Estas são cenas reais do relacionamento entre as empresas, agências, mídia e outros tipos de audiência nos últimos 30 anos:
1983 (30 anos atrás): Começava minha carreira como jornalista em uma importante revista. Naquele tempo era tranquilo e, em geral, podíamos nos dedicar com esmero a escrever nossos artigos. De vez em quando, os assessores de imprensa percorriam a redação e se sentavam para conversar com a gente sobre algum novo produto ou iniciativa, deixando sobre a mesa um envelope com algum material para ler. Quando tínhamos tempo, dávamos uma olhada no material deixado. Alguns dias ou algumas semanas depois, o artigo, às vezes, terminava sendo publicado.
1993 (10 anos depois): Pouca coisa tinha mudado. As editoras tinham aumentado o controle para impedir a entrada livre dos assessores de imprensa. Estes já empregavam mais as ligações telefônicas e começavam a enviar também informações por fax. Já escrevíamos com o computador e recebíamos por ele as notícias das agências. Acelerou-se o processo de escrever e a edição dos artigos. Como jornalistas, éramos pressionados a entregar um número maior de artigos do que antes. No fim das contas, a tecnologia nos havia dotado de todos os elementos para fazer tudo isso de uma forma mais rápida.
1998 (5 anos depois): Ocorreu um novo salto na revolução das comunicações, embora naquele momento não fôssemos cientes disso: a internet tinha nascido. Naquela época, eu já não trabalhava como jornalista, mas como gerente de RP em uma empresa e, entre muitos projetos, estava envolvido na criação da página institucional. Alguns comunicadores achavam que enviar informações aos jornalistas por e-mail descuidava o contato pessoal. Os jornalistas, por sua vez, começavam a usar celular.
2003 (5 anos depois): Eu já estava trabalhando na Motorola, o que me permitiu, daquele momento em diante, ser uma testemunha privilegiada e ver como as inovações tecnológicas mudariam o mundo das comunicações. Os meios de comunicação baseados na internet reivindicavam um espaço junto aos tradicionais, os quais, em muitos casos, começaram a perder leitores e anúncios publicitários e, em decorrência disso, tiveram de enfrentar a redução de sua rentabilidade. Todos os jornalistas possuíam um celular e um endereço de e-mail. Estávamos repletos de “media tours”. Alguns jornalistas e muitos desconhecidos abriram seus blogs, opinando até mesmo sobre nossas empresas. “Quem são e a que se propõem? Quantos leitores possuem? Por que escrevem sobre nós?” Naqueles anos, essas perguntas nos deixavam intrigados.
2008 (5 anos depois): Alguns meios de internet já eram tão importantes quanto os tradicionais e, por outro lado, os principais meios do formato de papel já contavam com seus próprios websites. Os smartphones já eram populares entre os executivos e, aos poucos, chegariam ao público em massa. Os blogueiros já haviam conquistado um espaço entre a audiência. Facebook, Twitter e outras redes começavam a gerar novos fenômenos e, em algumas ocasiões, crises significativas para algumas empresas. O e-mail e o telefone eram as maneiras habituais para que pudéssemos nos comunicar com nosso público. Os notebooks se tornaram menores e mais leves. Já era possível encontrar wi-fi disponível em determinados lugares públicos e as pessoas se conectavam cada vez mais em qualquer lugar.
2010 (dois anos depois): Foi lançado no mercado o primeiro tablet, e tudo mudaria novamente. Os smartphones começavam a se tornar populares. Ocorreu o boom das redes sociais, com as informações circulando e sendo transmitidas como nunca. Em qualquer canto, havia 3G ou wi-fi, permitindo uma conexão permanente. As pessoas deixavam seus comentários no rodapé das noticias dos jornais. Nascia o conceito do “cidadão jornalista”, fotografando, comentando e publicando informações seja onde ele estiver e como quiser, pelas redes sociais e por outros meios. As empresas foram obrigadas a desenvolver campanhas para as redes sociais, com conteúdo multiplataforma. No entanto, a imagem corporativa nunca foi tão vulnerável na mídia quanto agora, a partir dos riscos gerados pelos novos meios e pelas redes sociais.
2013 (três anos depois): O mercado oferece cada vez mais tablets (de 10 a 7 polegadas), smartphones e até equipamentos intermediários de 5 ou 6 polegadas. As pessoas já estão lendo mais informações nas telas eletrônicas do que no formato papel e o número de telas móveis é cada vez maior. Muitos utilizam os leitores de RSS, também conhecidos como “agregadores de notícias”, para poder ler o que querem, quando e onde querem ler. As demais notícias praticamente já não importam mais. A mídia possui, cada vez mais, menos influência na “agenda” diária de notícias, porque cada pessoa lê apenas o que lhe interessa. E, enquanto o público desfruta dos novos equipamentos e experiências, a mídia se pergunta qual o caminho a seguir. As empresas, por sua vez, testam, de forma permanente, novas estratégias para chegar ao público, obtendo como resultado um sucesso variável, com mais perguntas do que respostas.
2020? (em apenas 7 anos): Como a tecnologia evolui em um ritmo tão acelerado e com inovações que surgem a cada 5 anos ou talvez menos, é impossível prever qual será o panorama em um futuro bem próximo. No entanto, muitas das tendências que observamos agora continuarão ao longo do tempo. As pessoas lerão mais diretamente nas telas eletrônicas do que a partir do formato papel, obrigando à mídia a se adaptar para sobreviver. A TV também sofrerá o impacto, já que muitos vão preferir o tablet pessoal a assistir televisão. Os jornalistas também deverão aprender a lidar com um contexto de conteúdos multiplataformas. A velocidade do desenvolvimento tecnológico tem se acelerado cada vez mais, criando novos hábitos para os consumidores de informações e pressionando, por sua vez, a mídia a se adaptar para sobreviver. E os comunicadores corporativos?
Nós, como comunicadores, manteremos os princípios essenciais de nossa profissão: temos mensagens para ser transmitidas a nosso público e sabemos que entendê-lo é essencial para nossa organização. Em termos clássicos, sabemos “o que” queremos transmitir, a “quem” e “por quê”. O que muda radicalmente é “como”. As práticas que empregávamos há poucos anos já são obsoletas. As atuais, por outro lado, podem também ser obsoletas em poucos anos. Devemos pensar em “conteúdos multiplataformas”, em redes sociais, em monitoramento permanente, em atingir, como nunca antes, um público mais amplo e dinâmico.
Portanto, embora a essência de nossa profissão continue sendo a mesma, para continuarmos fiéis a ela devemos “nos reinventar” o tempo todo, permanecendo de olho nas novas tendências, mediante uma forma de comunicação eficaz que possa chegar até nossa audiência.
Estamos dispostos a fazer isso ou, pelo contrário, continuaremos atrelados aos antigos paradigmas?