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COLUNAS


Marcelo Mendonça


Jornalista pela Escola de Comunicações e Artes da USP, com aperfeiçoamento na Universidade de Michigan (EUA) e MBA em Gestão Empresarial pela FGV, Marcelo Mendonça é diretor executivo da FSB Comunicação em São Paulo. De novembro de 2007 a dezembro de 2013, foi diretor de Assuntos Corporativos da TAM, responsável por comunicação corporativa e relações institucionais e governamentais. Nesse período, foi conselheiro da Aberje e membro do Comitê Estratégico de Relações Governamentais da AMCHAM - Câmera Americana de Comércio. Marcelo foi também diretor de Comunicação da multinacional de tecnologia EDS no Brasil e vice-presidente da agência MVL Comunicação, onde atuou na gestão da crise do acidente com o voo 1907 da GOL, em 2006. Como jornalista, trabalhou por nove anos na Folha de S.Paulo, onde foi repórter especial, correspondente em Washington e repórter em Brasília, entre outras funções; foi também secretário de Redação do Jornal da Tarde e diretor de Redação do Metro News, além de colaborar com diversas publicações no País.  

Somos todos digitais?

              Publicado em 20/03/2015

Nosso mundo é cada vez mais digital, certo? Certo. Estamos conectados o tempo todo, postando o tempo todo no Facebook, no Twitter, no Instagram. Formamos grupos via WhatsApp, fazemos selfies a cada passo, por qualquer motivo – sem motivo às vezes... Mas se pararmos para pensar um pouco sobre como se dá nossa interação com os aparelhos que dão acesso aos bits e algoritmos que regem nosso dia a dia, seguimos na condição de seres “analógicos”, como nos últimos milhares de anos da evolução humana.

Claro, quem já nasceu nesta era de smartphones e games online está perfeitamente à vontade no mundo conectado, e há crianças que aprendem a codificar antes mesmo de completar o estudo tradicional.  Mas ainda há um descompasso importante entre o avanço das tecnologias digitais e o desenvolvimento dos meios de interação entre o ser humano e os dispositivos lançados no mercado. Esse descompasso vem gerando uma nova categoria de excluídos, aqueles que o avanço digital vai deixando à beira da estrada, quase sempre confusos e envergonhados com sua própria inadaptação.

Os dispositivos móveis são um bom exemplo. A miniaturização melhorou a mobilidade da comunicação, mas os aparelhos são de difícil operação por aquele segmento que pegou a revolução digital na faixa dos 60 anos em diante. Em um país com a expectativa de vida em alta, isso significa tratar mal um mercado consumidor altamente valioso.

Mais: digitar constantemente mensagens, às vezes longas, nos smartphones criou uma nova categoria de lesões de esforço repetitivo a afligir executivos – a “Síndrome do BlackBerry”, depois acompanhada pela “Síndrome do WhatsApp”, não confinada ao mundo corporativo. Nossos dedos não foram criados para esses movimentos, no volume e intensidade que precisamos para usar os teclados dos smartphones, mesmo que escrevamos na própria tela.

A necessidade de aumentar a segurança nos terminais de autoatendimento bancário também expõe esse fenômeno de “exclusão digital”. A antiga senha numérica não é mais suficiente. Em vários bancos, ela deve ser seguida por um grupo de letras – e a cada letra selecionada (dentre vários grupos de letras expostos aleatoriamente na tela), os grupos são trocados e rearranjados na tela exibida em seguida para a seleção da segunda letra. E assim por diante. Para alguns clientes, já com o nível de atenção e concentração reduzido pela idade, trata-se de uma verdadeira maratona. Vem a capitulação, e a busca de ajuda de terceiros, com o que caem por terra dois conceitos de uma vez – o autoatendimento e a segurança.

Não dá para esperar outros milhares de anos de evolução humana para que estejamos mais bem adaptados à operação de dispositivos cada vez menores criados pela onda digital – nem esperar que só restem na face da terra pessoas acostumadas com computadores e smartphones. A grande missão hoje é fazer com que a evolução tecnológica caminhe em harmonia com a escala humana – que o design de ferramentas e dispositivos seja voltado para o usuário, respeitando suas necessidades e limitações.


Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 1121

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