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Carolina Avellar


Jornalista e Relações Públicas pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, pós-graduada em Gestão Estratégica de Comunicação Organizacional e Relações Públicas pela ECA/USP e especialista em Comunicação Corporativa, Publicitária e Política pela Universidad Complutense de Madrid/Espanha. Com mais de 12 anos de experiência na área de Comunicação, já atuou como cliente, assessora de imprensa e repórter. É mestranda em Comunicação pela ECA/USP e desde 2011 coordena a área de imprensa e gestão de crises da Bunge Brasil. 

Título: Precisa-se de Relações Públicas com 2º grau completo

              Publicado em 06/11/2013

A tarefa de escolher um tema para estrear a coluna aqui não é nada simples. Quer saber a verdade? Não sabia nem por onde começar, mas precisava encontrar um tema que correspondesse com um “começo”, de preferência um bom começo! E foi assim que me lembrei de um texto que, de certa forma, marcou minha entrada na profissão. O ano era 2002. Estava naquela (deliciosa) fase de entregar os convites da formatura. Eram poucos e eu queria convidar muitos – amigos, família, colegas do estágio, do inglês, da natação... Aí me dei conta de que eu precisava enfrentar um desafio maior: tentar explicar com o quê eu deveria trabalhar depois de formada. Minha avó queria que eu fosse médica, meu pai esperava ter uma filha advogada, e, se fosse engenheira, certamente não ia precisar explicar nada.

No meu mundinho, escrever sempre foi mais fácil do que falar. E, depois dos quatro anos de faculdade, aprendi, entre outras coisas, que um texto bem explicadinho pode ajudar a quebrar o gelo para uma boa conversa. Confesso que não fiquei muito surpresa com a reação dos meus queridos convidados depois de lerem o que vocês vão ler a seguir. Muitos me ligaram, me procuraram e me agradeceram. Quase todos queriam dizer sobre a dúvida que tinham desde o início do meu curso: não entendiam exatamente o que fazia um RP, mas claro, ficaram sem jeito para perguntar... Hoje, mais de 10 anos depois, tenho certeza que isso não seria tão necessário como foi na época. Avançamos bastante. Mas caso você seja um RP prestes a se formar ou conheça alguém nesse perfil, fique à vontade para compartilhar. A tarefa de contar para todo mundo, divulgar, promover, noticiar e explicar bem explicadinho é bem a nossa cara! Leia com seus próprios olhos: 

 

“PRECISA-SE DE RELAÇÕES PÚBLICAS COM 2º GRAU COMPLETO”

Encontrei esse anúncio nos classificados de domingo, poucos meses atrás. É engraçado como a gente se acostuma com as coisas erradas da vida... E, com certeza, não faltaram candidatos: aqueles que querem ser populares, promover festas e recepcionar convidados. No momento em que me torno Bacharel em Comunicação Social, com ênfase em Relações Públicas, decidi tomar atitude para esclarecer um pouco isso. Nem que for para mim mesma. 

Na verdade, teria sido astronauta se fosse menor a minha vontade de convencer as pessoas. Viveria no espaço se conseguisse ficar distante de tudo: da sujeira que sai do jornal, do chiado do rádio, da luz engraçada que sai da televisão, das crises e problemas que surgem nas empresas. O falatório das pessoas é meu alimento; e dizem que no espaço a gente só come pílulas. Poderia ter sido médica, engenheira, bióloga, veterinária, advogada, ou exercer qualquer outro ofício que me sustentasse e trouxesse um pouco mais de felicidade. Joguei tudo fora e escolhi a Comunicação¹. O nome da minha profissão é "pessoas"; por isso, acredito no relacionamento entre elas. 

O Relações Públicas (RP) não é um psicólogo nem um profissional de Administração que cuida, essencialmente, dos recursos humanos ou financeiros de uma empresa. Não é, necessariamente, um cara muito descolado e animado, que está sempre disposto a organizar festas e encontros da “galera”. Para você que quer saber o que eu vou fazer daqui para frente, tente imaginar um profissional que misture a visão do administrador, a sensibilidade do psicólogo, a perspicácia do jornalista e a criatividade do publicitário. O RP é um gerenciador, um planejador, um estrategista da Comunicação.

O trabalho de um RP está mais voltado para a construção, manutenção e ampliação da imagem institucional da empresa do que para o produto oferecido por ela. Depois dos funcionários, um dos grandes patrimônios de uma instituição (quer você queira ou não) é sua reputação, ou a imagem da sua marca perante a sociedade. Por isso, as organizações investem tanto em motivar os empregados e criar uma marca forte, de fácil identificação com o público. Quer um exemplo clássico? Quando você pensa em refrigerante, o que vem primeiro à sua cabeça? Coca-Cola ou Guaraná? São marcas fortes, de empresas fortes. As atividades de RP, em parceria com a publicidade e o jornalismo, produzem uma comunicação eficaz, completa, total, da empresa com seus públicos. Mas que diabos são esses públicos? Funcionários, clientes, fornecedores, acionistas, comunidade, imprensa, governo e entidades de classe são alguns públicos diretamente ligados às empresas. Você, com certeza, é um público de “alguém”... E as empresas devem satisfações e um bom relacionamento a seus públicos.

Aí está, o papel do RP é ajustar as expectativas e necessidades desses públicos e administrar os interesses da instituição, ou seja, mediar. Para isso, ele precisa desenvolver planos de comunicação, planejar ações e identificar oportunidades favoráveis. Vamos aproveitar e esclarecer, de uma vez por todas, esse negócio de RP promotor de festas! O RP pode sim fazer eventos, mas eventos com um objetivo definido e não aquelas festas comuns, cheias de “tin-tins”. Embora alguns insistam em ser “promoters”, eventos fazem parte de uma estratégia, são instrumentos, e podem ter a intenção de lançar um produto ou fidelizar clientes... Nesse caso, a função do profissional de RP é assessorar a organização do evento para que os objetivos sejam alcançados e, depois, avaliar o resultado final. 

Para ficar ainda mais fácil entender o trabalho de um RP, permita-me dar mais um exemplo. Diretores de grandes e pequenas empresas, às vezes, dizem: “Não sabemos nos comunicar!”. As multinacionais também não conseguem se comunicar bem com seus públicos. Privatizações, fusões e crises de identidades tornam-se cada vez mais comuns no meio empresarial. Em fevereiro de 1997 as vendas de palmito de uma indústria de conservas no Brasil foram suspensas pela vigilância sanitária. A acusação: uma jovem teria se intoxicado com a bactéria causadora do botulismo após comer o palmito daquela marca. Os testes com o lote suspeito isentaram a empresa de qualquer culpa. Os prejuízos para a instituição foram dois meses sem vender um único vidrinho de palmito, uma lenta recuperação da imagem da marca e dois milhões de reais a menos no caixa. Talvez, se houvesse a participação de um Relações Públicas, a empresa estaria preparada para enfrentar o mau tempo, mesmo vindo de fora e de repente. Quando isso ocorre, geralmente, os empresários procuram cortar gastos. A primeira área afetada não deveria ser a Comunicação, pois, nessas horas, ela não se mostra tão subjetiva quanto parece. Nesse caso, as Relações Públicas poderiam contribuir para a superação e o gerenciamento da crise.

Bem, mas não só de conflitos e crises vive um RP. Ele pode ainda ser responsável pela identificação de oportunidades de ações culturais e sociais das organizações junto à comunidade, ou até ajudar a empresa e seus funcionários a trabalhar sua responsabilidade social, projetando a melhor forma de divulgar campanhas e obter os resultados desejados. E não pára por aí. Um dos problemas que interfere no posicionamento do profissional de RP é exatamente a multiplicidade de possibilidades de atuação. Por isso, antes de um futuro promissor, há um presente a ser transformado nas Relações Públicas do Brasil. Se você entendeu o que isto significa para o amadurecimento das nossas empresas, abrace essa causa. Relações Públicas é profissão e paixão, fonte de riso e dor, motivo de revolta e orgulho, atividade que assumo e que me deixa ainda mais próxima da felicidade.

 

Carolina Avellar - Janeiro de 2002

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¹ Adaptado, com autorização de Débora Mattos

 


Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 2881

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