A Comunicação como objeto de estudo e seus principais paradigmas
O campo da comunicação está num momento em que é necessário repensar seus fundamentos e práticas de pesquisa. O final do século XX e o início do século XXI foi e está sendo marcado por grandes mudanças no sistema do pensamento, já que o modelo clássico da ciência não atende mais às questões atuais. A busca pelo pensamento complexo e a necessidade de ampliar os olhares da ciência torna-se fundamental para se entender a realidade contemporânea. O campo da comunicação está inserido neste mesmo contexto e demanda debates atuais que tragam referências teóricas e autores que venham instigar e ajudar a pensar a realidade contemporânea do ponto de vista comunicativo. Além disso, há um grande desafio apresentado ao campo e suas investigações – a definição do objeto de estudo da comunicação. Por isso, é necessário avançar nas discussões, reflexões e no trabalho de reconhecer a realidade da prática comunicacional.
Se pensar a epistemologia da comunicação significa questionar a realidade do campo, este esforço reflexivo deve representar uma tentativa de acompanhar o que se passa no processo comunicativo, ou seja, observar sua natureza em movimento, já que comunicação significa “ação comum”, “estar em relação” – e relação pressupõe movimento. Merleau-Ponty (1945) define o ato comunicativo como “o encontro de fronteiras perceptivas” onde, por meio da linguagem, um diálogo se estabelece. Este diálogo é a base do processo comunicativo, é aquilo que promove um movimento constante, uma troca entre duas consciências, uma ação comum. É neste lugar que a comunicação se estabelece. Em outras palavras, é somente na relação que a comunicação é possível.
Vemos, então, que o objeto da comunicação está neste ponto de encontro - ele é exatamente a troca, o estar em relação. O que significa que há uma diferença fundamental entre o objeto da comunicação e os chamados objetos de mídia: rádio, televisão, jornal, internet, entre outros. Estes objetos não necessariamente estabelecem uma interlocução, uma relação com seus públicos. Eles são veículos de comunicação e cumprem o papel de veicular a informação, uma das etapas do processo comunicativo, não o processo como um todo. Em outras palavras, é um equívoco pensar que o objeto de estudos do campo são os veículos de comunicação.
Este equívoco nos remete às principais teorias clássicas do campo, que colocam os mass media e sua influência na sociedade como foco principal dos estudos. Esta perspectiva se encaixa dentro do chamado modelo informacional da comunicação. Tido como modelo hegemônico, o paradigma informacional entende a comunicação como um processo mecânico e linear de transmissão de mensagens de um emissor para um receptor, provocando determinados efeitos. Sua base foram os estudos desenvolvidos por Claude Shannon, em 1949, que ficaram conhecidos como a teoria matemática da comunicação. Esta teoria propõe a esquematização de um sistema geral da comunicação baseado na transmissão de informação. Com finalidade meramente operativa, consiste em fazer passar, através de um canal, o máximo de informação com o mínimo de distorção e com a máxima economia de tempo e de energia (WOLF, 1985). Ou seja, para o modelo, o conteúdo não importa, mas sim a eficácia da transmissão.
A teoria matemática de Shannon passou a influenciar diversas disciplinas científicas e tornou-se o modelo clássico para os estudos da comunicação. O modelo foi raramente questionado e largamente utilizado, simplificando ao máximo o processo comunicativo. É um modelo que não consegue sair do par emissor-receptor e que desconsidera as principais questões que envolvem o processo comunicativo - a presença de consciências.
Conceber a comunicação por meio desta perspectiva é algo limitado e insuficiente para se explicar o processo comunicativo. O campo necessita de um modelo que seja capaz de compreender a comunicação como um processo de “produção e compartilhamento de sentidos entre sujeitos interlocutores”, a partir de um determinado contexto e realizado através de trocas simbólicas, ou seja, a produção de discursos (FRANÇA, 2001). Esta perspectiva se encaixa no que se conhece como o paradigma relacional da comunicação. O modelo elacional distingue o processo comunicativo a partir de sua bilateralidade, ou seja, a igualdade de condições e funções estabelecidas por parte dos interlocutores envolvidos. Sua ênfase não está na distinção de pólos emissor/receptor, mas na natureza da relação estabelecida por ambos.
O referencial teórico e metodológico do paradigma relacional pode ser encontrado em George H. Mead e na corrente de estudos do Interacionismo Simbólico. A partir deste modelo, o fenômeno da comunicação passa a ser entendido como um processo dinâmico, que pressupõe movimento constante e trocas entre sujeitos por meio da interação (BASTOS; LIMA, 2008). A comunicação, a partir do paradigma relacional, é um processo de produção e compartilhamento de sentidos entre sujeitos, marcado pela situação de interação e pelo contexto (MAIA & FRANÇA, 2003).
É desta maneira, enfim, que propomos enxergar a comunicação, visto que o modelo relacional é aquele que melhor consegue conceber o processo comunicativo em sua natureza interacional.
Fernanda Bastos é membro do Grupo de Pesquisa “Comunicação no contexto organizacional: aspectos teórico-conceituais” (CNPq/PUC Minas). É graduada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), especialista em Gestão Estratégica da Comunicação pelo Instituto de Educação Continuada da PUC-Minas (2006) e mestranda em Comunicação pela PUC-Minas. Professora da Faculdade Fabrai/Anhanguera e consultora na área de comunicação organizacional. E-mail:febastos@gmail.com
Ao receber o convite da Aberje para assumir mensalmente esta coluna no seu site, propus a ampliação de participação com os meus colegas do Grupo de Pesquisa, “Comunicação no contexto organizacional: aspectos teóricos conceituais”, PUC-Minas/CNPq. O diálogo aberto permite a troca reflexões e estabelecer um vínculo mais próximo com o mundo profissional.. Vamos trazer mensalmente assuntos relacionados a comunicação no contexto organizacional, e desejamos receber opiniões de nossos leitores.
Ivone de Lourdes Oliveira
Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje
e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor. 4320
Outras colunas de Ivone de Lourdes Oliveira
14/10/2015 - Cinismo: uma Estratégia para um acordo tácito nas Organizações
30/07/2015 - Quando política e comunicação interna se (des) encontram!
26/05/2015 - Campanha Mais Vetor Norte: a desterritorialização como estratégia
27/04/2015 - Ampliação da terceirização: novo cenário para a Comunicação Interna
29/05/2014 - Narrativas que constroem organizações
O primeiro portal da Comunicação Empresarial Brasileira - Desde 1996
Sobre a Aberje |
Cursos |
Eventos |
Comitês |
Prêmio |
Associe-se |
Diretoria |
Fale conosco
Aberje - Associação Brasileira de Comunicação Empresarial ©1967 Todos os direitos reservados.
Rua Amália de Noronha, 151 - 6º andar - São Paulo/SP - (11) 5627-9090