No meio da comunicação
A expressão “chover no molhado” resume a introdução desta agenda de discussão, mas nem por isso se torna dispensável. A expansão de plataformas digitais promoveu um crescimento exponencial das possibilidades e utilidades dadas aos meios de comunicação nas organizações. A capilaridade, a possibilidade de interatividade, a conveniência, a convergência de meios e outros atributos da era digital incrementaram o trânsito das informações, sem que necessariamente isso se transformasse em comunicação.
Muitas organizações aproveitaram a agilidade da produção de conteúdos em meio digital e os custos razoavelmente baixos para desvendar, por meio de imagens e áudios, uma organização dinâmica e pouco conhecida até então. A adequação da internet, como intranet talvez tenha sido um dos primeiros meios digitais a se consolidar. Na carona da intranet, como portal, foi possível introduzir, dentre outras mídias e sem muita dificuldade, os chats, o rádio, a TV, dentre outros meios.
Mas, o que pretendo tratar não é do meio, da mídia, e sim de quem está no meio das tentativas de comunicação: o sujeito. Será que a organização procurou conhecer o perfil e saber quem é e o que interessa a esse sujeito, enquanto valor e sentido, para a sua formação e para a consecução dos objetivos empresariais? O sujeito, que normalmente era considerado como “alvo”, no atual estágio da comunicação empresarial pode adotar múltiplos papéis. O sujeito deixou a tendência passiva da era analógica e adotou uma postura ativa ao se tornar personagem, protagonista que se mistura ao discurso organizacional e lhe confere um aspecto de legitimidade.
A organização passou a falar mais por meio de seus protagonistas, por meio da prática conhecida e não por meio dos enigmas da gestão, afeitos aos gestores. O efeito do novo sujeito, protagonista, pôde proporcionar um melhor equilíbrio na textualização da empresa e nas indispensáveis aparições e falas da liderança. Os resultados têm reverberado na organização e na distensão dos relacionamentos, reduzindo a distância entre os sujeitos nos níveis organizacionais, permitido um melhor fluxo de comunicação vertical e horizontal na estrutura e contribuindo com a humanização da empresa.
Como exemplo prático, notei que no formato TV foi onde se obteve maior aderência com as teses acima expostas. A possibilidade de “glamourização” do sujeito, ao mesmo tempo em que opera como reconhecimento ao próprio sujeito, promove-o como referencial. A TV é um meio frio, segundo McLuhan (1964), e as possibilidades de interpretação, quando a mensagem é bem planejada, são altas e atuam diretamente na disseminação da cultura. A roteirização aparece no planejamento, porém é na linguagem única daquele sujeito que os resultados se consolidam como autênticos.
Como efeitos colaterais, notei que o aspecto da alta exposição (utilizar sempre o mesmo grupo de porta-vozes) e do fechar-se em si próprio (falar somente da organização) pode ser nocivo ao processo. É necessário alternar personagens, equilibrar os temas de modo que transcendam o cotidiano organizacional e se conectem ao mundo externo, auxiliando na promoção do ajuste entre o “mundo do trabalho e o mundo da vida” (HORKHEIMER e ADORNO, 1985). Não é no início ou no fim. É no meio da comunicação se encontra a razão de ser da comunicação: o sujeito.
McLUHAN, M. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 1964
HORKHEIMER, M; ADORNO, T. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
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e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 1759
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