Ladrões do tempo, ladrões do espaço, ladrões da vida... Uma breve reflexão sobre o homo omni
O que é o tempo? O que é o espaço? O que é a vida? Três questões que certamente nunca nos trarão respostas conclusivas dadas as suas complexidades. O que existem são consensos que ajudam a explicá-las sob várias óticas e em determinados contextos.
As respostas parciais que encontramos para as três questões acima são constituídas de percepções e talvez tenham nascido com, ou, do próprio homem e por fazerem parte da sua natureza e da sua condição. Um fato é certo: todas as três questões são interdependentes. Afetam diretamente a nós e nossas relações. Outro fato que podemos concluir, e talvez o centro da reflexão que proponho, é de que se trata de elementos valiosos, talvez os mais valiosos que existam e por este fato atraem tanto a cobiça alheia.
Por mais que não tenhamos as respostas conclusivas, as relações entre as três questões definem o sentido da nossa existência, que há muito perdeu a característica de linearidade, ao menos na forma de percebê-la, explicá-la. Passado, presente e futuro, real e virtual misturam-se numa torrente de informações, sensações e experimentações solutus ab omni re, ou seja, absolutas, abstratas, transcendentes e que parecem, a nós, bastar.
Nosso atual modus vivendi, frente a este estado compulsório, parece nos pautar diuturnamente pela hiper-conectividade como uma obrigação e não como uma opção. O fato é que a catraca tecnológica já deu seu giro e, portanto, não há mais volta. Configura-se o paradoxo da proximidade e suas multifaces. Quanto mais hiper-conectados, mais carentes, mais distantes.
O que parece nos restar é algum resquício de livre arbítrio e alguma possibilidade consciente de equilíbrio nas escolhas. E para fazê-las, será que temos considerado o valor do tempo, do espaço e da vida, frente aos benefícios oferecidos? Pensamos em quem ou o quê está levando nosso tempo? Será que temos nos permitido viver por inteiro ou nos rendemos aos encantos de uma superficialidade alienante?
Nosso atual estado evolutivo de homo omni, ilação minha, (homem onipresente, onisciente, onipotente...), proporcionada, em parte, pelas possibilidades tecnológicas da comunicação e seus efeitos, que quando aplicadas à vida e ao trabalho, nos é “vendida” e parece nos dar a falsa sensação de estarmos ganhando tempo. Então, porque a constatação diária nas rodas de conversa nos indica o contrário?
O tempo parece estar sendo subtraído, juntamente com o espaço e em última análise a vida, em nome de não sei o que. Ou será que sabemos? Os exemplos são muitos: ligações telefônicas (celular) invasivas que interrompem, triste e naturalmente, diálogos presenciais, produção excessiva de notícias, como uma grande linha de produção taylorista, mas que nada acrescentam enquanto serviço ou reflexão para nossa evolução, aculturação total com proliferação de bordões vazios, besteirização, dentre outras mazelas midiáticas refletidas a partir da sociedade, pela sociedade e devidamente pasteurizadas para consumo da sociedade.
Como em tudo, sempre existirá o lado bom. Caberá o bom senso para vislumbrá-lo. E o que não estiver bom está aí para ser revisto, depurado, repensado. Mas parece que ainda, por nos faltar justamente o tempo e o espaço, ainda não nos detivemos na tarefa de refinar nossas escolhas. Cada década avançada aponta para as consolidações, quase precisas, das mega-tendências apresentadas a nós por John Naisbitt, nos anos noventa. O indivíduo tem triunfado na sociedade High tech - high touch, mas a que custo evolutivo coletivo?
* Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Taubaté (2006), Pós Graduado em Marketing, com ênfase em Gestão de Negócios pela ESPM - Escola Superior de Propaganda e Marketing (1997). Graduado
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