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COLUNAS


Gisele Souza
cmr@aberje.com.br

Bibliotecária e Documentalista graduada pela Escola de Comunicações e Artes/USP, mestre em Ciência da Informação pela mesma escola. Coordenadora do Centro de Memória e Referência da Aberje, tem experiência na área de gestão da informação e de documentos físicos e eletrônicos com ênfase na sistematização da memória institucional. Atua como consultora em implantação e gestão de centros de documentação e memória e bibliotecas especializadas.

 

Tem Saci na comunicação empresarial

              Publicado em 27/11/2009

Como uma organização pode valorizar as tradições populares? Que ações podem ser realizadas pelas empresas para difundir e preservar seus patrimônios e os das comunidades locais? Onde entra a comunicação empresarial nessa história?

Como usuária constante das Rodovias Ayrton Senna e Carvalho Pinto recebi com receio a notícia da mudança da concessionária que administraria as rodovias a partir de junho de 2009. Meu receio logo se mostrou infundado. Entre as primeiras medidas da nova administradora, tivemos a inclusão das motos no pagamento de tarifas, disponibilização de mais telefones para atendimento dos usuários ao longo da rodovia, realização de ações para agilizar a cobrança nas praças de pedágio em dias e horários de pico de movimento, e a mais inovadora: redução da tarifa.

Das novidades percebidas por mim, a melhor, além da redução da tarifa, é a distribuição de uma revista com a marca da empresa, para os usuários das rodovias entregues no momento do pagamento do pedágio. Como não dirijo, todas as vezes que viajo, sou passageira, e esse item é muito útil entre uma conversa e outra.

Na capa de uma publicação empresarial que recebi num dos pedágios estava estampada uma foto da Festa do Saci, realizada em São Luiz do Paraitinga em 2008, cidade do interior de São Paulo. Fiquei surpresa ao saber que enquanto grande parte do Brasil comemorava o Halloween, em São Luiz, o Saci e seus amigos seriam os anfitriões da festa da cultura popular. A foto era da festa do ano passado, porém a reportagem era sobre a festa deste ano, apresentando a programação e as atrações da festa.

Os gorrinhos vermelhos me chamaram. Decidi que esse ano comemoraria um 31 de outubro diferente. A cidade, distante 187 km da capital paulistana, preserva seus patrimônios materiais, imateriais e naturais: os casarios do séc. XIX tombados pelo CONDEPHAAT; as lendas e marchinhas carnavalescas; as cachoeiras, rios e a Serra da Mar. A população local é acolhedora. A comida, tradicional é bem servida. Os violeiros, o contador de “causos”, os bonecões, o saci urbano e a fanfarra convivem em harmonia, encantando os turistas.

A reportagem sobre a 7ª Festa do Saci é um ótimo exemplo da conhecida relação ganha-ganha. Ganha a sociedade com a divulgação de ações de valorização e reconhecimento das tradições populares. Ganham os moradores locais com a injeção de capital no comércio, pousadas e atrações turísticas, e também com a percepção de que sua cultura é importante e deve ser preservada. Ganha a empresa com o aumento da receita dos pedágios, e ganha ainda mais, ao ter sua imagem associada à cultura preservacionista dos patrimônios culturais nacionais. E entenda Patrimônio como conceito amplo, que abarca tanto as igrejas barrocas mineiras como o processo de produção das cuias pretas do baixo Amazonas.

Na mesma revista encontrei notas sobre a empresa: premiações recebidas, ações realizadas junto aos seus públicos, divulgação de patrocínios e cartas dos usuários elogiando os serviços prestados. Conteúdos esses comuns a outras tantas publicações empresariais. O diferencial reside em comunicar o que acontece fora do âmbito corporativo, trazer a comunidade para dentro da empresa, ser facilitadora para que comunidade seja conhecida também entre seus outros públicos.

Diferencial esse já percebido por outras empresas, como uma mineradora de ouro de Minas Gerais que em seu jornal interno, ricamente ilustrado, explorando as nuances do preto e branco, apresenta uma reportagem sobre o tombamento, pelo IPHAN, do modo artesanal de fazer Queijo de Minas, nas regiões do Serro e das serras da Canastra e do Salitre. Graças a uma comunicação eficiente, tais práticas se tornam eficazes.

Bloco do Saci, São Luiz do Paraitinga, 31/10/2009

Guardarei para sempre a imagem do brilho nos olhos das crianças quando o anfitrião apareceu em carne, osso e uma perna só, diante dos foliões do Bloco do Saci. Isso mesmo, o Saci prestigiou, fazendo muita traquinagem, a festa que enaltece não só a cultura popular, mas também a comunicação empresarial que me levou até lá. Rogo que outras empresas percebam que investir na promoção das tradições populares, bem como preservar sua história e seus patrimônios, gera retorno positivo de imagem e de reputação.


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