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COLUNAS


Mauricio Felício
contato@feliciocomunicacao.com.br

Sócio Presidente da Felício Comunicação, atua em consultoria, gestão e treinamento em comunicação empresarial e Business Intelligence. Formado em Relações Públicas pela USP, onde atualmente participa do programa de mestrado e é Professor conferencista para a graduação, com MBA em Gestão de Comunicação e Marketing pela mesma instituição (USP em parceria com a Florida University)."

 

Cortem-lhe a cabeça

              Publicado em 29/03/2012

Entre pelos brancos e um paletó pouco empertigado, corria o coelho, atrasado, de olho em seu relógio, entre retas e curvas. Esbaforido, seguia por caminhos tortos e confusos, apertando o passo e olhando para trás, vez por outra, para ter certeza de que a criança, em um furor de emoção, curiosidade e certo medo, conseguia esgueirar-se para lhe seguir o rastro. Entre as pegadas na terra úmida e folhas deitadas por cada trombada eufórica que lhes fez deitarem em um sono amarelecido, ficou rasgado aos olhos aquele trajeto que ligava o mundo cinza dos sãos ao mundo colorido da mais normal loucura. Entre rumores e temores, não foi o Jaguadarte que mais fez palpitar o pulso da menina diminuta de traços delicados e cabelos pálidos, mas sim a franqueza em cada ato de desvario praticado com a simplicidade de quem repete uma cantiga cantarolada entre riscos e rabiscos e repetidas por cada figura enigmática na nação das maravilhas. O reinado, erigido entre lumas e garras, cintilava vermelho sob os pés sombreados eu uma Dama entre Copas. Seu poder, que lhe tinha o mesmo peso e tamanho de sua cabeça, para onde todo ele subira, colocava na boca ríspida, a cada contraditório ou na falta de bajuladores, o som dos seus melhores bofes, para sussurrar aos quarteirões e jardins o seu conhecido “Cortem-lhe a cabeça”.


Ilustração: Ana Oliveira



Da releitura dos passos de Alice, chamo você de volta pelo caminho sinuoso para retomar a lembrança do mundo dos normais, ou dos sérios, ou dos grandes profissionais.

Em um mundo de maravilhas tão díspares, ilógicas, contraditórias e hiperbólicas, parece muito plausível a ternura de uma rainha que a todos deseja privar de suas cabeças.

Então é hora de pisar nos campos de disputa de poder do tal mundo real e lembrar dos conflitos e confrontos empresarias.
 Os vários desafios e a velocidade acelerada, por vezes, servem de justificativa para rusgas e atritos que ultrapassam os espaços corporativos.

Levados ao extremo, não são poucos os conflitos entre colegas, chefes e empregados, áreas e equipes, que se tornam diferenças pessoais. É nesta hora que, no rompante do poder em desequilíbrio, e com palavras mais polidas, o “cortem-lhe a cabeça” surge.
O poder, sempre iluminado em seu pedestal dourado, pode ter um sabor amargo se conduzido sem trato fino, sem coordenação suficiente, sem objetivo. Entre os atingidos, sofrem primeiro os pequenos até que se tenha, entre dores e curas, a visão de que o descompasso pode não estar apenas no grupo dos executores.

Esta história simples, para alguns até infantil, nos faz perguntar se os desvarios de Copas só ocorrem em um mundo ilógico. Mas o contraponto é que são justamente as histórias dos corredores que pasmam os otimistas e conformam os pessimistas.

A realidade é que gerir pessoas, e mesmo ocupar posições altas na hierarquia de uma empresa ou grupo demanda muito mais do que tempo. Demanda maturidade, que pode ser conquistada em poucos anos por alguns ou chegar apenas depois dos cabelos prateados terem se multiplicado ao longo da vida de tantos outros.

A cada novo degrau corporativo galgado, as responsabilidades aumentam e o espelhamento cresce. O líder passa a ser modelo de conduta. E a responsabilidade, tão desejada no início e, por vezes, preterida ao poder em si ao fim de décadas, não se faz apenas pelos valores que se percebe mensalmente, ou pelos investimentos corporativos que se empenha, mas pelas vidas que guia, desenvolve e orienta.

Em resumo, ser gestor é conduzir pessoas, famílias, histórias.

A vida, entregue e confiada, em soluços de diários, passa a ser compartilhada, e seus resultados divididos. Ao compreender isso, se torna claro que não é apenas o dinheiro, ou a realeza das Copas, que move um funcionários. Glamour, brilho, aplausos. Todos fatores importantes, mas em geral, secundários.

Se a coroa serve para lembrar dos valores maiores, superiores ao homem, sempre que investe um monarca de valores retos, pode também ser o lume dos amargores daqueles cuja força sustenta o peso das jóias reais.

Aos laboriosos que ainda aceitam o desafio de conduzir vidas e carreiras, o reconhecimento cotidiano é merecido, e o poder, apenas um instrumento a ser utilizado em situações excepcionais. Assim seguem, os bons gestores, os verdadeiros líderes, a negociar significados, tempo, dedicação, valores.

Assim caminha, entre maravilhas de um mundo fascinante e os espinhos do mundo real, um time engajado.
Parabéns, líderes. Nos vemos no próximo artigo.


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