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COLUNAS


Eloi Zanetti
eloi@eloizanetti.com.br

Foi diretor de comunicação do Bamerindus e de marketing de O Boticário. Consultor e palestrante em marketing, comunicação corporativa e vendas. Publicitário premiado nacional e internacionalmente. Ambientalista, um dos idealizadores da Fundação O Boticário, conselheiro da SPVS e da TNC. Autor de vários livros – vendas, marketing e infantis com edições no Brasil e países hispânicos.

É preciso observar os sinais

              Publicado em 13/12/2010

“Vê, é o sinal, é o sinal das trombetas, dos anjos e dos guardiões...”
Raul Seixas


André Meijer é um cientista holandês que vive há tempos no litoral do Paraná, região de Antonina e Guaraqueçaba, onde observa a natureza por meio dos seus mais delicados sinais. Com olhar acurado percebe as indicações sobre as mudanças no ambiente da floresta por onde anda. Como um mago, lê e interpreta os sinais sutis emitidos pelo comportamento das aves, animais e plantas e é capaz de antecipar suas ações, deduzindo os possíveis efeitos colaterais.

Tenho o privilégio de receber suas anotações, misto de rigoroso trabalho científico e saboroso texto de poeta. Com ele aprendo cada vez mais sobre a necessidade de ficar atento aos sinais que a natureza nos mostra. Ora é um canto de pássaro, ora a movimentação de um sapo, ora o florescimento de um fungo. Tudo para ele é sinal e nada escapa aos seus olhos atentos e à sua sensibilidade apurada. André recentemente nos brindou com uma descrição saborosa sobre o pouso de quase mil andorinhas num tubulão em Antonina, acontecimento que nem os moradores locais haviam percebido. Captar sinais e transformá-los em propostas e ações criativas, capazes de alternar circunstâncias, é próprio das mentes preparadas. Com Isaac Newton e centenas de outros gênios foi assim.

Enxergar sinais onde ninguém os vê é próprio dos cientistas, mas na chamada “vida prática”, se é que isso existe, o ato de prestar atenção também se torna necessário. Empresários, políticos, marqueteiros, profissionais da comunicação, médicos, psicólogos e até jogadores de futebol precisam ser exímios observadores para desenvolver bem suas profissões.

No ramo dos negócios, por exemplo, enxergar  antes da concorrência as mudanças do comportamento do mercado pode significar lucros ou derrocada. Quem percebeu a virada do mercado popular há dez anos e agiu para adaptar seus produtos, hoje fatura alto. Aquele que enxergou antes que as redes sociais eram potenciais de relacionamento comercial e não apenas brincadeira entre adolescentes, já está fazendo diferença nos negócios. O mesmo aconteceu com a chamada bolha da internet e a crise financeira americana de 2008 - muita gente percebeu e caiu fora a tempo - milhões ficaram pendurados. É sempre assim: saber enxergar as mudanças das circunstâncias - tempo presente - e ter a capacidade de perceber o previsível - tempo futuro. 

O mundo dos negócios exige linguagem lógica e racional, trabalhando em termos de “sim e não” - ideal para sistemas lineares. Já a criatividade e a intuição trabalham de forma ambígua, emocional e associativa, nos termos do “pode ser, talvez” - ideal para sistemas complexos. O que muita gente não se dá conta é que um não vive sem o outro. Está provado que sem o componente emocional perdemos a capacidade de tomar decisão; portanto, não existe decisão puramente racional.

Uma boa técnica para desenvolver a intuição é ir anotando aquilo que percebemos sobre determinado assunto e depois de certo tempo parar para analisar as anotações. Com uma visão geral a decisão será mais acertada. Em outras ocasiões teremos que fazer como os bons jogadores de futebol, agir num golpe de vista. Esta é a chamada inteligência aguda, própria dos guerreiros. Não se pensa na ação nem nas conseqüências - agimos ao perceber.

Pelos sinais que nossos sócios, parceiros e colaboradores emitem podemos perceber se eles estão se comportando direito ou não. Se estão precisando de uma força ou apoio ou se devemos investigar algo. Idem para cônjuges e filhos. Só que nesses tipos de relações - as familiares - a repetição das situações faz com que os sinais deixem de ser percebidos. Dessa forma não prestamos a devida atenção ao que está acontecendo ao nosso redor. A familiaridade das ocorrências leva-nos a cometer erros sistemáticos. Os sinais existem, nós é que não os percebemos. Por isso, é sempre bom contar com gente de fora para olhar e dar o parecer. Erramos, não por teimosia, mas por não enxergar mesmo.

A esta cegueira para os sinais Cristo cunhou a frase “o pior cego é aquele que não quer ver”, e Nelson Rodrigues completou com “em futebol o pior cego é aquele que só vê a bola.” Ambas falam do nosso costume em nos agarrar com unhas e dentes às ideias e conceitos ultrapassados. Os sinais estão na nossa frente, nós é que não os vemos.


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