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COLUNAS


Paul Edman
paul.edman@petrobras.com.br

Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Taubaté (2006), Pós-Graduado em Marketing, com ênfase em Gestão de Negócios pela ESPM - Escola Superior de Propaganda e Marketing (1997). Graduado em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda pela Universidade de Taubaté (1992). Possui o curso International Corporate Communications pela Aberje e Universidade de Syracuse - Nova York (2007) e PDE - Programa de Desenvolvimento de Executivos pela Fundação Dom Cabral (2006). Atualmente é Gerente de Planejamento, Gestão e Relacionamento com Clientes da Petrobras – Serviços Compartilhados/ Regional São Paulo-Sul. Foi Gerente de Comunicação Empresarial da Petrobras - Serviços Compartilhados / Regional São Paulo-Sul entre 2011 e 2015. Foi Gerente de Comunicação da Petrobras / Revap – Refinaria Henrique Lage entre 2002 e 2010. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Comunicação Empresarial e Marketing e em gestão do relacionamento com o cliente. É Diretor do Capítulo Aberje na Cidade de São Paulo. Foi membro da Petrobras no Comitê de Relacionamento Comunitário da ARPEL - Associação Regional de Empresas de Petróleo e Gás Natural na América Latina e Caribe entre 2006 e 2010.

Religare - Quando a organização deixou de ser natural, e sobrenatural

              Publicado em 19/04/2012

Às vezes, para ressetarmos nossas vidas frente à turbulência cotidiana, saímos em busca de lazer e entretenimento. Viajamos a lugares bucólicos e de costumes pitorescos. Enchemos nossos olhos, nossa alma, ao depararmos com a riqueza cultural de algumas localidades e nos reabastecemos de esperança num futuro potencialmente melhor a partir da observação de ritos ancestrais. Basta uma visita ao Vale do Paraíba histórico, no interior de São Paulo, para se ter uma boa idéia do que estou falando. Trata-se de uma demonstração de resistência e fortalecimento das culturas locais como contra-tendência frente ao fenômeno da globalização.

O aspecto intrigante do comentário acima é que a expressão cultural, como fato, a cultura, parece algo apenas folclórico, sobrenatural, como se não fizesse parte da nossa natureza, da nossa formação e determinasse nosso modus vivendi. Capturamos e nos apropriamos da cultura como uma espécie de espetáculo para nosso deleite, como um produto de consumo e tão somente. Muitas dessas comunidades fazem o caminho contrário e oferecem seu produto cultural como forma de preservar a sua própria cultura e com isso gerar riqueza por meio do turismo, por exemplo. Nesse contexto os dois aspectos são válidos enquanto senso comum.

Em termos organizacionais, Schein1 definiu a cultura como um “conjunto de pressupostos básicos que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com problemas de adaptação interna e externa e que funciona bem o suficiente para serem considerados válidos e ensinados a novos membros como a forma correta de proceder, pensar e sentir com relação a esses problemas”.

Migueles2 afirma que “a cultura tende a ser um universo de profecias auto-realizáveis, no sentido de que é uma forma integrada de ação e percepção sobre o mundo que dá forma à realidade socialmente vivida e se confirma na prática, pois é um elemento estruturante do comportamento social em vários âmbitos”.

Ao traçarmos um paralelo entre a cultura no âmbito social e a cultura organizacional podemos observar alguns dos mesmos elementos básicos na formação de ambas: os valores (crenças, costumes e conceitos), normas (padrões de comportamento informais transmitidos entre as gerações), ritos, mitos e heróis (verbalização e materialização dos valores) são exemplos desses elementos.

Então por que nos surpreendemos e nos encantamos com algo tão natural e ao mesmo tempo sobrenatural (integral) como a cultura quando nos deparamos com ela fora da organização? Talvez seja porque tenhamos, ao longo do tempo, esquecido que ela também faz parte da organização e tenhamos negligenciado alguns de seus aspectos ao abolirmos os ritos, os mitos, e os heróis, nossos costumes e tradições, em outras palavras, a alma da organização, em nome, talvez, de outra ordem, de outra configuração, porém que se desorganiza enquanto instituição. A afirmação não é passível de generalização, mas serve como reflexão. 

Concordo com Marchiori3, quando ela diz entender que “cultura é criação de significados e que a comunicação, por meio da relação e da interação entre pessoas, ao gerar sentido para as ações, possibilita a negociação e a criação de significados, contribuindo para o processo de formação das culturas em uma organização”.

O processo de comunicação tem, na sua operacionalização (por meio de veículos, eventos que contemplem ritos de passagem, comemorações, espaços de memória empresarial, etc.), ou na sua capacidade de antecipar tendências, o papel fundamental de guardião da cultura organizacional. Os comunicadores podem atuar, simbolicamente, como sacerdotes, como porta-vozes da religação entre o natural e o sobrenatural na complementaridade organizacional, defrontando permanentemente os indivíduos e suas atividades com os aspectos quase dogmáticos, ancestrais da cultura organizacional, ou na sua transformação e adaptação a uma nova realidade cultural, sob pena de se vivenciar um colapso de sentido e a perda dos valores fundamentais à existência organizacional.

E falar em cultura organizacional não é falar sobre algo velho, ultrapassado, obsoleto, pois se aplicou, aplica ou aplicará a quaisquer organizações: antigas, atuais e futuras. Se culpássemos a falta de tempo para a não manutenção de manifestações da cultura organizacional não estaríamos utilizando, talvez, a melhor justificativa. Se culpássemos os novos tempos e sua geléia geral4 seria como aceitar com passividade o processo de aculturação e/ou o nascimento de uma não-cultura organizacional e uma legião de incrédulos e céticos, quase não-humanos a vagar na desorganização.  

1 – Edgar Schein: nascido em 1928 nos Estados Unidos teve contribuição significativa em muitos campos do desenvolvimento organizacional. Obteve seu titulo de graduação na Universidade de Chicago, o de mestre em Psicologia pela Universidade de Stanford e seu PhD em Psicologia Social por Harvard. Foi professor de Gestão na Sloan School of Management do MIT durante mais de 40 anos onde realizou suas mais significativas contribuições. Clarificou o conceito de cultura empresarial e demonstrou a sua relação com a liderança.

2 - Carmen Pires Migueles: graduada em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1985), mestrado em Antropologia (pesquisa em antropologia do consumo) pela Universidade de Sophia (1990) e doutorado em Sociologia (foco em sociologia das organizações) pela Universidade de Sophia (1998). Atualmente é professora titular da Fundação Dom Cabral. Tem experiência na área de Administração, com ênfase em gestão integrada de ativos intangíveis, atuando principalmente nos seguintes temas: cultura organizacional, antropologia do consumo, administração de recursos humanos, marketing.

3 - Marlene Marchiori: Pós-doutora em Comunicação Organizacional pela Purdue University, dos Estados Unidos. Doutora pela Universidade de São Paulo (USP), com estudos desenvolvidos no Theory, Culture and Society Centre da Notthingham Trent University, do Reino Unido. Tem graduação em Administração e em Comunicação Social - Relações Públicas. Pesquisadora líder dos Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq): “Comunicação organizacional e relações públicas: perspectivas teóricas e praticas no campo estratégico” e “Comunicação e Cultura Organizacional”.

4 – Geléia geral: música de Gilberto Gil e Torquato Neto


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