O esperado encontro entre o discurso e a ação
Quanto mais nos distanciamos de nós mesmos, mais nos esquecemos de quem realmente somos. Quanto mais nos lançamos a um suposto futuro, idealizado segundo o nosso ilimitado pensamento, mais nos aproximamos da avaliação sobre outra realidade existencial que poderá nos libertar ou nos dominar.
A expressão “faça o que eu digo, não faça o que eu faço” é o exemplo mais contundente de como promover o distanciamento entre o discurso e a ação, muito presente no cotidiano das organizações e principalmente nas atitudes e na visão ultrapassada do que vem a ser liderança. O processo comunicacional reduz-se e encerra ilegitimidade, desconfiança e afastamento, não necessariamente entre as pessoas, mas entre as idéias e os ideais. Quanto mais o discurso se distancia da ação, mais perdemos de vista as potencialidades do poder.
Avançar, em termos organizacionais, pode significar justamente o contrário. Promover o esperado encontro entre o discurso e a ação significa institucionalizar o potencial de poder legítimo, onde a comunicação, numa perspectiva dialógica, recheia as palavras com sentido e inspira ações construtivas e positivas. Não poderá haver poder no isolamento e na fragmentação.
As palavras podem se revestir de outros significados ao longo do tempo. A controvérsia em torno do poder nasce do duplo aspecto que faz do homem igual e ao mesmo tempo distinto. Se não fossem iguais, não poderiam se compreender. Se não fossem distintos, não necessitariam do discurso e da ação para se interpretarem mutuamente. Para que o poder se expresse independe da existência de fatores materiais, exceto da própria interação entre os homens.
A comunicação empresarial que supera a dimensão operacional pode auxiliar na desmistificação do poder e no resgate de seu caráter salutar. A visão equivocada de poder como força bruta, dominação, coação, não abre perspectiva de futuro, de continuidade, de esperança. Ao contrário, reduz o potencial de prosperidade. No caso das organizações isso não pode ser diferente.
Para que o processo de gestão da comunicação empresarial possa atuar na vanguarda e prover meios e conhecimento capazes de assessorar a liderança e traduzir em conhecimento aplicável o que vem a ser a potencialidade do poder. Além disso, pode promover uma observação sistemática e transversal capaz de identificar, reduzir e mesmo suprimir as limitações estruturais e funcionais da organização na fluidez do exercício do poder. As pesquisas anuais de clima organizacional, quando bem formuladas, aplicadas e analisadas podem dar pistas seguras para iniciar e incrementar esse processo.
Quando o esperado encontro entre o discurso e a ação se materializar todos se sentirão empoderados e capazes de traduzir o futuro das organizações como algo tangível. Seremos capazes de reduzir tensões e materializar outra realidade, um novo paradigma capaz de libertar as pessoas da dominação afeita à idéia falsa de poder.
Texto baseado no trecho do livro “A condição humana”, de Hannah Arendt, capítulo V, “A ação”: “o poder só é efetivado onde a palavra e o ato não se divorciam, onde as palavras não são vazias e os atos não são brutais, onde as palavras não são empregadas para velar intenções, mas para desvelar realidades, e os atos não são usados para violar e destruir, mas para estabelecer relações e criar novas realidades”.
Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje
e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 1674
Outras colunas de Paul Edman
26/03/2015 - A Comunicação e a dissonância necessária no processo civilizatório
02/10/2014 - Rádio: a mídia blattaria
30/05/2014 - Uma reflexão sobre nada
28/03/2014 - A Memória que constrói relações duradouras
12/03/2014 - Comunicação e inclusão - As armadilhas da percepção na interminável construção da sociedade
O primeiro portal da Comunicação Empresarial Brasileira - Desde 1996
Sobre a Aberje |
Cursos |
Eventos |
Comitês |
Prêmio |
Associe-se |
Diretoria |
Fale conosco
Aberje - Associação Brasileira de Comunicação Empresarial ©1967 Todos os direitos reservados.
Rua Amália de Noronha, 151 - 6º andar - São Paulo/SP - (11) 5627-9090