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COLUNAS


Jean-François Hue


Com sólida trajetória nas áreas de marketing e de comunicação empresarial, já atuou em organizações renomadas como Air France, Copersucar, Saint-Gobain, Abril e Accor. Em 2009 criou a sua própria empresa, a Spyrals, para dedicar-se principalmente à Comunicação Organizacional orientada para o desenvolvimento dos negócios.

Formado em Administração Pública e pós-graduado em Administração Mercadológica (CEAG) pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, participou do 4º Curso Internacional de Comunicação Empresarial da Aberje e Syracuse University, frequentou cursos de especialização no exterior, ministrou palestras e é autor de artigos sobre marketing e comunicação publicados em mídias de grande circulação.

Atualmente é membro do Conselho Fiscal da Aberje, tendo atuado junto ao Conselho Deliberativo da associação de 2002 à 2014. Também integrou o Colégio Eleitoral da ECA-USP entre 2006 e 2008, para a escolha dos finalistas do Prêmio USP de Comunicação Corporativa. Participou de várias edições do Prêmio Aberje como jurado na categoria Relações com o Público Interno e foi indicado como um dos dez profissionais de Comunicação Institucional no Prêmio Comunique-se em 2007 e 2008. Eleito conselheiro da Câmara do Comércio França-Brasil desde 2010, integrou o Conselho Editorial da revista França Brasil até dezembro de 2013 e participa da Comissão de Comunicação.

País rico é país sem pobreza

              Publicado em 06/06/2014

Esse mote criado em 2011 e utilizado nas propagandas do governo incomoda tanto no seu conteúdo, que parece não se aplicar ao Brasil, como na sua forma camaleônica, semelhante a uma afirmação com ares de interrogação.

Sob o prisma da comunicação, um aspecto que perturba é o modo ablativo da sentença que abriga uma preposição de exclusão e torna necessário o uso de um termo crítico que remete a um dos grandes males da nossa sociedade. Para gerar um impacto positivo junto ao público, teria sido muito mais produtivo utilizar a preposição “com”, de forma a agregar algum conceito de valor e reforçar então o lado construtivo da mensagem.

Por tratar-se de uma propaganda do governo, é legítimo pressupor que seus argumentos espelham uma realidade do País. Mas essa assertiva que, no fundo, é de uma veracidade indiscutível, ululante do tipo “Produto bom é produto sem defeito” ou ainda “Serviço excelente é serviço sem falha”, se aplica ao Brasil?  

País rico pode ser definido como aquele que promove oportunidades iguais de acesso ao conhecimento e estimula os investimentos, a geração de empregos, a tecnologia, a segurança e o crescimento individual e coletivo. Em outras palavras, uma nação é rica na medida em que ela investe em educação, a qual se reverte em conhecimento, condição indispensável para gerar riqueza.

Infelizmente, em termos de educação, o Brasil deixa a desejar, e muito, conforme revelado por diferentes levantamentos. Por exemplo, num estudo recente acerca do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, que testou alunos de 15 anos sobre conhecimentos em matemática, leitura e ciências, o Brasil ocupa a 58ª posição entre 65 países participantes.

Porém, o fato mais preocupante diz respeito as carências no tocante a alfabetização: segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD, realizada pelo IBGE em 2012, o Brasil abriga ainda um contingente de quase 13 milhões de analfabetos, ou seja, 8,6% da população, e ocupa o nada invejável 8º lugar entre 164 países analisados. Para agravar um pouco esse cenário deplorável, devem ainda ser somados 30,5 milhões de analfabetos funcionais, um número equivalente a cerca de 20,4% da população brasileira. Esse quadro inquietante parece corroborar a mensuração da taxa de alfabetização, realizada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD 2005/2008 e no qual o Brasil, detentor de um índice de 90,3%, se encontra no 95º lugar, atrás de um número expressivo de países latino-americanos como Uruguai (97,9%), Argentina (97,6%), Chile (96,5%), Venezuela (95,2%), Paraguai (94,6%), México (92,8%), Colômbia (92,7%) e Bolívia (90,7%).

Ao lado da saúde e do acesso aos serviços públicos e privados, a disponibilização da educação é um dos eixos considerados pela ONU para compor o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, a fim de avaliar a qualidade de vida e o desenvolvimento econômico de uma população. No ranking mundial de 2011, liderado pela Noruega com um índice de 0,943, o Brasil figura na 84ª posição com 0,718, ou seja, ligeiramente acima do número médio 0,682. Na classificação de 2012, o Brasil perdeu uma posição, ficando em 85º lugar, apesar de obter um índice de 0,730, um pouco maior do que no ano anterior, mas inferior à média dos países da América Latina e Caribe, 0,741, e de alguns países vizinhos como Chile (0,819), Argentina (0,811), Uruguai (0,792), Venezuela (0,748) e Peru (0,741).

Embora apareça em 2012 no 6º lugar na economia mundial, com um PIB equivalente a 2,242 trilhões de dólares, o Brasil, segundo dados veiculados pelo IBGE, posiciona-se com muito menos brilho quando analisada a Renda Per Capita, a qual permite comparações melhor fundamentadas pois, além de levar em consideração o valor decorrente de todos os serviços e bens produzidos no ano, esse índice abarca o tamanho da população dos respectivos países. Assim, a Suíça, com seu modesto PIB de U$ 631,18 bilhões, possui a melhor Renda Per Capita do mundo, U$ 78.924,00, e os Estados Unidos, líderes em termos de PIB, não passam de U$ 51.163,00, posicionando-se atrás de várias nações como Noruega, Austrália, Dinamarca, Suécia e Canadá. Com U$ 11.347,00, o Brasil se encontra longe do topo da lista, sendo inclusive ultrapassado por vários países vizinhos como Chile (U$ 15.363,00) Uruguai (U$ 14.703,00), Venezuela ((U$ 12.767,00) e Argentina (U$ 11.610,00).

O PIB permite mensurar a riqueza, coletiva e individual, mas não evidencia as desigualdades sociais que impactam o padrão de vida de uma população. Complementando o IDH, o coeficiente GINI é outro parâmetro internacional, expresso em pontos percentuais e que mede a desigualdade em vários campos, inclusive no que tange à distribuição de renda. A sua escala varia de 100, simbolizando a mais completa desigualdade, até 0, extremo oposto onde, teoricamente, todos os habitantes disporiam de um rendimento idêntico. Pode-se afirmar que maior a concentração da renda, mais aguda é a privação da sua população em termos de saúde, de educação e de expectativa de vida. Nesse quesito, o Brasil ostenta um índice de 51,9, bastante aquém da média mundial estimada em 39,0, longe dos líderes como a Suécia (23,0) e um pouco atrás de alguns países sul-americanos, tal como o Uruguai (45,3) e a Argentina (45,8).

Finalmente, a prática do esporte pode ser vista igualmente como um indicador social focado na qualidade de vida de uma população, notando-se, por exemplo, uma certa correlação entre as conquistas olímpicas, evento mundial que contempla uma vasta gama de esportes, e os múltiplos índices socioeconômicos. De forma geral, as melhores posições são conquistadas por países com elevada qualidade de vida e que, para complementar o nível educacional de sua população, estimulam a prática de modalidades esportivas.

Considerando-se os Jogos Olímpicos de Londres em 2012, é interessante constatar que, a partir de uma fórmula na qual o número de medalhas obtidas por um país é dividido pela população, os Estados-Unidos, apesar de classificados em 1º lugar com um total de 104 pódios, tiveram efetivamente um desempenho menos expressivo com um quociente de 0,3293 medalha por milhão de habitantes e deixaram a liderança para países como Dinamarca (1,6071), Austrália (1,5283) e Grã Bretanha. Por sua vez, e com 17 medalhistas, o Brasil atinge uma modesta colocação com uma eficiência equivalente a 0,0853.

Voltando ao mote, o Brasil é um país rico ou não?  Sob certos aspectos, é legítimo afirmar que o Brasil possui riquezas: por exemplo, recursos minerais e hídricos em abundância, uma fauna e uma flora de notável diversidade, áreas cultiváveis extensas, um solo fértil associado a um clima ameno e, para encerrar a enumeração de dotes divinos, as belezas naturais invejáveis e invejadas.

Para explorar esse hardware de vasto potencial, o software lança mão de abundante criatividade, fonte de soluções inovadoras, mesmo se eventualmente pouco ortodoxas. Os reflexos dessa imaginação tão fértil se manifestam em diversos campos: na arte de maneira geral, na ousadia da arquitetura, na indústria de ponta, particularmente na aeronáutica, na complexa exploração de petróleo e até mesmo na informática ao serviço do processo eleitoral. Vale frisar que o Brasil é uma das raras nações no mundo, a única na América Latina, a se utilizar de urnas eletrônicas, um recurso moderno, mas que, por motivo ignorado, não foi adotado por outros países.

Finalizando, pode se dizer que, apesar do seu patrimônio respeitável, o Brasil está ainda longe de ser um país rico. Para atingir esse patamar, serão necessários maiores investimentos em educação, de forma a promover indispensável conhecimento e, por consequência, gerar condições para um desenvolvimento sustentado. Além da inexatidão da afirmação, da falha na sua construção para o propósito idealizado, a sentença criada pelo Governo não retrata a realidade. “País rico é país com educação” teria sido uma mensagem correta, além de impactante, mas que infelizmente não se aplica ao Brasil de hoje.

Esse mote acaba sendo uma provocação, mas com um efeito positivo, pois estimula a reflexão em torno do papel fundamental da educação para a riqueza de uma nação.


Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor. 2426

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