Cooperação & competitividade
Quanto mais as pessoas se ajudam, mais a comunidade prospera.
Antropólogos calculam em aproximadamente doze mil anos o tempo em que nós, humanos, começamos a nos reunir de forma social, em tribos, para melhor sobreviver neste perigoso planeta chamado Terra.
Dizem também que, na natureza, os seres vivos, animais e vegetais que mais chances têm de sobrevivência a longo prazo, são aqueles que mais cooperam entre si, sendo ou não da mesma espécie. E que esta busca pela ajuda mútua torna-os mais aptos na escala evolutiva.
A mãe-natureza, como toda boa progenitora, está sempre tentando nos ensinar alguma coisa, é só prestar atenção. Algumas vezes, nos dá recados de forma escancarada como nos recentes casos do aquecimento global, enchentes e deslizamentos, outras, de forma mais sutil - se organizar de forma cooperada é um deles.
A cooperação entre os humanos é antiga, somos conscientes de que esta é a melhor forma de se trabalhar, mas, como em todas as atividades entre os homens, sempre aparecem aqueles que tentam sabotar ou se aproveitar do sistema. E, mesmo nas cooperativas comerciais que mantêm empenho incessante para que o sagrado conceito da ajuda mútua cale fundo entre seus participantes, existem dificuldades para mantê-los na linha. Volta e meia, aparecem aqueles que ainda não entenderam bem o sistema e reclamam das suas obrigações. Cooperativas médicas sofrem para fazer seus cooperados entenderem que participam de uma força conjunta da qual fazem parte e não de uma empresa que tenta explorá-los. Esquecem de que é a união de todos que cria a força motriz dos negócios e que ao término do exercício fiscal a sobra é distribuída entre os cooperados.
O conceito cooperativista nasceu por iniciativa de um grupo de 28 tecelões em Rochdale, Manchester, Inglaterra, em 1844, e chamava-se “Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale”. No Brasil, o sistema se iniciou em 1847 quando o médico francês Jean Maurice Faivre inaugurou a Colônia Teresa Cristina, com inspiração nos ideais humanistas, junto com outros colonos europeus no Paraná. No entanto, dá-se o crédito do nascimento da primeira cooperativa brasileira quando, em 1902, um grupo de 19 pessoas aprovou o estatuto da Sparkasse Amstad - Caixa de Economia e Empréstimos, também conhecida como Caixa Rural - origem da atual Sicredi, em Nova Petrópolis - RS.
Hoje, o sistema cooperativista brasileiro soma 7.682 cooperativas, quase oito milhões de cooperados, representando 13 importantes setores da economia - das gigantescas agrícolas aos taxistas. Exportaram em 2008 US$ 4 bilhões, faturaram R$ 85 bilhões, representam 6% do PIB e empregam 250 mil pessoas diretamente.
Voltando à natureza, são os nossos genes egoístas que ditam as regras do jogo e disto não temos escape; ajudamos e participamos porque vemos vantagens na cooperação. Modelo atávico que funciona ao mesmo tempo de forma contraditória, ora como fator de empenho, ora pondo resistência às nossas ações. A empresa moderna luta de forma competitiva fora de casa e, simultaneamente, pede cooperação entre os seus funcionários. Fazer um departamento colaborar com o outro é um dos maiores desafios dos gestores modernos. Especialistas em comunicação interna se desdobram no eterno trabalho de catequese para que todos entendam o sistema ao qual pertencem. “Sem cooperação não há salvação - me ajude que eu faço sozinho.” - diz um amigo.
Para melhor entender o sistema cooperativo, recomendo não a leitura dos livros do setor, mas os trabalhos sobre a teoria dos “comuns” da Dra. Elinor Ostrom, primeira mulher a receber um Prêmio Nobel de Economia, e o livro “As Origens da Virtude” de Matt Ridley.
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