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Mauricio Felício
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Sócio Presidente da Felício Comunicação, atua em consultoria, gestão e treinamento em comunicação empresarial e Business Intelligence. Formado em Relações Públicas pela USP, onde atualmente participa do programa de mestrado e é Professor conferencista para a graduação, com MBA em Gestão de Comunicação e Marketing pela mesma instituição (USP em parceria com a Florida University)."

 

Entre gracejos

              Publicado em 12/07/2012
O ambiente empresarial segue sempre imerso em normas, políticas e códigos. Mesmo com regras e condutas, o riso acaba por aflorar em meio às relações profissionais. Mas a linha tênue entre riso e escárnio confunde até os mais experientes.
 
Tentar encontrar uma certeza entre a dualidade do humor é papel difícil e demanda esforços contínuos. Em outras palavras, vale a pergunta que Georges Miois nos propõe em seu livro de título “História do riso e do escárnio”. O riso desvela a realidade ou a oculta? (Minois; p. 29) 
 
Parte da dificuldade está em identificar no riso a sua função de aceitação de mundo ou crítica velada. Enquanto no primeiro caso o riso atua como um amortecedor dos impactos e agressões da realidade, fazendo com que consigamos lidar com as novidades e com os percalços cotidianos, este mesmo riso pode servir, no segundo momento, como fator de cisão, conflito e desconstrução.
 
De pronto estas últimas palavras soam negativas, mas em vários momentos a desconstrução é parte de um processo evolutivo. Exemplo célebre é o trabalho de chargistas e colunistas políticos, que por vezes utilizam o humor como forma de atingir um nível de crítica que vai além do apontamento objetivo. 
 
A crítica política, que pela sua natureza acaba por tangenciar um dos temas mais vitais à polis, lança mão de humor e sarcasmo para fazer ver, de forma inconclusa, os desdobramentos de atos escusos. No humor, ainda mais do que em qualquer outro diálogo, o resultado final depende de um pensamento fortemente ativo do interlocutor, fazendo com que a conclusão não esteja na expressão inicial, mas na interpretação derivada de um repertório compartilhado e compreendido.
 
Se na vida pessoal o humor já nos traz momentos de alegria e de confronto, na empresa o processo continua. Brincadeiras entre colegas, apelidos entre áreas, trocadilhos e piadas. Todos surgem espontaneamente em um ambiente de alta negociação de poder, simbologismo, significados, e como não dizer, discursos identitários.
 
Para um gestor, o humor é parte da alma das equipes, mas sua força é tão relevante que, da mesma forma que se apropria do riso para construir e estreitar relacionamentos, pode se utilizar dele em um processo de desqualificação da gerência, dos colegas ou até mesmo dos princípios organizacionais.
 
Em resumo, a brincadeira nossa de cada dia pode fazer parte de um forte discurso compartilhado por todos, e que ajuda a unir ainda mais nosso grupo, ou ser fator de crítica contumaz que tende a desconstruir os fluxos, cargos e pessoas, reduzindo sua força e sobrepondo o sujeito que satiriza àquele que é objeto do escárnio.
 
Na balança do humor, jamais chegamos a um equilíbrio, pois o riso é o movimento. É o desmoronar de castelos que se reconstroem tortos e cômicos, para serem desfeitos novamente, e sucessivamente remontados, em um ciclo discursivo que passa pela dinâmica dos poderes e deita nos campos mais profundos da construção da imagem que cada sujeito tem de si frente ao grupo e às instituições. 
 
Mesmo as menores brincadeiras servem de aprendizado para um gestor que valoriza sua equipe e concentra seus esforços para identificar a força motriz de seu grupo e os entraves que tendem a reduzir sua potência de ação.
 

Referência
MINOIS; GEORGES. História do riso e do escárnio. São Paulo: Editora UNESP, 2003.
 

Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 1418

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