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Malu Weber


Gerente Geral de Marca e Comunicação Corporativa do Grupo Votorantim e Membro do Conselho Deliberativo da Aberje, Malu é formada em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná/PR e Unaerp/SP, pelo Programa de Gestão Avançada do APG (Amana Key) e pelo Curso Internacional de Comunicação Empresarial (Aberje/Syracuse University). Possui especialização em Comunicação de Marketing e pós-graduação em Comunicação com o Mercado na ESPM/SP.

Sua principal missão atualmente é estabelecer uma plataforma de reputação e uma arquitetura global de marca que gere valor no relacionamento com stakeholders e contribua para a construção da imagem da Votorantim e de suas empresas, no Brasil e nos mais de 20 países em que estão presentes. 

Minha orelha é grande, mas sou feliz assim!

              Publicado em 01/12/2009

Educando os filhos para a diversidade


O pediatra do Pedro já havia alertado: mais dia, menos dia, alguém iria chamar a atenção para as orelhas grandes de meu filho. “As crianças, nesta idade, são impiedosamente cruéis”, explicava Dr. Sebastião, na consulta de rotina. Os apelidos certamente viriam, e a preocupação do médico passou a ser minha também. Como lidar com essa situação sem que o menino se sentisse rejeitado, excluído, magoado, vítima do preconceito infantil debochado, logo tão cedo?

Imediatamente lembrei-me de minha infância quando, pela primeira vez, os monstrinhos da escola me chamaram de "dentuça". Foi como uma punhalada no meu coração infantil. Senti a maldade na pele, e o rótulo intimidava, acabava com minha autoestima e me fazia sentir a última das criaturas. Hoje, este gesto ganhou proporção e tem sido bastante criticado: colocar apelidos no colega agora é uma forma de "bullying" - atitude agressiva, intencional e repetitiva que pode gerar na criança falta de confiança e até depressão. E não é que o destino ironicamente me colocava mais uma vez em situação idêntica? Só que a sensação de imaginar meu filho passando pelo mesmo sofrimento é ainda mais dolorosa.

E não demorou muito para o Pedro chegar certo dia em casa, desolado, dizendo: “mãe, quero mudar de ônibus porque uma menina riu de mim e me chamou de Dumbo”. Apesar de minha fúria repentina contra a tal garota (desculpem, mas coração de mãe não é de ferro), peguei na mãozinha dele e sentamos no quarto. Olho no olho, conversamos. Expliquei a ele que todos nós temos características diferentes: uns são mais altos, outros mais baixos; uns têm nariz, orelha e boca maiores, outros, menores.  E que isso não era defeito, mas sim diferenças que temos que aprender a respeitar. E ainda, que aquela vizinha que ele chamava de “Maria Peluda” ficava tão triste quanto ele, ao ser chamado de “Dumbo”. Pedro ouviu tudo muito atento, especialmente a parte do meu “caso dentuça”, e saiu do quarto quieto e pensativo.

O tempo passou. Dia desses, estávamos na escola e um menino chorava, encolhidinho no chão, cabeça escondida entre os joelhos, acuado porque o haviam apelidado de "Gasparzinho", por ter a pele e cabelos muito claros. E o garoto era justamente o melhor amigo do Pedro. Naquele momento, meu filho largou de minha mão, saiu correndo e foi para o lado do companheiro de classe. Agachou e o abraçou forte, dizendo de pronto: “Victor, não ligue. Uma vez já me chamaram de Dumbo e eu também fiquei muito triste, mas sabe o que eu disse pra menina na segunda vez que ela me xingou? Que minha orelha é grande, mas eu sou feliz assim. Não dê bola você também. Vamos brincar?”.

Nessa hora, fiquei emocionada. Achei meu filho ainda mais lindo, por dentro e por fora. Meu sentimento era de dever cumprido, com a certeza de que havíamos encontrado o melhor caminho para aquele dilema: o do diálogo e o da naturalidade. Pode até ser que o tamanho da orelha volte a incomodá-lo no futuro (como a mim me incomodaram os dentes para frente, e acabei usando aparelho fixo por anos). Mas o mais importante é que, naquela fase da vida, Pedro resolveu e superou, do jeito dele, aquela situação, e ainda repassou o aprendizado adiante, consolando o amigo e me trazendo um conforto indescritível. O princípio da educação havia sido, enfim, colocado em prática. De mãe para filho, de filho para o mundo. Um mundo muitas vezes cruel, para o qual cabe a cada um de nós prepararmos nossas crianças para que sejam adultos mais bem resolvidos, que saibam conviver com a diversidade, sem estimular o preconceito, mas o respeito em primeiro lugar. Não importa o tamanho das orelhas, dos dentes, dos pelos, nem o de todas as nossas diferenças. O que importa, mesmo, é sermos felizes!
 


Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor. 1852

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