Há profissões que só são compreendidas por quem as exerce. Assessor de imprensa é uma delas. Às vezes, nem a família do assessor entende o que ele faz. Mas, saiba que essa profissão existe desde o começo do século XX. Em Outubro de 1906 o jornalista Ivy Lee foi contratado por John D. Rockfeller Jr., como expert em relações com a imprensa, para atenuar os impactos sobre o público com relação a um trágico acidente de trem, ocorrido na Pennsylvania Railroad. Ivy então teve a ideia de criar um texto padronizado, com um headline, um "olho" sumarizando a notícia, um texto enxuto para explicar o ocorrido e as ações corretivas tomadas pela empresa, quotes do John D. Rockfeller, finalizando com um "boiler plate" passando as informações institucionais sobre a Pennsylvania Railroad. A ideia era que todos os jornais americanos, de costa a costa, recebessem a mesma informação, ao mesmo tempo. Estava inventado o press release. Ivy também teve a ideia de fazer um public statement para jornalistas, no local do acidente, usando John Rockfeller para explicar o ocorrido. De quebra, Ivy tinha inventado o porta-voz e a conferência de imprensa.
Apesar de ter sido “inventada” por um jornalista, a profissão de assessor de imprensa pode ser exercida por alguém com formação em Relações Públicas, em Comunicação, Marketing e até mesmo com outras graduações, não ligadas a ciências exatas. A função principal de um assessor de imprensa é fazer com que seus clientes conquistem visibilidade e reputação, como meio para melhorar a percepção de valor da marca pelo público.
Embora o velho e bom press release ainda seja amplamente utilizado, hoje o trabalho do assessor se sofisticou bastante. Um assessor de imprensa moderno precisa não apenas ter um bom texto, ter bom relacionamento com jornalistas e editores das mídias mais relevantes, como também precisa conhecer bem o negócio de seus clientes, seu posicionamento, o perfil dos diversos públicos e os canais mais adequados para atingi-los. Aqui já não falamos mais apenas da imprensa como o único canal-alvo. Hoje existe todo um arsenal de canais à disposição da empresa, com destaque para blogs, mídias sociais, sites e hot sites, cujo uso deve ser balanceado junto com o canal imprensa.
Além disso, o assessor passa a se ocupar também da gestão da comunicação interna, da comunicação direta com stakeholders por meio de newsletters e/ou campanhas de relações públicas, da inteligência de comunicação, do monitoramento de mídias sociais e da gestão de perfis das marcas nas mídias sociais. Ou seja, "o leão da Metro continua o mesmo, mas o filme mudou". Estamos falando de uma evolução profissional, onde sai o (apenas) jornalista, para surgir um Especialista em Comunicação Corporativa, que além de escrever bem, tem que ter um viés mais técnico e saber adequar os textos a cada tipo de canal e público.
Na verdade, o novo profissional de Comunicação Corporativa é uma consequência direta da transmutação que estão sofrendo as mídias tradicionais, que deixam de ser apenas canais de eco das notícias dos setores corporativo, governo e terceiro setor, para se tornarem analistas setoriais, em diversos veículos, como portais de notícias, blogs, mídias eletrônicas, jornais e revistas reempacotados para leitura em devices móveis, TV interativa e rádio (que foi a mídia tradicional que mais rapidamente se integrou às mídias e redes sociais).
Além de todas essas novas mídias, podemos afirmar que a grande novidade do setor no século XX é a interatividade entre imprensa e público. Já não se distinguem mais os papéis do jornalista e do público. Frequentemente, o furo de notícia é dado pelo público, que fotografa e posta informações fresquinhas, 7 X 24, 365 dias por ano, in loco, como testemunha ocular dos fatos. Aí a imprensa corre atrás para fazer a repercussão e a análise.
Por outro lado, as empresas, antes fontes passivas de notícias para a imprensa, também estão mudando. Elas também passaram a atuar como media companies, postando diretamente fatos relevantes para os vários públicos, inclusive os jornalistas, em seus media newsrooms e media lounges.
E como fica o papel do assessor de imprensa, ou especialista em comunicação corporativa, nesse novo mundo? Fica diferente. Quer esse profissional trabalhe num house organ de uma grande corporação ou como intermediário subcontratado por meio de uma Agência de Comunicação Corporativa, ele mudou radicalmente seu job description nos últimos dez anos. Hoje, esse novo profissional, além de "vender" as pautas de seus clientes para a grande mídia, como sempre fez, precisa também produzir conteúdo digital, gerenciar os perfis de seus clientes no Facebook, Twitter, Youtube, LinkedIn, etc., monitorar as mídias digitais por meio de softwares especialistas, saber adequar os textos conforme o canal e o tipo de público e, principalmente, interagir e se relacionar com o público (que muitas vezes toma o seu lugar). Trata-se de um outro tempo, com uma outra dinâmica, e muito mais divertido.
Assessoria de imprensa, ou Comunicação Corporativa, não importa o termo, continua sendo um investimento barato e que traz grandes resultados em curto prazo. Esse trabalho deve contribuir para o atingimento de objetivos de negócio, mas atingi-los exige foco, paciência e dedicação. Construir uma reputação, influenciar a percepção do público sobre assuntos estratégicos, por diversos canais e interativamente, é trabalho de formiguinha, de médio a longo prazo.
Por fim, vale lembrar sempre: um bom trabalho de comunicação corporativa deve ser precedido de um planejamento estratégico de comunicação para estar alinhado aos objetivos de negócios da empresa. Além disso, tem de estabelecer critérios claros (métricas) para mensuração de resultados.