A comunicação, como expressão máxima da possibilidade de sermos humanos, nem sempre foi como a conhecemos na atualidade, é certo. Vivemos a era de um verdadeiro deslumbramento “comunicacional” instrumental. Tecnologia ilimitada, barata e, portanto, acessível, sistemas operacionais amigáveis, interativos, e supostamente rápidos (ao menos é assim que são vendidos...). Ou seja, a confirmação de “Os meios de comunicação como extensões do homem”, como conceituou McLuhan em seu livro de mesmo título em 1964. Tudo descomplicado. Tudo hiper conectado. Quase tudo já dito, também.
Tudo o que acontece hoje com a jornada da humanidade, guardadas as devidas proporções, sempre aconteceu. A diferença está na forma, na velocidade da difusão e na sua atratividade. A construção da informação na atualidade já prevê sua “espetacularização” como meio de indução ao seu consumo. Ao contrapor “Os meios de comunicação como extensões do homem”, nota-se que grande parte do conteúdo e da qualidade do que se produz e circula pelos meios parecem apontar para o sentido contrário. Notem que falei: “grande parte”, não: “tudo”. Isso significa apontar para um afunilamento que aufere restrições às potencialidades de comunicação como característica evolutiva do homem e nos transforma em presas fáceis na armadilha de um singularismo travestido de pluralismo, distribuído para uma platéia passiva.
O conteúdo é ofertado em grande escala e dentro de um modelo taylorista parecido com a administração científica do trabalho (ou será que esse modelo já não foi superado?), como numa de linha de produção, caracterizada pela ênfase na eficiência operacional: Notícia! Notícia! Notícia! Consuma! Consuma! Consuma! Nossa capacidade em reter informações, apesar de vasta, também tem seus limites. Nossa capacidade de endividamento para consumir as novidades tem seu limite mais facilmente compreendido. Essa pseudo comunicação, incapaz de formar opinião, parece altamente descartável e nos torna altamente dependentes e vorazes pela próxima notícia e pelo próximo produto/serviço. Será que o volume exagerado de informações e o consumo nos fizeram seres humanos melhores dentro de uma sociedade melhor?
Outras questões: a redução do poder de escolha pela audiência, não em termos de volume informativo produzido, mas em termos de relevância da informação, tem atuado a favor ou contra o que de fato precisamos em termos de modelos de comunicação que garantam informação de qualidade, com utilidade? Ou, sempre foi natural nos deixarmos levar pela hegemonia dos modelos implementados por quem tem o poder de comandar a produção da informação em seu favor e da sua própria utilidade? Parece que, também, esse modelo está sujeito ao autocondicionamento. Afinal, é operado pelo humano. Que coisa!
“A condição humana”, segundo Hannah Arendt, não é o mesmo que “natureza humana”. A condição humana refere-se à sobrevivência do homem e os respectivos meios que o próprio homem impõe a si para fazer valer isso. As condições refletem o contexto em que a vida humana se dá em termos de tempo e espaço. Analisando pelos aspectos citados acima, estamos condenados a sermos condicionados e até mesmo aqueles que condicionam o comportamento de outros se tornam condicionados pelo próprio movimento de condicionar. E, sendo assim, podemos ser condicionados de duas formas:
1. Aspectos internos do condicionamento: nossas atitudes, nossos pensamentos, nossos sentimentos;
2. Aspectos externos do condicionamento: o contexto histórico, a cultura, os amigos, a família;
Mas, afinal, de qual Comunicação precisamos para chegar aonde desejamos? Se é que desejamos, verdadeiramente, chegar a algum lugar. Somos capazes de produzir ferramentas de comunicação cada vez mais complexas, mas será que somos capazes de utilizá-las na sua totalidade? Ou alguém consegue esgotar todas as funcionalidades e possibilidades do seu smartphone ou do seu tablet? De qual comunicação precisamos, mesmo?
O que podemos supor é que o conceito de Mcluhan e minha provocação possuem forças contrárias que podem anular os resultados, uma vez que os meios podem atuar como extensões do homem (no sentido de alavancas ao desenvolvimento das suas potencialidades) e a baixa qualidade dos conteúdos e seu volume exagerado como elementos que impõem restrições ao homem e o torna cada vez mais passivo. Um telespectador da sua própria vida. Um ex-protagonista potencial.