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COLUNAS


André Boavista


Especialista em Publicidade pela USP/SP, Pós-Graduado em Marketing pela RUY/BA e Bacharel em Administração pela FTE/BA. 

Atua nas áreas de Comunicação, Marketing e Tecnologia. Escreve profissionalmente (gerencia e cria conteúdo) e em blogs de nicho.

@andreboavista

 

Se beber, não dirija nem publique

              Publicado em 29/08/2012

A popularização das redes sociais digitais provocou mudanças que se incorporaram no cotidiano das pessoas e motivaram os comunicadores a pensar em diferentes formas para lidar com essa mídia tão volátil quanto sensível.

Graças à rede, aos devices, as inúmeras interfaces e a ubiqüidade crescente, uma imensidão de mudanças está surgindo. Como exemplo, basta observar como mudou a forma de acompanhar uma partida de qualquer esporte: munido de meios de acesso à internet os torcedores interagem durante as transmissões e depois, ao postarem nas redes seus depoimentos, comentários e gozações com os perdedores, amplificam os resultados e a temporalidade do evento.

As empresas perceberam isso e demandam das agências digitais tanto a criação de virais positivos (como visto em “Pôneis Malditos - Nissan”) quanto respostas para os virais negativos (como visto em “United Breaks Guitars - United”), assim como exigem de seus departamentos de comunicação agilidade para administrar as interações oriundas dos novos canais estabelecidos. Por sua vez, as pessoas, os responsáveis pela construção do tecido virtual global, esperam respostas rápidas e se tornaram os grandes protagonistas das narrativas que surgem através das redes.

O fenômeno das redes sociais é atual, vigoroso e alcançou um estágio marcante. Posso citar aqui diversos autores que nos ajudam a compreender o poder da tecnologia, da internet e das redes: desde Marshall Mcluhan e sua concepção de aldeia global, passando por Melvin Kranzberg (“A tecnologia não é boa, nem ruim, e também não é neutra.”), pelo filósofo alemão Cristoph Turcke - que prega em seu livro que a sociedade imagética esta nos tornando menos sensíveis - até o pesquisador Philip Zimbardo que acredita que os jovens estão crescendo em um mundo de interações predominantemente digitais e por isso não agem como animais sociais e ressignificam negativamente o conceito de relacionamento pessoal, atividade humana bem descrita por Aristóteles e tão necessária ao desenvolvimento dos laços afetivos.

Apesar das incríveis facilidades de disseminação de mensagens e construção ou desconstrução de fatos, as redes contêm também perigos justamente porque atualmente todos podem criar e compartilhar conteúdo facilmente. E essa periculosidade inerente as redes se aplica tanto para as empresas quanto para as pessoas. Recentemente o filósofo Pierre Lévy, usuário do Facebook e do Twitter, declarou que é prioritário que as pessoas não esqueçam que a internet é um espaço público, sem restrições, mas com seus próprios perigos, pois apesar do uso da internet ser muito particular, a internet é pública e não particular.

Acredito que o alerta de Lévy deve ser levado em conta por todos, mas particularmente por aqueles que, após beberem em excesso, resolvem compartilhar nas redes. Sob efeito do álcool o cérebro não funciona como normalmente e pode, entre outras coisas, confundir o senso crítico e de julgamento correto, sentidos que em estado normal ajudariam a evitar que verdades distorcidas, inverdades, coisas muito particulares, exageros ou aqueles arroubos típicos de quem está embriagado fossem expostos pela rede, comprometendo ou prejudicando terceiros, mas também quem compartilha.

Para reforçar meu ponto de vista eu pergunto: lembram de alguém que deu vexame em estado de embriaguez? E se o vexame fosse filmado e compartilhado pelas redes? A linha que separa a percepção de uma bebedeira como “divertida e engraçada” para “desagradável e inconveniente” é muito tênue e muda muito rapidamente, então eu questiono: conseguem perceber como pode ser danoso expor outros em suas redes porque não consegue raciocinar corretamente graças ao álcool? Percebem o potencial de estrago que isso pode causar? E o pior é que, uma vez compartilhado, o registro fica para sempre disponível, pois, como afirma Martha Gabriel, especialista em mídias digitais, “as pessoas esquecem, a internet não”.

Acredito que nos tempos atuais, ninguém está alheio e imune ao poder das redes sociais, poder que inclui tanto a possibilidade de se fazer coisas boas, tais como estreitar laços afetivos, rever amigos distantes, se divertir, aprender, gerar conteúdo aproveitável, difundir conhecimento ou inspirar pessoas, mas também o poder de fazer bobagem ou publicar algo que não seja completamente verdade, não seja justo, seja de âmbito apenas pessoal ou que gere apenas dor, sem trazer benefício para ninguém.

Portanto eu reafirmo:

Se beber, não dirija nem publique.


Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 1575

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