século 21 deve refletir o vínculo indissociável entre as questões econômicas, de governança, ambientais e sociais. A combinação dessas forças desafia as empresas a criar valor não somente para seus acionistas, mas também para a sociedade. O sucesso, portanto, está reservado às empresas que aprenderem a equilibrar o imperativo da sobrevivência no longo prazo, tanto para a própria companhia como para o mundo de que ela depende para criar valor econômico, com as demandas de competitividade e lucratividade no curto prazo.

Uma nova prática na divulgação de resultados está surgindo para ajudar as empresas a vencer esse desafio. A divulgação integrada de resultados financeiros e de sustentabilidade, que é adotada pela Natura Cosméticos e pela Fibria Celulose S.A, permite às partes interessadas avaliar melhor a capacidade das empresas de criar valor no longo prazo. A divulgação integrada é compulsória para as empresas negociadas em bolsas de valores na África do Sul, e em 2012 empresas de capital aberto e privadas com mais de 500 empregados serão obrigadas a fazê-lo na França. Além disso, empresas no Canadá, Dinamarca, Japão, Alemanha, Holanda, Reino Unido e nos Estados Unidos estão voluntariamente publicando relatórios integrados. O uso crescente do termo “divulgação integrada” é uma faca de dois gumes.  O termo descreve com precisão um conceito essencial — a integração de um relatório anual tradicional com um relatório de sustentabilidade em um único documento. Porém, as palavras “divulgação integrada” não conseguem em absoluto transmitir a realidade de que uma estratégia sustentável é fundamental para que a empresa consiga publicar um relatório que explique as relações entre seu desempenho financeiro e de sustentabilidade. As empresas operam em um mundo multidimensional, constituído da economia global, do meio ambiente, e da sociedade da qual os negócios dependem para criar valor.  A divulgação de seu desempenho e, ainda mais importante, de suas estratégias e processos decisórios, tem de refletir essa realidade. 

Um estudo recente da MIT Sloan Management Review e do The Boston Consulting Group revela que, embora a sustentabilidade e a divulgação integrada de resultados não sejam obrigatórias, muitas empresas reconhecem as conexões entre fatores econômicos, ambientais e sociais. O relatório, intitulado Sustentabilidade: quem abraça ganha vantagem, publicado em 2011, afirma:

“Embora a pesquisa revelasse que a maioria das companhias considera que a sustentabilidade pode vir a se tornar 'essencial', o mais interessante é a revelação de que uma ala dos negócios — a das empresas que abraçaram a causa — já está atuando como se ela fosse de fato essencial. Ao passo que as que adotaram o conceito com ressalvas vejam a sustentabilidade nos negócios em termos de gestão de riscos e de ganhos de eficiência, as empresas que abraçaram a causa consideram que a maior parte dos dividendos de uma gestão orientada para a sustentabilidade vem de vantagens intangíveis, melhoria de processos, capacidade de inovação e, sobretudo, de oportunidades de crescimento. E as que abraçaram a causa, de acordo com o estudo, são as mais bem sucedidas nos negócios.”

Há muitas razões pelas quais uma empresa deva aderir à divulgação integrada e ao desenvolvimento de estratégias de negócios sustentáveis. Um relatório de 2010 da Accenture, Driving Value from Integrated Sustainability: High Performance Lessons from the Leaders , mostra que as companhias que adotaram estratégias e práticas de negócios sustentáveis criam valor por meio de:

1) Aumento da receita — Por exemplo, o Portfolio Ambiental da Siemens AG descreve como as soluções para economia de energia beneficiam os clientes, as futuras gerações e a própria companhia. No exercício de 2010, o Portfolio Ambiental da Siemens gerou receitas de cerca de 28 bilhões de euros.

2) Redução de custos — Publicado em abril de 2010, o relatório Novo Nordisk Blueprint for change: the climate change challenge mostrou que, entre  2004 e 2009, “200 projetos de redução de consumo de energia foram implantados em instalações industriais da companhia em diversas partes do mundo, resultando em uma redução de 10% no consumo de energia, correspondente a uma economia de US$ 24 milhões.

3) Gestão de risco mais eficaz — As empresas que já iniciaram sua jornada rumo à divulgação integrada de resultados antecipando-se a exigências regulatórias terão uma sólida plataforma sobre a qual poderão atender novas demandas sociais ou ambientais ou mesmo de divulgação integrada de informações. Além disso, a divulgação integrada requer um processo consistente de engajamento com as partes interessadas, o qual assegura que a estratégia da empresa esteja em sintonia com as necessidades e expectativas da sociedade, em permanente transformação. 

4) Ganhos de reputação e imagem — As tecnologias e ferramentas da Internet e da Web 2.0 (como as plataformas de mídia social, fóruns de discussão, blogs e podcasts) possibilitam migrar de um fluxo unidirecional de informação para um diálogo permanente entre a empresa e todas as suas partes interessadas.  Isso ajuda a alcançar um engajamento consistente, incluindo conteúdos, comentários e sugestões gerados pelos próprios usuários. À medida que a administração desenvolve esse tipo de engajamento, os acionistas irão adquirir uma perspectiva mais holística da empresa, e entender que a capacidade da organização de gerar lucros no longo prazo irá requerer investimentos que implicam custos no curto prazo. No sentido inverso, ONGs e outras partes interessadas entenderão que as empresas precisam de lucro para sobreviver e crescer, e assim ajudarão a viabilizar iniciativas de negócios responsáveis.

Um arcabouço, ou modelo de estrutura, para informações não-financeiras torna-se necessário para acelerar a ampla adoção da divulgação integrada de resultados. O desafio de desenvolver e promover um modelo de estrutura geralmente aceito para a divulgação integrada foi abraçado pelo International Integrated Reporting Committee (IIRC). No enunciado de sua missão, esta diversificada organização global explica que o IIRC inclui “líderes do setor empresarial, de investimentos, contabilidade, valores mobiliários, regulatórios, acadêmicos e formuladores de normas assim como da sociedade civil.” Roberto Pedote, Vice-Presidente Senior de Finanças, Jurídico e Tecnologia da Informação da Natura Cosméticos, e o Professor Nelson Carvalho, da Universidade de São Paulo e Chairman da 25ª Sessão do ISAR da UNCTAD, são membros do Comitê Gestor do IIRC.


Michael P. Krzus é sócio da Grant Thornton LLP e uma das maiores autoridades mundiais na divulgação integrada de resultados. Ele é co-autor, com Robert G. Eccles, Professor de Prática de Gestão da Harvard Business School, do primeiro livro sobre o tema, "Relatório Único,:divulgação integrada para uma estratégia sustentável" (Editora Saint Paul). Atualmente, trabalha com o secretariado do IIRC e com a equipe de desenvolvimento da versão G4 da Global Reporting Initiative (GRI).


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