Dizem que todo mundo um dia vai passar pela fase de avaliar o passado e repensar o futuro. Não gosto muito de generalizações e nem sei se essa fase chegou antes da hora por aqui, mas fato é que chegou. A sensação de estar no “meio do caminho” e poder olhar para trás com a perspectiva do presente, considerando o que ainda está por vir, é tão complexa quanto desafiadora. E o que isso tem a ver com Comunicação?
Juro que não quero ser piegas, mas tem tudo a ver. Vai vendo... Por observação ou por experiência, cheguei à conclusão que a gente apreende - no sentido de apreender mesmo: assimilar, captar, perceber - a comunicação nos pequenos detalhes da vida. A escola nos forma, nos dá bases e conceitos. O mercado nos direciona, nos constrói, nos testa. Mas a vida nos dá referências.
Comecei essa reflexão quando fui convidada para falar sobre minha experiência para uma turma de estudantes de RP. A experiência é pessoal e relativa. Cada um tem a sua. Ainda não sei exatamente o porquê, mas acabei falando sobre as minhas impressões do que tinha dado certo ou errado na minha (ainda curta) trajetória profissional. Em resumo, abordei três pontos:
Primeiro, comece a trabalhar cedo. O mercado da comunicação precisa se reinventar sempre e pode te ‘expulsar’ cedo. Segundo, cultive seus relacionamentos desde o início. Nem sempre as coisas são o que parecem ser e você pode precisar recorrer a quem te conhece de verdade. Terceiro, aprenda a fazer conexões, entender o que esta por trás e interpretar cenários. Por mais estranho que pareça, tudo ou qualquer coisa pode ser importante para se comunicar.
Quando meu avô completou 90 anos (em julho de 2011), escrevi um texto para homenageá-lo. Sem nenhum exagero, ele era uma daquelas pessoas raras, considerada unanimidade por todos que o conheceram. Faleceu um mês depois do aniversário e foi constantemente apontado como um grande homem, um político honesto e exemplar, um líder irretocável, um profissional de destaque, um amigo dedicado, um chefe de família invejável. Para mim e para todos os seus netos e netas, tenho certeza, ele foi apenas o nosso querido avô. Mas “apenas”, neste caso, quer dizer muito. Quer dizer tudo.
Bem cedo percebi que cada minuto que passava ao lado dele era uma grande oportunidade de aprender a ser uma pessoa melhor. Por não raras vezes, suas palavras, contos e orientações soavam para nós – os netos – como uma aula de um ano inteiro. Com ele, aprendi valores sem cifrão. Aprendi a trabalhar cedo e, acima de tudo, a me encantar pelo meu trabalho todos os dias. Aprendi que a dedicação e a persistência podem fazer a diferença. Com ele aprendi a tirar leite da vaca, a andar a cavalo e a ouvir o barulho dos eucaliptos. Aprendi que a natureza não dá saltos; ela evolui.
Aprendi que tudo começa e termina com respeito e atenção. Por isso, aprendi que os relacionamentos precisam ser cultivados, independentemente de com quem você se relacione, sem distinção de origem, raça ou classe social. Aprendi a admirar a lua cheia, a me encantar pela música e a gostar da voz dos seresteiros. Aprendi a seguir por um caminho e ter orgulho dos meus passos. Aprendi a sonhar, a realizar os sonhos, mas aprendi também a lidar com o sucesso e com a frustração.
Aprendi que, muitas vezes, abrir os olhos e ampliar a visão pode ser tão importante quanto buscar outras perspectivas. A vida é mesmo cheia de surpresas e o que não parecia relevante antes, pode se tornar essencial.
O tempo passa rápido demais. Hoje, carrego comigo a certeza de que ele sempre será, além de tudo o que é para a grande maioria das pessoas que o conheceram, uma fonte de inspiração, uma referência de conduta, a quem minha consciência recorre quando a dúvida impera, a representação concreta da bondade e da verdade. A face serena. O sorriso que acalma. A mão forte. O abraço sincero. A palavra certeira.
Ele costumava dizer que "os feitos a história registra, mas os nossos afetos ficam, para sempre, impressos no coração”. É por essas e outras que acredito que a comunicação se apreende nos detalhes da vida. Concorda?