Janus era uma divindade romana que exercia várias tarefas ao mesmo tempo. Entre elas, cuidar da agricultura e guarnecer a porta do céu. Tinha duas caras: uma, para olhar o passado, e outra, para o futuro. Com a do passado olhava o ano que findava e com a do futuro, o ano que ia nascer. Por causa disto, é que damos ao primeiro mês do ano o nome de janeiro, homenagem a este deus multitarefa. É comum no início do ano querer olhar além do que o bom senso permite. É hora de fazer previsões.

Schopenhauer dizia ser tolice fazer previsões, pois nossa capacidade de olhar o futuro não passa da esquina. Por outro lado, baseados em fatos, dados e simulações é possível arriscar palpites. Assim agem alguns futurólogos: uns olham os astros, outros as informações. Todos dizem que acertam mais de 90% - podem dizer à vontade, porque ninguém vai conferir. E, se conferirem, não há problema, já passou.

Mas, vamos recordar uma antiga fábula: a do escorpião que queria atravessar o rio nas costas de uma tartaruga. Por mais que a tartaruga argumentasse que ele não resistiria à tentação e iria picá-la, não adiantou. Com o escorpião nas costas, ela se pôs a atravessar a correnteza e no meio não deu outra: o escorpião deu-lhe uma picada mortal. “Tolo, disse a tartaruga, ambos vamos morrer.” E ele respondeu, afundando: “Mas eu sou escorpião, não posso deixar de agir como um escorpião.”

Isso ajuda as nossas previsões: Lula não vai deixar de ser Lula, o PT não vai deixar de agir como PT, empreiteiros não deixarão de pensar como empreiteiros, traficantes continuarão agindo como traficantes e policiais como policiais. Os cartolas serão eternos cartolas, Hugo Chaves vai continuar a sua intenção bolivariana e os Estados Unidos, enquanto puderem, agirão como o grande império. E sobre os nossos políticos, o que esperar deles? Eles não deixarão de ser o que são e, com certeza, novos escândalos irão aparecer. É fácil prever o futuro: é só olhar como os escorpiões se comportam.