Como era de se esperar, a assunção do novo pontífice, papa Francisco, atraiu a atenção da mídia do mundo inteiro, gerando enorme repercussão nas redes sociais. Para nós, como comunicadores, foi especialmente notória a leitura de uma série de símbolos transmitidos pelo papa, pois permitiram uma construção formidável de sua reputação e imagem em apenas uma semana, o que conquistou o apoio dos fiéis da Igreja Católica.
Esses símbolos e as mensagens transmitidas não foram necessariamente planejadas e trabalhadas como parte de um plano de construção de imagem, e é esse fato, precisamente, que torna ainda mais interessante essa questão. É bem provável que isso seja decorrente de suas crenças e de sua forma de ser, bem como do rumo que a Igreja, como entidade, assumirá daqui para frente.
Vejamos apenas alguns desses exemplos a destacar:
1. Origem: a primeira surpresa surgiu quando foi anunciado que o novo papa era argentino, ou seja, latino-americano, de país emergente. Uma primeira leitura simples e direta: tem a ver com o novo rumo da Igreja, fortalecendo a presença em um continente eminentemente católico e nos países emergentes de rápido crescimento, em contraposição à postura tradicional de um papa europeu proveniente de países ricos e desenvolvidos. Vários líderes dos países emergentes lhe deram boas-vindas calorosas, interpretando que ele será capaz de entender melhor seus problemas. Diante de uma Europa e um sistema econômico em crise, um papa latino-americano é um símbolo definitivamente poderoso.
2. Naturalidade: o papa Francisco assumiu tudo isso com humor e simplicidade. Ao dar as saudações aos fiéis congregados na Praça de São Pedro disse: “Meus irmãos cardeais foram me buscar (o novo pontífice) no fim do mundo.” Rezou pelo antecessor e pediu aos presentes que rezassem para que Deus o bendissesse. Suas palavras pareciam mais as de um padre de uma pequena igreja comunitária do que as de um papa, totalmente despojadas de formalidade e rigidez.
3. Simplicidade: para esse discurso inicial, tão simbólico, usou sua antiga cruz de prata em vez de uma cruz de ouro. Vestiu batina branca e simples, sem capa. E não aceitou calçar os tradicionais sapatos vermelhos. Um completo símbolo de não ostentação.
4. Imagem: obviamente, milhares de vídeos e de fotografias percorreram o mundo. O que nos transmitem essas primeiras imagens? Talvez uma certa timidez no início, mas, sobretudo, a figura de um homem cordial e simples, que abriu seus braços para os fiéis, mantendo um sorriso sincero e natural. Pode haver algo mais poderoso do que uma boa imagem?
5. Não ao luxo e à ostentação: nos dias seguintes, os pequenos mas poderosos gestos se repetiram, todos relacionados com sua rejeição ao luxo e à ostentação: viajou de ônibus normal, com os demais cardeais; pagou suas próprias despesas no hotel onde esteve hospedado, em vez de enviar um representante; e continuou usando seus velhos e desgastados sapatos.
6. Para os pobres: como se isso fosse pouco, deu ainda uma conferência de imprensa para, nada mais nada menos, do que 6 mil jornalistas e perante eles disse que queria uma “Igreja pobre e para os pobres”. Mais uma vez, poderosas palavras que simbolizam muito, provindas de um papa que inicia seu pontificado à frente da Igreja de Roma.
7. Mais um dentre nós: houve um dado inesperado que aproximou ainda mais Francisco das pessoas comuns. Tal como foi difundido de imediato o novo papa gosta de futebol, possivelmente como a maioria de seus fiéis, e é um torcedor fanático e sócio do time argentino San Lorenzo de Almagro. Com apenas um símbolo, o papa ficou do lado de centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo.
8. Perdão: em sua primeira homilia pediu perdão e misericórdia para os homens, outro símbolo importante de humildade e de reconciliação, demonstrando sua intenção de construir a partir de uma base positiva.
9. Segurança: em outro gesto que impressionou seus fiéis e fez tremer a segurança do Vaticano, o papa Francisco se aproximou das pessoas que foram à missa celebrada por ele na pequena paróquia de Santa Ana e as cumprimentou, apertando-lhes as mãos, beijando-lhes e as acariciando. "Já são quase 10 horas. Tenho de ir à missa. Estão esperando por mim", disse antes de entrar na igreja. Mais uma vez, o papa se aproximou das pessoas sem intermediários.
Depois de mais de 30 anos de profissão, ainda fico pasmo com o imponente poder dos símbolos no mundo das comunicações. Enquanto nós, comunicadores, passamos horas e horas planejando, definindo mensagens-chave, discutindo estratégias ou preparando conteúdos, em determinadas ocasiões certos símbolos são tão poderosos que provocam resultados contundentes na criação de imagem e de reputação.
Não sabemos ainda se Francisco será o papa mais midiático da história nem mesmo se será o mais amado e popular. Mas, certamente, iniciou seu papado transmitindo algumas crenças e características próprias de sua personalidade, por meio de símbolos poderosos que nos permitem começar a delinear o perfil que terá sua gestão à frente do Vaticano, conquistando desse modo o respeito e afeto dos fiéis.