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COLUNAS


Eloi Zanetti
eloi@eloizanetti.com.br

Foi diretor de comunicação do Bamerindus e de marketing de O Boticário. Consultor e palestrante em marketing, comunicação corporativa e vendas. Publicitário premiado nacional e internacionalmente. Ambientalista, um dos idealizadores da Fundação O Boticário, conselheiro da SPVS e da TNC. Autor de vários livros – vendas, marketing e infantis com edições no Brasil e países hispânicos.

Imaginação, criatividade e inovação

              Publicado em 02/08/2013

De vez em quando, algumas palavras entram no vocabulário corporativo, ganham força e correm à boca solta. É o caso de expressões como paradigma, escopo e sustentabilidade. Algumas, genéricas demais para dar precisão sobre os seus significados, são muito faladas e pouco compreendidas.


Nos últimos tempos, entrou em voga o termo “inovação”, assunto obrigatório em publicações de negócios, palestras e planos de governo. E como tudo que vira moda traz consigo várias paternidades, a definição correta do conceito, apesar do termo existir desde que o mundo é mundo, ainda é imprecisa. Cada autor que lida com o assunto dá um significado.
 
Muitas vezes, a melhor maneira de entender uma palavra é ir direto ao seu contexto e procurar a correlação e os significados entre outras do mesmo universo. Unidas, uma ajuda a compreender a função da outra.
 
Vamos lá: não existe inovação sem que primeiro se passe pelo processo da criatividade e a este precede a imaginação. Por exemplo, a inovação é um atributo da empresa, ela acontece quando se impõem processos e sistemas. Para inovar a empresa, é preciso perguntar-se: “Temos dinheiro para fazer isto? Quem serão os parceiros estratégicos? Foram feitos estudos de mercado e planos de negócio?” Já a criatividade é atributo pessoal do funcionário. Ele tanto pode oferecer boas ideias trabalhando sozinho quanto em equipe, por meio de brainstorming. O grande erro da empresa é tentar colocar o processo criativo numa formatação, enquadrando-o em métodos e procedimentos organizados.
 
Criatividade é assim: quanto mais desorganizada, melhor. Ela nunca marcará hora ou lugar para se apresentar. Prefere aparecer como uma erva daninha, bela e saudável, em um jardim bem cuidado. Estigmatizá-la ou arrancá-la pode não ser uma boa ideia. Por isso, se você quiser inovação, estimule a criatividade.
 
A inovação acontece em três passos. Vimos o segundo; agora vamos ao primeiro, que é a imaginação, pois sem ela não há criatividade, nem inovação. É a fase do sonhar acordado, flanar, deixar-se levar pelos pensamentos e ficar à toa remoendo ideias. É o tempo de desligar-se de tudo, da televisão, dos computadores, das conversas e ir aonde a nossa cabeça mandar. De todas as fases, a imaginação, na minha opinião, é a mais importante e a mais prejudicada pelo nosso sistema hodierno de viver. Estamos tão conectados, ligados a coisas desnecessárias e policiados pela família, empresa e vizinhos que ficar sem fazer nada pode parecer crime. A imaginação precisa de tempo e de amplo espaço em nossa cabeça. Deve ser por isso que Einstein, um cara que sabia das coisas, disse, mostrando a língua: “A imaginação é mais importante do que o conhecimento.”
 
Vamos a um exemplo prático: nos últimos anos a maioria dos aviões tem saído com um novo componente aerodinâmico – uma aba vertical ou inclinada na ponta da asa, o winglet. A peça tem a função de diminuir barulhos, trepidações e aumentar a sustentação. Também melhora a eficiência do voo, aumentando a velocidade e a economia de combustível.
 
Muitos podem pensar que essa inovação foi criada em sofisticados laboratórios de pesquisa. Na sua fase final, sim, mas antes ela passou pelo processo da imaginação. Seu inventor gostava de observar o voo dos pássaros e eles usam do artifício de curvar as pontas das asas para planar melhor. Ora, o avião existe há quase cem anos e só agora essa inovação apareceu? É que alguém se deu ao trabalho, em completo estado de imaginação, de ficar observando urubus voarem.
Platão dizia que “as palavras dizem o que são”. Mas em alguns casos precisamos de um esforço extra para entendê-las melhor. Já está na hora de colocar nos programas das escolas de negócios o assunto “compreensão das palavras do mundo corporativo”. Os jovens estão falando coisas que não sabem o que significam, ou estou enganado e quem não está entendendo nada sou eu?

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