Até onde os registros históricos nos permitem chegar para buscarmos alguma compreensão sobre os aspectos essenciais da nossa existência, convivemos com a busca pela liberdade, ou ao menos pela sua compreensão. Muito se fala em liberdade nos dias atuais e possivelmente continuaremos a discutir o tema e buscá-lo, enquanto sentido prático, por muito tempo ainda.
O caráter utópico da liberdade, ou seja, seu sentido de idealidade confrontado com experimentação da realidade nos inspira algumas possibilidades e uma infinidade de incertezas sobre como seria a liberdade na prática, pois parte da essência que nos confere o sentido de humanidade idealizar o não-lugar e construí-lo enquanto caminhamos.
A liberdade provavelmente poderá ser compreendida se correlacionada a alguns conceitos, pois parece que uma série de variáveis atua para sustentar o seu tênue equilíbrio. Encontraremos desde filósofos que defenderão o sentido essencial da liberdade e suas possibilidades, como, por exemplo, Sartre, até aqueles que definitivamente acreditam na sua quase impossibilidade, que, como define Schopenhauer, se restringe à mera “vontade”, ou ainda como define Marx, que associa a liberdade ao mundo material, onde qualquer impossibilidade ao acesso do meio material implicaria na impossibilidade de liberdade. Spinoza define que é mediante a liberdade que o homem se exprime como humano em sua totalidade e age sem restrições à sua natureza, mas associa liberdade diretamente ao conceito de responsabilidade, ou seja, a consciência de ter de responder pelos atos.
Dentre as possibilidades de ajudar na conceituação, a liberdade pode ser correlacionada ao conceito de verdade, portanto vivenciada dentro de um sistema de valores aceitos por uma determinada sociedade. Mas como os próprios sistemas de valores sociais se revestem da dinâmica mutante do ser humano, a liberdade também adotaria diferentes sentidos conforme a sociedade se desenvolva ou se degenere. A liberdade também pode se apresentar situacional, em relação a contextos específicos. Enfim, encontraremos fortes argumentos que nos definem naturalmente livres e também fortes argumentos que nos definem naturalmente não-livres.
E a Comunicação? Será que o binômio meio/mensagem vivenciado na atualidade contribui para nos fazer livres ou nos aprisionam em suas estratégias, em seus objetivos? A Comunicação humana nos permite estabelecer as mediações que podem contribuir para o exercício e permanente construção da liberdade? Sob qual ótica a Comunicação tem atuado? Ou trata-se de um paradoxo que meramente nos leva de um aprisionamento a outro? Guy Debord trata da liberdade ilusória vivenciada pela sociedade capitalista que limita a vida cotidiana em tempo de trabalho e tempo de lazer, porém ambos pré-determinados e, portanto, não livres.
A reflexão que trago não deseja, absolutamente, concluir nada em termos de conceitos e definições sobre o que seja a liberdade. Seria muita pretensão. O que gostaria, de fato, seria evidenciar outros aspectos marginais relacionados aos discursos de liberdade em contraposição às definições anteriormente expostas. Mais precisamente aos aspectos hipócritas a que somos submetidos nos discursos libertários da nossa sociedade do espetáculo.
Vamos refletir, por um pequeno instante, sobre quantas pessoas ou instituições se apresentam como aquelas que chegaram para nos libertar. Daí, não sei se considero a existência de uma enorme possibilidade de liberdade, ou se realmente não há saída e seria melhor me conformar e me confortar apenas com a liberdade utópica, subproduto de uma idealidade apenas filosófica. Difícil continua sendo desvencilhar-me das armadilhas do discurso hipócrita, que em última análise ainda nos possibilita o escambo de liberdade, por algum sentimento segurança, mas não na mesma medida.