Era uma vez, na organização...
Sobre a folk comunicação empresarial
A organização, enquanto um recorte da sociedade, carrega consigo, além de um conjunto de regras que a formalizam enquanto instituição, o viés popular trazido ou construído pelos seus trabalhadores a partir de suas vivências externas e no próprio cotidiano do trabalho.
A organização pode não ser ou parecer completa, ou mesmo se fazer entender totalmente, apenas por meios formais. Assim como na sociedade, as crenças, tradições e costumes da organização ajudam a gerar a compreensão sobre sua intimidade, sobre seu jeito de ser e geram o que conhecemos como “fato folclórico”. A cultura organizacional pode conter o “fato folclórico”, mas o “fato folclórico”, isoladamente, não é sua cultura na totalidade.
As tradições preservadas do passado e suas adaptações à dinâmica do cotidiano e aos novos ambientes da era da informação, sua funcionalidade comunicativa no contexto orgânico e a generalização a partir da identificação coletiva, fazem do fato folclórico uma das mais ricas formas de comunicação conhecidas. A espontaneidade encontrada na sua narrativa possui um forte caráter educativo e didático.
A organização, naturalmente, deverá se apresentar de maneira formal aos seus novos trabalhadores, por exemplo, mas também é igualmente natural que num momento imediatamente posterior os novos trabalhadores recebam outra explicação sobre a organização, ou sobre seu novo trabalho, por meio de seu folclore.
Geralmente existe uma forte tradição oral passada de geração em geração que sustenta e valida o fato folclórico. Então, a crônica diária que ecoa pelos corredores e linhas de produção revela a existência de uma ou várias organizações dentro da organização.
Se a organização nada fizer, o fato folclórico continuará existindo de forma saudável, mas poderá, eventualmente, perder-se no exato momento que houver a tentativa de institucionalizá-lo. Nem tudo será passível de registro por traduzir a organização ou alguns de seus membros de forma necessariamente pejorativa. Pode ser aí que resida a riqueza imaterial da narrativa e a possibilidade de se gerar, na “moral da história”, a utilidade esperada.
Em 2000 trabalhei, junto com a minha equipe de comunicação, na tentativa de gerar um pequeno livro comemorativo que contasse um pouco sobre o lado bem humorado dos vinte anos de produção de uma das unidades da empresa. O livro foi um sucesso junto aos trabalhadores. Até hoje repercutem as histórias. Se, por um lado, foi uma boa experiência o fato de universalizarmos o conhecimento sobre os “causos”, por outro lado, num sentimento particular, acredito que a interferência não pôde e nem conseguiria revelar toda a riqueza de detalhes, sob pena de se neutralizar a sua utilidade. A sensação que ficou foi de um trabalho incompleto.
Talvez a Folk Comunicação Empresarial exista apenas para ser auscultada e se incorporar sutilmente, quando necessário, aos processos de diagnóstico sobre a organização. Pode ser uma manifestação da alma da empresa, no limite entre o sagrado e o profano, entre o raso e o profundo, e que talvez prescinda de qualquer tentativa de violação, como a que tentei.
Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje
e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 2266
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