Comunicação empresarial multiespectral
Os efeitos produzidos pela comunicação são como “imagens” não limitadas apenas ao espectro visível. “Imagem” é uma palavra derivada do grego, eidos, da mesma raiz etimológica, de “idéia”. Deixando de lado as controvérsias entre o idealismo1 de Platão e o realismo2 de Aristóteles, a conotação de “imagem”, neste caso, configura-se num elemento capaz de possibilitar uma ou várias interpretações sobre uma dada “comunicação”, que possibilite a idealização ou realização da organização para seus públicos numa visão integrada.
Digo “imagem” para ir ao encontro e tirar proveito da célebre frase: “uma imagem vale mais que mil palavras!” A frase e sua abrangência simbólica talvez possam traduzir o que gostaria de trazer à tona enquanto significado para o texto que segue.
Digo “não limitada a um único espectro visível” para tornar possível uma extrapolação que seria de propriedade da física e com isso romper com linearidade mecanicista presente na maioria dos modus operandi das organizações.
Um dos aspectos a serem tratados no processo de comunicação diz respeito à emissão. O que se pode ou não se pode perceber das “imagens” formadas pela comunicação junto aos públicos de uma organização, como efeito de objetivação, é aquilo que fica ou não retido na densidade da atmosfera empresarial.
Seja pelo seu sistema de valores arraigados à sua característica cultural, seja pela qualidade “purista” do seu processo de comunicação, reflexo dessa mesma cultura, os efeitos dessa comunicação podem fazer a organização “parecer o que não é”, ou “ser o que não parece”, em detrimento de “ser o que é” ou “parecer o que parece”.
Sob o aspecto da recepção na visão integrada, o sujeito normal, no multiverso simbólico trata e decompõe esse espectro comunicacional e geram sua objetivação, também segundo suas condições: sistema de valores, arcabouço cultural e o contexto ambiental. Caso fosse possível realizar uma foto multiespectral de uma dada “comunicação”, poderíamos desvendar uma imagem com outros espectros não revelados na sua emissão ou na sua recepção. Pode se tratar de uma patologia limitada ao receptor, certo daltonismo cultural que o impede de distinguir alguns espectros da mensagem.
No entanto, uma patologia maior pode estar instalada no processo de gestão, um daltonismo no processo de comunicação, limitando as possibilidades da comunicação, ignorando intensidades de ondas na fase da emissão. E novamente: seja pela sua característica cultural, seja pela qualidade purista do seu processo de comunicação, ruídos são deliberadamente ou não introduzidos no processo e modificam assim sua percepção sobre uma dada realidade. A imagem da organização, enquanto objetivação esperada torna-se irreal, falsa.
Um dos possíveis antídotos para que a comunicação idealize e/ou realize uma organização é promover a mestiçagem3 da área de comunicação, inserindo novas especialidades das várias ciências que consigam enxergar, traduzir e incorporar ao processo de gestão da comunicação outros espectros que somente os comunicadores tradicionais não seriam capazes enxergar e aplicar.
Reposicionar a organização, trazer o negócio e sua comunicação à mesma frequência e ajustar o processo de comunicação purista ao mesmo espectro pode revelar novos aspectos da mesma organização. Porém, considerar o caráter multiespectral da comunicação sob uma ótica mestiça pode revelar uma organização plural e jamais imaginada.
Observações: sobre o conceito de imagem a filosofia clássica apresenta ao menos duas possibilidades a partir de Platão e Aristóteles:
1 - Idealismo de Platão: idéia do objeto como projeção da mente.
2- Realismo de Aristóteles: a representação mental de um objeto possibilitada pelos sentidos como sendo o objeto real.
3- Mestiçagem: em comunicação empresarial o conceito foi apresentado pelo Dr. Paulo Nassar, na revista Meio e Mensagem de novembro de 2004, no artigo “Viva a mestiçagem”, onde profissionais e equipes intelectualmente mestiças, com conhecimento e experiências além da comunicação, em campos como as ciências sociais, administração, psicologia, antropologia, história, direito, arquitetura, entre outros, podem garantir o bom futuro da comunicação corporativa.
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