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COLUNAS


Marcelo Mendonça


Jornalista pela Escola de Comunicações e Artes da USP, com aperfeiçoamento na Universidade de Michigan (EUA) e MBA em Gestão Empresarial pela FGV, Marcelo Mendonça é diretor executivo da FSB Comunicação em São Paulo. De novembro de 2007 a dezembro de 2013, foi diretor de Assuntos Corporativos da TAM, responsável por comunicação corporativa e relações institucionais e governamentais. Nesse período, foi conselheiro da Aberje e membro do Comitê Estratégico de Relações Governamentais da AMCHAM - Câmera Americana de Comércio. Marcelo foi também diretor de Comunicação da multinacional de tecnologia EDS no Brasil e vice-presidente da agência MVL Comunicação, onde atuou na gestão da crise do acidente com o voo 1907 da GOL, em 2006. Como jornalista, trabalhou por nove anos na Folha de S.Paulo, onde foi repórter especial, correspondente em Washington e repórter em Brasília, entre outras funções; foi também secretário de Redação do Jornal da Tarde e diretor de Redação do Metro News, além de colaborar com diversas publicações no País.  

Brincando com o Big Data

              Publicado em 23/05/2014

Há pouco mais de um mês, a Folha de S.Paulo publicou uma entrevista com dois pesquisadores, Erez Aiden e Jean-Baptiste Michel, sobre o Big Data – aplicações com o uso de grandes quantidades de dados. No livro que escreveram sobre seus experimentos, “Unchartered: Big Data as a Lens on Human Culture(algo como “Não Mapeado: Big Data como uma Lente sobre a Cultura Humana”), eles analisam o Google Books. Criado formalmente no início dos anos 2000, o Google Books é o ambicioso projeto de digitalização e indexação da “biblioteca mundial”, cujos primórdios geraram a primeira versão da tecnologia de busca sobre a qual o Google vem construindo seu império.

Da pesquisa dos cientistas surgiu, em 2010, o Ngram Viewer. No ambiente do Google Books, esse buscador pode determinar a incidência de um termo e comparar seus registros em milhares e milhares de livros que estão na base de dados organizada pela empresa.

Como toda ferramenta de pesquisa, o Ngram Viewer tem limitações. Entre os cerca de 30 milhões de livros digitalizados pelo Google, ele pesquisa em até 8 milhões, escritos nos idiomas que contavam com mais títulos digitalizados e que fossem compreendidos pelos dois pesquisadores, como o inglês, o francês e o espanhol (complementados posteriormente com “idiomas históricos”, segundo Michel). Ou seja, não é possível pesquisar títulos em português.

Ainda assim, resolvi experimentar o Ngram Viewer usando termos da nossa área, a comunicação organizacional, cujo corpo teórico é influenciado pela produção acadêmica norte-americana. Definindo-se o período da pesquisa entre 1800 e 2008 (a mais recente disponível), nos títulos em inglês disponíveis no Google Books, o gráfico gerado mostra que o termo public relations, ou PR, como é largamente usado nos Estados Unidos, supera com enorme folga os termos corporate communication e organizational communication na literatura desse período.

 

 

Clique na imagem para visualizar o gráfico em maior resolução

 

A ferramenta deixa claro que, até o começo do século 20, a expressão public relations era rara nas publicações em língua inglesa já digitalizadas pelo Google, sendo mais usada no contexto hoje mais conhecido como public affairs, relativo à esfera pública das administrações. Só a partir dos primeiros anos do século passado começam a surgir menções à atividade de relações públicas no sentido hoje consagrado – não por acaso, quando desponta nos EUA o trabalho de Ivy Lee, considerado o pioneiro do PR.

O uso da expressão cresce lentamente até 1920, quanto toma impulso e aumenta exponencialmente até seu pico em meados dos anos 1950. A partir daí, diminui o número de ocorrências do termo até por volta de 1970, estabilizando-se nos anos seguintes, embora num patamar elevado.

Já a expressão organizational communication surge pela primeira vez no início dos anos 1940 e toma pequeno impulso nos anos 1970. Corporate communication aparece depois nessas publicações, por volta de 1950, e seu uso cresce num ritmo ainda menor que organizational communication, mesmo no século atual.

Mas qual a importância dessa manipulação de variáveis proporcionada por esse tipo de ferramenta? O cientista Jean-Baptiste Michel responde, na entrevista a Rodolfo Lucena, na Folha: “Vimos ser possível fazer estudos significativos da cultura e da sociedade usando ferramentas quantitativas como o Ngram Viewer (...) É um objeto para a criatividade, para que você possa fazer novas perguntas”.

Novas perguntas. Aí está a importância desse recurso. O que fiz aqui foi quase uma brincadeira, sem rigor científico, com expressões próprias do setor de comunicação organizacional. Fica o convite aos estudiosos e profissionais da área para que aproveitem a oportunidade de formular suas próprias perguntas, usando a ferramenta, aprofundando-se na análise dos resultados, além dos limites de uma coluna como esta.

A entrevista na Folha de S.Paulo pode ser acessada por aqui (pode ser necessária assinatura para acessar).

 

Para acessar a ferramenta Google Ngram Viewer, basta entrar aqui


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