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COLUNAS


Eloi Zanetti
eloi@eloizanetti.com.br

Foi diretor de comunicação do Bamerindus e de marketing de O Boticário. Consultor e palestrante em marketing, comunicação corporativa e vendas. Publicitário premiado nacional e internacionalmente. Ambientalista, um dos idealizadores da Fundação O Boticário, conselheiro da SPVS e da TNC. Autor de vários livros – vendas, marketing e infantis com edições no Brasil e países hispânicos.

Café de Negócios

              Publicado em 25/02/2010

Por questões de agenda, conforto e praticidade, tenho trocado alguns “almoços de negócios” por “cafés de negócios.” É simples: marco reuniões em boas padarias, ao final da tarde, para conversar com meus clientes e parceiros sobre projetos, vendas e andamento de trabalhos. Hoje, existem bons estabelecimentos onde se pode sentar, ficar à vontade e pedir variados tipos de sanduíches, sucos e doces. A minha escolha é sempre a velha média com misto frio. Na saída, ainda compro o francesinho para levar para casa. Com isso, ganho tempo e faço a refeição da noite mais cedo.

O ambiente familiar e informal das padarias deixa as pessoas mais espontâneas e, em consequência, as conversas correm mais soltas. Nada de pedidos demorados, complicações com cardápio e exibições de “enochatos” na escolha de vinhos.

É claro que faço isto com pessoas com quem tenho intimidade e que conhecem meu estilo. Não costumo convidar clientes novos ou muito formais para reuniões em padarias. Mas acredito que, se os convidasse, muitos adorariam. 

O ex-prefeito de Curitiba, Jaime Lerner, saía todas as manhãs para vistoriar obras e, antes de chegar à Prefeitura, passava por uma padaria de bairro onde, com o motorista e algum auxiliar, tomava café com pão e manteiga. Fazendo isso, por gosto e conveniência, aproveitava para conversar com populares e ouvir diretamente dos interessados sobre as necessidades do bairro.

O conceito de padaria mudou muito nos últimos tempos, algumas se transformaram em verdadeiros centros de negócios e, conforme a cidade, abrigam diferentes tipos de atividades: cafeteria, pizzaria, revistaria, loja de conveniência, pequenos restaurantes, têm acessibilidade para web, estacionamento com manobristas e funcionamento 24 horas. Se duvidar, vendem até pãozinho francês. E este, aos poucos, perde seu posto de carro-chefe de vendas e de principal atração. Hoje, existem pães com ervas, grãos, multimisturas e étnicos para todos os gostos: italianos, alemães, portugueses, indianos, árabes, argentinos e até australianos. É a globalização tomando conta do sacrossanto lugar de se comprar pão.
No entanto, mesmo em padarias, bares e botequins existem procedimentos ritualísticos sobre o trato de negócios à mesa. A experiência recomenda escolher um estabelecimento de fácil acesso e com estacionamento, além de ser pontual e não se esquecer de levar cartões de visitas, bloco de anotações e canetas. Devemos também preferir ambientes que permitam privacidade para que a conversa se desenrole à vontade - as mesas devem guardar distância umas das outras, para que a nossa a conversa não seja ouvida por estranhos - em negócios, sigilo é fundamental.
Nas reuniões onde os interlocutores não se conhecem bem, a conversa precisa esquentar um pouco, antes de entrar no assunto principal. Nestas ocasiões, conversa-se sobre tudo: família, futebol, esportes, hobbies, empresas e um pouco de si mesmo. O clima de sondagem mútua é necessário como introdução ao objeto da reunião e, uma vez dentro dele, é melhor ouvir mais do que falar. Por mais ansioso que se esteja para fechar um negócio, cuidado com o excesso na exposição dos motivos, pois poderá perder o senso de timing, entregar o ouro antes do tempo, lembrar ao outro sobre a concorrência e soltar informações desnecessárias. E, em se tratando de valores, siga o conselho árabe: não seja você o primeiro a falar de preços.

Ainda não existem livros sobre “etiqueta nos negócios à mesa de padarias”, mas alguns cuidados básicos e regras de boas maneiras devem ser tomados. Não é por estarmos em um ambiente informal que podemos relaxar no trato social. Percebe-se se uma pessoa é educada ou não pela sua maneira de se comportar à mesa. Já vi candidatos a altos cargos serem refutados e algumas carreiras estacionarem porque seus protagonistas não sabiam se comportar com dignidade em reuniões à mesa.

E lembre-se: a palavra “companheiro” é originária de “cum panis” - aquele que reparte o pão.

 


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