Como enfrentar situações de emergência com maiores chances de sucesso

Eu acompanhei o chamado “milagre do rio Hudson” do hospital, em São Paulo. Lembram? Início de 2009. Estava internada, recuperando-me de uma cirurgia, e fiquei pensando na semelhança entre os dois acidentes: o aéreo – em que o piloto conseguiu aterrissar em águas americanas, sem vítimas graves– e aquele que aconteceu comigo (tive o intestino perfurado em um exame de colonoscopia). E, em ambos os casos, as consequências poderiam ter sido desastrosas. Mas por que não foram? Além de muitos atribuírem à providência divina, foi por uma série de acertos e de atitudes também fundamentais que, em qualquer situação de emergência, contribuem para diminuir os riscos de acontecer o pior.

Em primeiro lugar, a rapidez ao detectar a situação inesperada. Assim que houve a decolagem, o piloto percebeu que algo estava errado: urubus na turbina; já no hospital, o médico identificou o momento exato em que o aparelho, que examinava o grau de minha endometriose, perfurou a parede do intestino. Logo na sequência, veio a coragem em assumir o problema e a determinação na tomada de decisão. A torre de comando foi avisada. Bem como meus médicos. Não era possível retornar ao aeroporto. Era preciso fazer um pouso de emergência. Manobra forçada também para a equipe médica. E todos se mobilizaram, no mar e em terra, para enfrentar o que estava por vir da melhor e mais rápida forma possível.

Crise instalada: era preciso habilidade técnica, segurança e serenidade para administrá-la. Turbina do avião em chamas, de um lado; risco de infecção generalizada, de outro. Corrida contra o tempo. Tensão. Era chegado o momento. E a aterrissagem foi heroica. O avião deslizou sobre as águas, sem explodir. No centro cirúrgico, a estratégia da operação foi precisa – os médicos “grampearam”, via videolaparoscopia, a parede do intestino perfurado e ainda retiraram o nódulo de endometriose.

Instantes depois do pouso inusitado, helicópteros, bombeiros e táxis aquáticos estavam a postos, além do rápido resgate, evitando que os passageiros morressem congelados. Um verdadeiro trabalho em equipe, também no hospital. Recebi alta em uma semana. E duas histórias completamente diferentes tiveram final feliz pelos mesmos motivos: identificação imediata do imprevisto, coragem na tomada de decisão, serenidade, soma de esforços e capacidade de execução. Elementos fundamentais para enfrentarmos, com maior chance de sucesso, situações de emergência. Uma sequência de acertos (e de sorte, é verdade) possibilitou que os 154 passageiros daquele vôo milagrosamente sobrevivessem. E eu também.