Vou jogar fora meus livros de marketing
Trabalho com marketing, vendas e comunicação desde 1968 - vi as coisas acontecerem - me considero um dinossauro da espécie. Hoje, por mais que tente atualizar-me, sou surpreendido pela velocidade das mudanças, principalmente, as motivadas pelos meios digitais.
Estes dias precisava organizar uma apresentação para um cliente da área de produtos agrícolas. Na preparação, comecei a elaborar o esqueleto da palestra: tipos de clientes, maneiras de abordagem para cada um, detalhes sobre o comportamento dos compradores e dos formatos específicos de negociação para a área.
Não sigo a linha acadêmica, quase tudo que faço é do meu jeito e estilo. Experiência de vida e prática de mercado dirigem meus passos. Mas, dessa vez, o trabalho emperrou. Rendi-me à academia e, como no programa do Silvio Santos, pedi auxílio aos universitários - fui aos meus livros de marketing. E, à medida que os folheava, percebi que haviam ficado velhos, que não serviam mais, viraram peças de museu. Foi um choque descobrir que livros importantes e inovadores para mim, em determinadas épocas, se esfacelavam frente às novas tecnologias, comportamentos e ferramentas de comunicação.
Gente como eu, da geração baby boomers, nascidos após a Segunda Guerra, sente dificuldade em acompanhar e lidar com as novas formas de comunicação: Orkut, Twitter, Facebook, Podcast, Bluetooth, SMS, MMS e aquelas que estão sendo inventadas ainda esta semana. Participar das chamadas redes sociais e entender os processos das convergências de mídia são outros problemas. Por mais que pesquise, para me manter atualizado sobre o assunto, participando de palestras, encontros, seminários e lendo matérias em jornais, revistas e na própria WEB, é difícil acompanhar o ritmo. Para os nascidos na geração Y, já dentro do contexto digital, é muito mais fácil pensar e viver o novo meio. E pensar que foram os da minha geração que inventaram tudo isto.
Como um náufrago que tenta chegar a uma tábua de salvação e a afasta com suas braçadas ao criar ondas, quanto mais quero acompanhar a comunicação contemporânea, mais ela se afasta de mim. Já imaginou se eu ficasse parado? Esses dias, outro choque. Ouvi uma moça dizer: “Já estou velha demais para trabalhar em agência de propaganda”. Levei um susto. Ela só tinha 34 anos. Conversando com amigos sobre o fato, disseram: “Ela tem razão, está velha demais para isso.” Que fazer com os meus 63 anos? Hoje, tudo que sei é que nada sei. Frase bem antiga, não? Sócrates (469/399 a.C).
Por outro lado, a necessidade de conteúdo prático e sintetizado é enorme, bem como a elaboração de estratégias comerciais bem estruturadas. Tarefas que os jovens pouco dominam em se tratando de ambiente corporativo e ações de negócios. Escuto-os falar sobre a necessidade de criar boas histórias para suas abordagens nos trabalhos de transmídia, convergência e construção de redes sociais. Dizem que sem uma boa história a coisa não começa, e chamam a isso de storytelling. É justamente nesse ponto que aparecem os diferenciais da minha geração. Temos mais histórias para contar do que eles e, se não souber de uma, criamos, inventamos e sabemos onde buscá-las. Construir metáforas é com a gente mesmo.
No meio de tantas mudanças uma coisa é certa: nós, mais velhos, não precisamos ter medo da complexidade porque, no final das contas, ela não é tão complexa assim. Mudou a maneira de nós humanos nos comunicarmos, mas não mudou nossa essência. Continuamos vaidosos, egoístas, desejamos status, vantagens e buscamos a eterna juventude. Um prato cheio para quem trabalha com marketing. Mudam-se os tempos, mudam-se os costumes.
Os velhos livros de marketing - pode contar dez anos para dá-los como desatualizados - ficaram obsoletos porque os meios de comunicação exigem novas estratégias e as ferramentas oferecidas pela tecnologia da computação mudam muito mais rápido do que as técnicas do marketing. O meu consolo é que de tudo resta um pouco. Livros de marketing, agora só no sistema Kindle.
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