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COLUNAS


Guilherme Pena


Gerente de Comunicação Corporativa da Copersucar S/A, maior comercializadora brasileira de açúcar e etanol. Tem mais de 20 anos de experiência em comunicação corporativa em empresas como Fiat Automóveis e Acesita (atual Arcelor Mittal Inox). Trabalhou nas redações da Gazeta Mercantil, Diário da Tarde e Estado de Minas. É graduado em Comunicação Social pela UFMG, com especialização em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral. Participou do 4º Curso Internacional de Comunicação Empresarial realizado pela Syracuse University e Aberje.

O buraco negro e o elixir paregórico

              Publicado em 03/02/2014
O vigoroso crescimento da Comunicação Corporativa nas últimas décadas ainda não foi suficiente para nos eximir de dois complexos problemas da rotina empresarial, mesmo nas organizações com avançada governança: o surgimento de “buracos negros” na gestão e a falsa percepção de que a comunicação pode atuar como o elixir paregórico para as mais variadas dores dos nossos processos de negócio.
 
Numa pesquisa informal com alunos de pós-graduação em Gestão de Negócios, pedi a cada um deles para elencar os principais gargalos de comunicação nas empresas em que trabalham. O resultado foi uma amostra de que, mesmo em grandes organizações, ainda há uma demanda expressiva por mais efetividade e clareza nos posicionamentos e nos procedimentos de comunicação, sobretudo a interna. Na rápida enquete realizada, com cerca de 20 alunos, os gargalos mais mencionados, entre mais de uma dúzia de problemas, foram:
 
  • Estratégia pouco clara;
  • Falta de informação sobre produtos e mercados;
  • Desalinhamento interno: “sinergia zero” entre áreas, profusão de “igrejinhas” e “partidos”;
  • Distanciamento da liderança, em todos os níveis.
     
Mesmo sabendo que são esses os “vilões” que devemos combater diuturnamente na nossa atividade, recebi o resultado com alguma surpresa, pois achei que, pela amostra das empresas representadas, o engajamento, a integração e o conhecimento dos colaboradores poderiam ser bem mais efetivos. 
 
Vendo pelo lado positivo, fica evidente que há muito espaço para a comunicação atuar, tanto no campo estratégico quanto operacional. A propósito, estou convencido que a comunicação estratégica é, cada vez mais, a comunicação da estratégia.
 
E quanto mais esses espaços aparecem, e nós sejamos capazes de responder competentemente, mais estaremos atuando no combate aos buracos negros da gestão. Eles são a manifestação oculta da incapacidade da organização oferecer soluções para todos os seus gargalos de informação, processos e procedimentos. 
 
Infelizmente, muitos deles tornam-se “problemas de comunicação”, por falha no endereçamento correto da responsabilização. Mais que uma deficiência de desenvolvimento organizacional ou de gestão de projetos, esses buracos negros muitas vezes fazem sombra a ambiguidades e ambivalências que refletem uma cultura complexa e mal compreendida, até mesmo pela alta cúpula. E reforçam a constatação de que não há outro antídoto a não ser mais e mais integração entre áreas e pessoas, comprometimento das lideranças e compartilhamento de informações (estratégicas e funcionais). Os instrumentos para tanto estão ao alcance de todos. O que muitas vezes falta, e é indispensável, é a vontade política para instaurar e manter os processos de mudança.
 
Se o estimado e paciente leitor chegou até aqui, você deve estar se perguntando: e o elixir paregórico? Os mais antigos lembram que esse elixir é um sedativo intestinal que ainda hoje é consumido, como um bálsamo aplicável a qualquer queixa ou sintoma, para aliviar a dor e acalmar. Diz a bula é que é uma tintura canforada de ópio, com efeitos analgésicos e antiespasmódicos confirmados cientificamente. Ainda segundo a bula, seu uso com moderação é seguro e não causa qualquer efeito tóxico perceptível em indivíduos saudáveis (ou organizações, no nosso caso). Isso não lhe parece familiar? 

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