* por Paul Edman e Ana Franchon
A desinteriorização significativa a partir da experiência intensa. A confluência das percepções individual e coletiva na consolidação da percepção universalizável, da representação social. A possibilidade mediativa e representativa das narrativas que encerra a possibilidade de comunidade, suas adaptações e continuidade. Outro sentido do olhar, do ver. A tomada da consciência a partir da reflexão sobre as ambiguidades e os paradoxos expressados no poder de síntese dramática amparada e amplificada pelo seu aspecto multimídia. Assim é o Teatro, em alguns dos seus aspectos: a materialização de um mundo paralelo que nos ajuda a compreender e vivenciar o mundo real.
A prática teatral se vale do drama, ou seja, da ação interpretativa deliberada, planejada e construída com objetivos específicos, tendo como cerne o conflito, as argumentações e contra-argumentações, a construção e desconstrução das opiniões a partir de esteriótipos, caricaturas. É uma possibilidade completa de diálogo no sentido literal, pois traz na sua essência a expansão da liberdade mental, que dentre outros benefícios, desarma as possibilidades de retórica.
A prática do Teatro pode ser um poderoso meio de comunicação nas organizações, que supera o caráter disseminativo da comunicação tradicional. O Teatro pode possibilitar a educação permanente, pois sua linguagem é universal, revestida de didatismo e, portanto, passível de compreensão por todos. A prática do Teatro também pode desenvolver habilidades de socialização, relacionamento e aumento de auto-estima que independem do sucesso da encenação de uma determinada peça. Se o resultado servir para transformar uma única pessoa, já valeu.
Na Área dos Serviços Compartilhados da Petrobras, em São Paulo, a prática do Teatro Empresarial ocorre desde 2008 de forma estruturada. Durante as aulas é comum a prática de jogos teatrais, que são jogos de "faz-de-conta", e funcionam da mesma forma como as brincadeiras infantis preparam as crianças para os desafios do universo adulto. Estes jogos acabam por preparar os empregados para falar com clareza e fluência, além de exercitar a lógica e argumentação em situações de improviso.
Para a dramaturgia, os temas são discutidos com os empregados-atores. São utilizados exemplos do cotidiano do universo dessas pessoas para rechear o texto a ser interpretado. O professor de teatro entra com a técnica e formato da peça e a Gerência de Comunicação Empresarial auxilia na inserção dos temas, favorecendo situações em que os espectadores possam se identificar com as mensagens para compreendê-las.
O formato de prática teatral aplicado na Petrobras favorece a credibilidade e imprime legitimidade à comunicação dos temas abordados, pois tem os próprios empregados como interlocutores, que por sua vez dão a devida tradução aos aspectos de linguagem e se alinham com mais precisão às expectativas do público.
Dentre os objetivos da prática teatral na Petrobras estão a disseminação de informações e valores sobre responsabilidade social e ambiental, segurança e saúde, como uma ação atrelada ao calendário corporativo de Comunicação da Petrobras, a otimização de gastos com a contratação de grupos teatrais externos, a promoção da integração entre os empregados, o auxilio no desenvolvimento de habilidades que impactarão positivamente no trabalho dos participantes do grupo na empresa, como concentração, trabalho em equipe, capacidade de improvisação e relacionamento, dentre outros.
É a aplicação empresarial da máxima: “a arte imita a vida” ou “a vida imita a arte”. O certo é que não se trata de uma receita, mas de uma experiência rica que amplia as possibilidades de tratar a Comunicação Empresarial, inserindo a abordagem nos campos lúdico e didático/pedagógico. E, principalmente, oferecendo novos espaços dialógicos que ajudam a organização exercitar seus valores essenciais.
* Ana Franchon: Possui graduação em Relações Públicas (2000), especialização em Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e Relações Públicas (2005) e Mestrado em Ciências da Comunicação (2009), todos pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Atualmente é Profissional de Comunicação Social Pleno - Relações Públicas, na PETROBRAS, em São Paulo, onde exerce, entre outras atividades de comunicação, a coordenação do Grupo de Teatro do Edisp – Edifício São Paulo. Seus principais temas de pesquisa são: comunicação organizacional, relações públicas, tecnologia, inclusão digital e relações de gênero.