Evitar o confronto nem sempre é a melhor opção
É natural que tenhamos preferência pelos grupos que pensam como nós. Quando estamos em consonância com nosso grupo, tendemos a agir de forma conjunta, o que aumenta nosso potencial de atuação e reduz a vulnerabilidade às agressões. Desde cedo aprendemos o quão prazeroso é fazer parte de uma boa panelinha, e como é difícil ser o único excluído de um assunto.
Quanto mais conseguimos nos cercar de pessoas que se identifiquem conosco, de alguma forma, maiores são as chances de recebermos ajuda quando necessário. Esta é a base das manifestações populares que reivindicam direitos, como a luta contra o Apartheid, o panelaço argentino, as Diretas Já, as mobilizações GLBTS e, mais recentemente o #VemPraRua.
Em suma, enquanto indivíduos, somos agredidos com certa facilidade. Quando estamos em grupo, nós nos manifestamos, atacamos e defendemos nossas ideias de modo mais contundente. Minimizamos (em tese) os riscos e aumentamos as chances de sucesso. É como se fossemos parte de uma matilha. Separadamente, caçamos lebres e roedores pequenos e fugimos dos grandes predadores. Juntos, cercamos alces e animais maiores e afugentamos muitos inimigos.
Certo. O grupo me protege, mas isso pode ser um problema?
Todas as condutas sociais têm múltiplos aspectos. Ou seja, mesmo as melhores coisas trazem a semente do conflito, da degradação, do fim. Ainda não encontramos um tipo de conduta que possa ser considerada eternamente bem-sucedida.
O lado negativo de se manter dentro de um grupo que te protege constantemente é que, com o tempo, pode haver um afrouxamento de suas características individuais. Em outras palavras, você começa a se parecer tanto com o grupo que os seus músculos sociais entram em estado de flacidez, sem o exercício do confronto direto, do treino, da mobilização própria, seu caráter está mais suscetível à influência constante dos seus colegas.
Este é um paralelo importante. Da mesma forma que os músculos se enfraquecem com as comodidades, com a diminuição dos exercícios físicos regulares, a sua opinião própria começa a se enfraquecer conforme você se afasta dos debates pessoais e embasa suas falas apenas com os posicionamentos do seu grupo.
Isso significa, também, que se durante vários anos você seguir apenas as orientações do grupo, seu risco diário é menor, já que em casos de confronto o grupo virá ao seu apoio. Mas imagine se este grupo for desfeito de repente. Um golpe do destino colocará você, fraco e indefeso, contra todos os seus maiores inimigos. O resultado já é esperado. Fracasso líquido e certo.
Sentimos esta fraqueza quando saímos de uma empresa depois de vários anos de trabalho. Enquanto lá você conhecia os riscos e as pessoas influentes, ao chegar do lado de fora tudo parece novo. Os riscos externos ainda são parcialmente desconhecidos. Quando estamos vulneráveis e não vemos claramente o perigo, até as menores sombras podem parecer uma ameaça.
Então o que faço? Fico ou saio da minha zona de conforto?
Há ganhos e perdas dos dois lados. Estar protegido te mantém vivo, mas com o tempo pode te enfraquecer demais. Agora, separar-se completamente do grupo te expõe a riscos maiores que podem significar o fracasso completo, mas este exercício pode te deixar mais atento e pronto para qualquer confronto.
Oras, se já conhecemos os riscos e os benefícios de cada conduta há séculos, é irracional deixarmos de aproveitar os benefícios que cada lado nos oferece. Devemos nos preparar para lidar com cada cenário, ponderando os riscos e os ganhos possíveis.
O melhor caminho é construir diversas redes de relacionamento que te desafiem. Família, amigos, colegas de trabalho, de estudos, chefes, funcionários. Atue para que cada uma delas te traga uma parcela de ajuda, conforto, afeto, mas que também te apresente uma parcela de desafios, questionamentos e dúvidas.
Ter uma equipe que aceita todas as ordens sem questionar um detalhe sequer pode te trazer um pouco de agilidade momentânea, mas durante uma crise você estará por sua conta e risco, tendo que guiar funcionários que já estão cegos pelos anos sem exercitar a atuação crítica e estratégica e pelos medos naturais que sentimos nos momentos de turbulência.
Entre abrir-se completamente ao novo e fechar-se completamente dentro daquilo que você já conhece, prefira a opção intermediária. Crie grupos coesos, com a tão desejada diversidade de habilidades, que te ajudarão a responder de forma mais completa aos desafios cotidianos e a proteger o grupo em casos de crises mais acentuadas.
Para um bom profissional, fazer parte de qualquer grupo jamais pode significar ignorar as opiniões divergentes. Aliás, quanto mais você tiver contato com estas divergências, mais preparado você estará.
Aprendendo com a Universidade
Encerro este artigo com a receita que faz com que a ciência evolua através dos conflitos cotidianos.
Todo cientista é chamado a defender suas ideias, mas de modo aberto. Isso significa que ao apresentarmos qualquer estudo, já temos certeza de que a missão da comunidade acadêmica é desconstruir nossa pesquisa.
Isso não acontece por maldade ou por qualquer sentimento negativo. Muito pelo contrário.
Quanto mais nossas pesquisas forem atacadas e vencerem, mais evidente será o seu valor. Por outro lado, sempre que um colega consegue apresentar uma contradição, ele contribui para que o pesquisador possa revisar seu trabalho e torna-lo mais qualificado e forte.
Então aproveite os conflitos, pois ou você sairá deles fortalecido para continuar a jornada ou consciente dos pontos que precisa aprimorar.
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e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 1984
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