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Cristina Panella
cristina@cristinapanella.com.br

Diretora de Cristina Panella Planejamento e Pesquisa. Cristina Panella é Doutora em Sociologia com ênfase em Comunicação pela E.H.E.S.S. – Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, Mestre em Antropologia Social e Cultural pela Sorbonne (Université René Descartes – Paris V) e Mestre em Formação à Pesquisa em Ciências Sociais, também pela E.H.E.S.S. Também é professora convidada da ECA – USP e tem experiência nacional e internacional na área de consultoria de comunicação e marketing, pesquisa de imagem e reputação, mercado e opinião. Dedica-se, atualmente, ao desenvolvimento de abordagens e metodologias expressas em indicadores e índices que enriqueçam o planejamento, a pesquisa e a comunicação.

Pesquisa, Marketing e Comunicação: diferenças de formação, maiores resultados

              Publicado em 06/12/2011

Parte II – Verdade e Manifestação nas redes Sociais

Na primeira parte desse artigo¹ falamos sobre a importância que os profissionais de pesquisa acordam à distinção entre a realidade e a captação de sua manifestação (o declarativo) nas pesquisas de mercado e opinião em seus moldes clássicos.

Lembramos também que muitos dos profissionais comunicação e marketing atuando hoje no mercado em diferentes posições e diferentes setoresempresariais veem-se compelidos – em nome de uma gestão orientada para resultados – a elaborar e/ou contratar diagnósticos, monitoramentos tendo que chegar, muitas vezes, a conceber e desenhar metodologicamente a mensuração de resultadosque subsidiarão o estabelecimento de metas para as equipes. Duas distorções decorrem dessa dinâmica: por um lado, os gestores agem como se a obrigação de resultados dos profissionais de comunicação e marketing os capacitasse, ipso facto, a trabalhar com metodologias, indicadores e índices o que, sabemos, não constitui o forte do conhecimento da maioria. Por outro lado, os gestores e os próprios profissionais agem como se não fizessem, eles mesmos, parte do grupo de colaboradores que terá seu bônus ou sua avaliação de desempenho afetados pela adoção dos indicadores.

Assim fazendo, empresas e profissionais perdem a riqueza que provem do trabalho emconjunto com profissionais de outras áreas. Metaforicamente, perde-se o cristal que só é produzido quando a pedra está sob pressão, no nosso caso, a pressão de diferentes pontos de vista alinhadas ao rigor metodológico do profissional de pesquisa.

Rapidez, velocidade, menores custos são palavras de ordem nas empresas nos dias de hoje. Pensados a partir da dinâmica diária do trabalho, num primeiro momento, as armadilhas ficam ocultas: jovens acostumados à aparente velocidade e facilidade com que o oráculo Google responde às suas questões, aceitam o escopo das tarefas solicitadas – sem que tenham rela conhecimento de sua ignorância - no tempo em que são impostas – tempo que, raramente, é suficiente para a reflexão teórico-metodológica que se faz necessária.Da seleção do parceiro de Pesquisa – escolha feita muitas vezes sobre listas compiladas pelas associações quando não fundada simplesmente rápida recomendação de um colega, desconhecendo, inclusive, a especialização do setor, à aprovação da metodologia proposta, tudo é feito como se a contratação de uma empresa ou profissional representasse o alívio advindo com a transferência total da responsabilidade sobre as escolhas teórico-metodológicas que sustentam as abordagens propostas para os ombros do parceiro. E novamente, o jovem profissional de comunicação e marketing deixa de lado a oportunidade de crescer por meio da multidisciplinaridade propiciada pelo convívio com parceiros externos.

E as redes?O fascínio pelo resultado imediato, associado à sensação de familiaridade provocada pela participação direta dos profissionais nas diferentes redes explica, em parte, a difusão de estudos ligeiros (alguns, até levianos) que têm por foco as manifestações das redes sociais.

E novamente encontramos a confusão reinante entre a realidade e suas manifestações individuais. É nesse momento que o profissional de pesquisa demonstra, novamente, a importância de seu papel. Ele sabe – porque aprendeu²  – que existe uma distância significativa entre o que o entrevistado declara e o que ele efetivamente faz.Se esse distanciamento é fato comprovado na vida social, como admitir estudos e artigos elaborados a partir da noção de que haveria “mais verdade” nas manifestações dos indivíduos nas redes sociais do que nas respostas obtidas em um questionamento clássico? Como considerar que as manifestações por não obedecerem ao roteiro de um questionamento são mais “verdadeiras” que as respostas obtidas por meio de uma pesquisa convencional?

Há sim uma agenda nas manifestações dos indivíduos nas redes sociais. Uma simples conversa com qualquer usuário de redes sociais demonstra que ele percebe diferenças – de objetivos mas também dos frequentadores –quando consideradas as diferentes redes. E isso, sem citar os códigos intrínsecos a cada uma. É possível analisar essas manifestações por meio de técnicas como a análise de discurso que independem do questionamento. Assim como é possível fazê-lo com redações de vestibulandos, por exemplo. Em nenhum dos casos, a “verdade” está assegurada.

A partir do momento em que fica claro que a manifestação em uma rede social é uma expressão administrada pelo indivíduo,decorre a ideia de representação. E o corolário da consciência do papel que nela o indivíduo representa ou quer representar. Rico, sem duvida, mas longe de substituir uma boa pesquisa.

 

¹ Pesquisa, Marketing e Comunicação: diferenças de formação, maiores resultados.

² E Kant chamava a atenção o fato de que não se podia acercar a realidade, sempre mediada pelos nossos sentidos, mas somente suas manifestações que sustentam as percepções que dela temos.


Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 771

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