Quem cala nem sempre consente
Quando se fala em comunicação, muitos lembram imediatamente da fala, dos gestos, dos veículos de comunicação, mas o silêncio geralmente é esquecido ou negligenciado.
Fatores como a alta concorrência mercadológica, aumento das regulamentações, alta participação da sociedade no controle das atividades corporativas e ampla vigilância da imprensa são impulsionadores que tornam mais complexa a aceleração do fluxo comunicacional corporativo.
Neste cenário já temos claramente a visão da relevância da comunicação estratégica para as empresas. Mas ao nos aprofundarmos na análise, percebemos que é realmente maior o desafio dos líderes e gestores, que trabalham diariamente com equipes variadas e numerosas, fazendo da comunicação uma ferramenta primordial para desenvolver a coesão do grupo e para atingir os objetivos comuns.
Não raro, entre os treinamentos, sou questionado por algum gestor com mais de duzentos colaboradores sob sua tutoria e que se preocupa com o entendimento de sua equipe sobre as ações e comunicados gerenciais. Quando nossa conversa ruma para a espiral do silêncio, muitos se surpreendem por já terem sentido seus efeitos, mas por nunca terem ouvido falar a seu respeito de forma aprofundada.
Estudada inicialmente na Alemanha, a espiral do silêncio pode ser entendida como um ajuste da expressão de opinião feita por um indivíduo em busca de aceitação social ou redução das agressões que sofre por parte do um grupo.
Dá para ser mais claro, então vamos lá. Quantas vezes não perguntamos a opinião de um colaborador e, ao recebermos sua resposta, ficamos com fortes dúvidas se ele foi sincero ou se comentou o que acreditava ser politicamente correto? E quando você pergunta para uma pessoa se ela tem preconceitos ou gostos variados? Geralmente temos a sensação de que nem todos foram sinceros, mas qual o motivo? Aceitação social.
Um exemplo fácil de ser compreendido é a intenção de votos em período eleitoral.
Imagine um grupo de amigos que se encontra para conversar sobre os candidatos à presidência da república. Entre um comentário e outro, fica claro que a preferência coletiva está com o candidato A, já que meia hora se passou e ninguém elencou sequer um ponto positivo de seu maior adversário.
Agora imagine também que entre todos eles há um único indivíduo eleitor do candidato B.
Com certeza este colega está incomodado com a situação, se perguntando a cada momento se deve ou não expressar sua opinião sincera.
Ele se divide entre o que pensa e o que sente, pois tem receio de ser repreendido ou chacoteado pelo grupo.
Eis que, no repente, algum dos rapazes decide perguntar, um a um, qual será seu voto no dia a eleição. Muito provavelmente, sem nenhuma exceção, todos podem acabar falando em alto e bom tom que votarão no candidato A.
Você se perguntará: Mesmo o moço que queria votar no candidato B? Sim. Mesmo ele. E por acaso ele mudou de opinião? Não necessariamente.
O que pode ter ocorrido é a mudança apenas da expressão da opinião. Para não ser repreendido, ele diz ter uma opinião que seja coerente com a do grupo, mesmo que pense de forma completamente oposta.
Mas isso não é uma regra. Existem as pessoas assertivas. São aqueles que mesmo sentindo a pressão do grupo, expressam sua opinião verdadeira.
Se isso ocorre entre amigos ou em uma reunião de família, não há motivos para que não ocorra no espaço de trabalho, ou seja, mesmo quando fazemos uma pesquisa com o grupo, quando pedimos opiniões sinceras, muitos dos nossos colaboradores podem estar ocultando suas opiniões por medo de serem repreendidos pelo superior ou pelo grupo. Por isso que nem sempre aquele que se cala está consentindo com a opinião da maioria.
Várias ferramentas podem nos ajudar a minimizar os efeitos da espiral do silêncio, como as pesquisas projetivas e questionários anônimos, mas nenhuma delas pode ser tão eficiente quanto a gestão participativa e o uso da comunicação como forma de empoderamento do grupo.
Isso significa que o colaborador não precisa se retrair, pois ele esteve presente, participou da construção de cada diretriz e teve liberdade real para ser agente no processo gerencial.
Assim, o que se comunica é algo que, antes de tudo, foi avaliado e desenvolvido pelo próprio grupo.
Hoje, os maiores entraves para a gestão participativa nas empresas é também o medo. Gestores receiam que ao permitirem a participação de sua equipe nas diretrizes da área acabarão sendo vistos como lenientes e fracos, porém, os profissionais mais valiosos para o mercado nos dias atuais são aqueles que sabem preparar sucessores e desenvolver a equipe ao invés de torná-los dependentes de suas ordens.
Retornarei em alguns dias com um novo artigo para tratar deste tema importante que é o desenvolvimento de sucessores gerenciais, mas por ora, encerro lembrando que a gestão participativa faz com que líderes e equipe fortaleçam os laços de confiança e reduzam velhas barreiras, propiciando fatos comunicáveis, favorecendo o engajamento contínuo e fortalecendo os valores organizacionais. Assim, reduzimos o silenciamento da equipe e aproveitamos as oportunidades que a multiplicidade de opiniões e conhecimentos traz para nossas empresas.
Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje
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