Encontros e Desencontros no Congresso
Mais um ano se foi, e novamente todos juntos no Congresso. Como todo evento, sinônimo de sucesso, patrocínio, vitória, e união. É o momento do reencontro, de mostrar as conquistas alcançadas no decorrer do ano. Realizações. Novos postos. Nova vida. E quem não gosta? Ser famoso? Fascinante?
Tudo isso, mas também, ser reconhecido. Afinal, toda vitória precisa ser mostrada, compartilhada, vista. E nada melhor do que nesse momento, onde todos que saberão apreciá-lo estão presentes.
Adeus banalidades do dia-a-dia. Levar crianças ao colégio? Sair mais cedo para pegar aquele teatro com a mulher? A empregada saiu, faltou? Por favor, poupem o congressista. Nesses dias, todos estão acima dos detalhes.
Roupa com talhe perfeito, Cardim, Hugo Boss... não, Armani. Tailleurs.... Versace, agora estão em alta. Sapatos e cintos, de preferência italianos. Bolsa, Dior. Perfume, lavanda ou colônia? A melhor, que fixe, deixando aquele aroma sensual. Barba bem aparada, cabelos perfeitos, pronto. Ah! falta o celular – I phone, resolvido..
Tudo pronto. Tão lindos, empolgantes. Homens e mulheres de nossos sonhos.
Agora, todos reunidos. Nossa, quanta gente! É preciso ser visto, senão tudo o que foi escrito acima fica inadequado. E, na ânsia de mostrar sua vitória, o posto alcançado e que nós tão bem compreendemos e reverenciamos, é que tudo se perde.
O Mestre de Cerimônias fala:
“Senhoras e senhores, autoridades presentes. Estamos dando início a .......
trim...trim......trim...............
- É o meu celular.
- Não, é o meu.
- Psiu. Quero ouvir. Saia para atender.
.....mais uma edição do Congresso......
trim...trim! Mais um celular.
- É o seu. Atenda logo!
- Psiu! Psiu!
Pronunciamento concluído, nada foi ouvido. Muitos celulares. Status ou praticidade? Talvez os dois, mas utilizado de maneira inadequada. Não seria melhor, delicadamente, abrir o telefone no primeiro toque e sair da sala para atendê-lo? Ou deixá-lo no vibracall? Privacidade para você, respeito aos colegas.
Quando não é o bendito celular, são os encontros tropicais e efusivos dos brasileiros. Tapas, abraços, gritos, berros, em pleno anfiteatro do Congresso e, mais uma vez, não se ouve nada. Sentimentos são para ser demonstrados. Mas, dentro do plenário? Que tal exprimí-los, amigavelmente e em tom normal? De novo, privacidade para você, respeito aos colegas.
E os intervalos para o coffee-break? Um corre-corre danado. Todos, tão elegantes, mas tão esfomeados.
- Passa uma empadinha.
- Quero um sanduiche.
- Rápido, tenho pressa.
- Um café e uma coca. Gelada! Está quente, eu disse: gelada!!!!!
Todos falam ao mesmo tempo, gritam com os serviçais, comem com pressa e gula.
Calma seria muito bom e aconselhável. Saboreia-se a comida, e ainda se tem tempo para um bom papo, sem estresse.
Retorno ao plenário. Novas palestras, novos debates, reciclagem, troca de experiências, novos conhecimentos. Todos crescem, e nós apreciamos esse tipo de evento cada vez mais.
O Mestre de Cerimônias reinicia:
Dando continuidade aos nossos trabalhos do dia, tenho a satisfação de convidar....
trim.... trim......trim.......
- Oh! é o meu celular, afirma sem constrangimento o próprio Mestre de Cerimônias.
- Já volto, mas também não poderia convidar o palestrante e reiniciar os trabalhos. Ele também está ao telefone, conclui.
Sentiram? Vamos aproveitar o Congresso, viver, encontrar, crescer e aparecer. Sem gritos, sem celulares tocando, sem necessidade de afirmar nossa importância, que, todos sabem que existe.
Esse final me fez lembrar do senador Antonio Carlos Magalhães que tem como norma de vida:
“Gritos e brigas, só com pessoas acima de você. Abaixo, não traz nada em troca, não se aparece e, ainda, se corre o perigo de ser chamado de covarde”.
Tudo o que foi falado é etiqueta? Não. Só boas maneiras da pessoa vencedora.
Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje
e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 1157
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