À procura do estagiário com doutorado em Harvard?
Estamos esquecendo um importante papel de todo gestor: e que também é nosso.
A equipe de Recursos Humanos estava há dias me pedindo para preencher o formulário de requisição de um novo estagiário para minha equipe. Só assim era possível começar a fazer o processo de recrutamento nas universidades. Eu tinha pressa, mas o protocolo era indispensável, até para que o time fosse assertivo na hora de escolher os possíveis candidatos. Comecei então refletindo sobre as necessidades de nossa área, o tamanho dos desafios, as sensibilidades, as demandas do dia-a-dia; quais as responsabilidades que esse novo funcionário teria e as urgências que já o esperavam. Pensando nisso, comecei a descrever o que eu imaginava ser o perfil do estagiário ideal.
Para encabeçar a lista, coloquei no papel, quase sem pensar, o que eu entendia ser óbvio para um estudante já trazer com ele; e a primeira palavra que veio em mente foi... experiência! Claro, pensei, preciso de um estudante que já traga certa experiência na bagagem. Além de falar e escrever fluentemente português - e inglês, com texto impecável dirigido para diferentes públicos; que saiba trabalhar sob pressão; que tenha inteligência emocional e que seja um bom articulador; que saiba ouvir, que seja sucinto ao falar e vá direto ao ponto; que tenha maturidade suficiente para lidar com frustrações; e ser resiliente (claro) seria condição inegociável...
Ao terminar, resolvi checar se não tinha esquecido nada. E à medida que fui lendo minha “listinha básica”, fui ficando envergonhada de mim mesma e de minha expectativa surreal. Caramba, pensei, depois de tantas atribuições, só faltava eu exigir desse estagiário um doutorado em Harvard! Aliás, como exigir tudo isso de alguém que está batalhando para ter a primeira oportunidade de trabalho e que provavelmente não sabe como funciona o ambiente empresarial? É claro que ter boa formação conta (ainda mais neste mundo competitivo em que vivemos) mas o que mais esperar de alguém para essa vaga, além de muita vontade de aprender, com espírito crítico e brilho nos olhos?
E aí me dei conta de que estamos, mesmo, vivendo em uma sociedade urgente, imediatista e sem paciência. Se não pararmos para refletir, já estamos querendo até que os estagiários, que vêm para as empresas começar suas carreiras, cheguem prontos e com muito jogo de cintura. Mas se não cabe a nós formá-los e desenvolvê-los, quem o fará? E mais: será que estamos preparando sucessores e deixando nas organizações pessoas melhores do que nós?
Eu sei, eu sei: educar dá trabalho. É preciso dedicar tempo de nossas agendas para formação de nossa gente. A começar pelo estagiário. Precisamos ensiná-lo a ler as entrelinhas, a ter postura adequada, a entender o que foi dito - e o que não foi; reconhecer seus acertos, ajudá-lo a entender os erros, incentivando seu amadurecimento profissional. E isso tudo não se aprende na escola. Muito menos em Harvard. Isso se chama vivência. E aí está comigo e com você, caro gestor, a responsabilidade de compartilhá-la. A propósito, Felipe, seja bem-vindo ao seu primeiro programa de estágio!
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