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COLUNAS


Jorge Cury Neto
jorgecuryneto@gmail.com

Graduado em Comunicação Social, com habilitação em jornalismo pela PUC-PR, desde 1972 atua no jornalismo de rádio e televisão, nas funções de repórter, apresentador, produtor e narrador esportivo.

Em 1996 fundou a Central de Radiojornalismo, incorporada a Webcombrasil em 2008, onde dirige um núcleo de pesquisa e estudo dedicado a comunicação oral que deu origem a formulação de uma nova área da comunicação, intitulada de voice design.

Em setembro de 2013, durante o 19º Congresso Internacional de Educação a Distância, realizado em Salvador, apresentou de um trabalho científico sobre voice design, aprovado pela comissão de análise e avaliação da ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância.

Jorge Cury Neto é presidente do Voice Design Institute, que oferece palestras, workshops e cursos presenciais e on-line, além de consultoria. 

Voice design: ouvir é uma habilidade rara, raríssima

              Publicado em 31/01/2013
Em nossa pesquisa e estudo sobre voice design, constatamos que, infelizmente, a grande maioria das pessoas não se prepara para se comunicar e o resultado dá nisso que estamos facilmente verificando, uma crescente “descomunicação” jamais vivenciada na humanidade, apesar do inimaginável progresso da tecnologia digital.
 
Estamos avançando, é verdade, nas mais diversas possibilidades de relacionamentos virtuais, mas estamos deixando de usufruir do valor do diálogo, da conversa, do poder da palavra falada e ouvida, na nossa essência humana.
 
Com isso estamos abrindo mão de uma das mais fundamentais características da nossa humanidade que é a habilidade, a arte, de ouvir. Raras são as pessoas que se dispõem a ouvir exatamente o que a outra está transmitindo.
 
Um dos maiores desafios de comunicação é como o receptor ouve o que o emissor falou, já que a mesma frase permite diferentes níveis de entendimento. Diante deste diagnóstico, podemos identificar que o receptor não ouve o que o outro fala por diversas razões e por isso, vamos enumerar na sequencia, normalmente ele ouve:
 
a) o que o outro não está dizendo;
 
b) o que quer ouvir;
 
c) o que já escutara antes e coloca o que o outro está falando naquilo que se acostumou a ouvir;
 
d) o que imagina que o outro ia falar, quase que só pensando para dizer em seguida;
 
e) o que gostaria ou de ouvir ou que o outro dissesse;
 
f) o que está sentindo;
 
g) o que já pensava a respeito daquilo que o outro está falando, retirando da fala deste apenas as partes que tenham a ver com ela e a sensibilizem;
 
h) o que confirme ou discorde o seu próprio pensamento;
 
i) o que possa se adaptar ao sentimento de amor, raiva ou ódio que já sentia pela outra pessoa;
 
j) ela ouve da fala dela apenas aqueles pontos que possam fazer sentido para as ideias e pontos de vista que no momento a estejam influenciando ou tocando mais diretamente;
 
l) se defendem de ouvir o que as outras estão dizendo, por ficarem apavoradas, mesmo que inconscientemente, de se confundirem a si mesmas;
 
m) há pessoas que escolhem não ouvir o que o outro está dizendo, porque assim livram-se de corrigirem os seus pontos de vista, da aceitação de uma realidade diversa da sua, de verdades que não conseguem contestar;
 
n) outros se recusam ouvir o outro, mesmo percebendo, intuindo que o que está sendo dito. Faz todo o sentido, para não se sentirem ignorantes do conhecimento transmitido, ou diminuídas diante do seu interlocutor;
 
Esses pontos mostram como é raro e difícil conversar. Como é raro e difícil se comunicar!
 
O que ocorre normalmente são monólogos simultâneos como se estivesse conversando, ou são monólogos paralelos, como que estivesse dialogando.
 
O próprio diálogo pode haver sem que, necessariamente, haja comunicação. Pode haver até um conhecimento a dois sem que necessariamente haja comunicação.
 
A comunicação ocorre somente e tão somente quando dois indivíduos verdadeiramente ouvem-se, buscarem compreender em sua extensão e profundidade o que o outro está exatamente dizendo.
 
Como afirma a professora, psicóloga e psicanalista Viviane Mosé, “a palavra em si mesma não é nada, o que vale é o acordo que estabelecemos para nos comunicar”.
 
Para ouvir, é indispensável eliminar da mente todos os ruídos e interferências do próprio pensamento durante a fala do interlocutor.
 
Ouvir implica uma entrega ao outro, uma diluição nele. Daí a dificuldade de as pessoas inteligentes efetivamente ouvirem. A sua inteligência em funcionamento permanente, o seu hábito de pensar, avaliar, julgar e analisar tudo interferem como um ruído na plena recepção daquilo que o outro está falando.
 
Sabedoria, sim, é a característica própria e reveladora de um bom ouvinte.
 
Desafia de abrir-se para seu mundo interior; de um impulso na direção do próximo, do interlocutor, de uma comunhão com ele, de aceitá-lo, como é e como pensa.
 
Depois que a pessoa aprende a ouvir ela passa a fazer descobertas incríveis escondidas em tudo aquilo que os outros estão falando.
 
Um novo mundo de possibilidades se descortina com a aquisição da arte de ouvir.
 
É o caminho seguro do poder que a palavra falada tem na vida da gente.
 
Ouvir é raridade. Ouvir é ato autentico de sabedoria

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