Priorizar é o verbo
Tenho analisado alguns projetos de comunicação ultimamente, e muitos impressionam pela criatividade, outros pela pertinência, muitos pelas pretensões. E estas últimas abordo na reflexão de agora. Há propostas que têm como público a sociedade em geral. Outras reservam um ano para mudar a cultura da empresa. Há também as que falam em avaliar resultados por meio de pesquisas complexas, ou sugerem a contratação de consultores renomados para tratar de um problema cuja solução pode ser buscada internamente.
Nada contra a empolgação ou a crença de que a comunicação muito pode. Nem contra a ousadia e a ambição – pelo contrário: como é bom conhecer propostas que saem do trivial e avançam, sinalizam inovações e mostram compreender o dinamismo da comunicação e das organizações.
O que questiono são as propostas que querem “abraçar o mundo” e cuidar de todos os problemas de uma só vez. Sem ter um foco, tratam todos os desafios com a mesma prioridade, tornando complexo o que, se fosse por etapas, poderia ser mais rápido e até mais simples para resolver, pagar e avaliar.
Na comunicação, temos ferramentas para ajudar na priorização. O mapeamento e a segmentação de públicos são duas delas. Servem para organizar, dar base a um trabalho direcionado e também mostrar um limite momentâneo de atuação No lugar de disparar esforços de comunicação para a sociedade ou o público interno como um todo, faz-se recortes nesse grande grupo, estuda-se o contexto e os objetivos organizacionais mais urgentes, e então trabalha-se esse segmento, concentrando esforços nesse ponto. O livro do professor Fabio França, “Públicos”, um dos mais úteis que já li, ajuda a entender e a trabalhar a polissemia e a heterogeneidade do conceito de públicos.
Outra ferramenta que ajuda a dar foco é a escala da prioridade, que exercita conceitos de urgência e de importância. Urgente é a tarefa com data mais próxima para concluir. Importante é a tarefa que tem mais impacto sobre outras. O pulo do gato é identificar a que é mais urgente e mais importante e priorizá-la.
Atuar sem foco leva à perda de credibilidade profissional, já que é natural que projetos muito abrangentes encontrem sérias dificuldades de execução e avaliação. Somamos a isso a desmotivação e a sensação de incompetência que ficam para o profissional que planejou e não cumpriu as façanhas que sugeriu.
Na atribulação de uma rotina repleta de demandas, estímulos e apelos, priorizar e ter foco não significa deixar de ser múltiplo. Mas ajuda a definir o que merece mais atenção e o que terá maior influência em nossa satisfação quando os resultados chegarem.
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