Vim pedir as contas
Quando empresas se preocupam mais com sua imagem externa do que com a qualidade de trabalho de suas equipes, é comum que a conta saia mais cara do que o esperado. O time de Recursos Humanos pede, prova, aprova, mas a valorização do colaborador acaba indo para segundo plano, enquanto a empresa segue investindo em iniciativas que tragam maior visibilidade.
Sem se sentir parte de algo maior, o colaborador passa a se perguntar se ainda é sábio manter-se no mesmo emprego. Duvida de novos programas de comunicação e liderança ao comparar o discurso externo com a realidade que vivencia todos os dias. Questiona a si próprio, tentando descobrir se não deveria fazer como tantos hoje em dia e partir à caça de outro emprego, que ofereça um ambiente mais flexível, um gestor mais presente, uma equipe mais integrada.
Quando encontra uma boa vaga, festeja, espalha a novidade e pede as contas. No susto, a empresa sente que perderá um profissional de alta qualidade e oferece um novo salário ou cargo. Em resposta, ouve algo como “não precisa me fazer contraproposta. Eu já me decidi.”
Neste momento se torna nítido que perdemos mais do que um bom profissional, perdemos a admiração de um colaborador. Alguns gestores, ressentidos, acham que isso é uma atitude muito pessoal. Outros, mais conscientes, passam a olhar com mais cuidado para sua equipe, avaliar os momentos e formas com que reconhece seu time, buscando indícios que lhe ajudem a entender como sua gestão pode ser aprimorada para minimizar riscos e impactos.
Mas muitos podem dizer que grande parte dos colaboradores pede as contas por ter recebido uma proposta melhor, achando que isso significa que o funcionário vai ganhar mais dinheiro em outro lugar. Porém nem sempre “ganhar mais” significa ter um salário maior. Não são raras as vezes que um colaborador, nas entrevistas demissionais, mostra um certo desgaste de seu relacionamento com a empresa. E na hora de ser sincero pensa em não abrir completamente o jogo. “Por qual motivo me ouviriam agora, se antes minha opinião jamais teve valor?”
Podemos encarar este tipo de comportamento como sendo algo isolado ou perceber aí o sintoma de um problema maior que precisa ser corrigido. Enquanto o discurso externo continuar pintando universos maravilhosos, mas o colaborador seguir vivendo uma realidade exaustiva e enclausurante, esta disfunção seguirá promovendo desfalque e baixas nas equipes.
Não há mal em investir na construção de uma imagem corporativa positiva, mas é preciso que isso venha do berço, alinhado com a identidade da corporação e vivenciado cotidianamente por seus colaboradores. Em verdade, nem sempre o salário é um problema, mas em um ambiente onde o colaborador percebe pouco valor em seus colegas, em sua liderança e em seu próprio trabalho, a conta pode ser injusta para ambos os lados. Mas quando a receita ao final do mês inclui não apenas o salário, mas um ambiente estimulante e desafiador, com aprendizado e engajamento de equipes, os valores em reais se tornam fatores secundários e a vida da empresa passa a se confundir com a história de sua equipe.
Para isso, é preciso ter clareza nos princípios organizacionais e nos valores compartilhados entre empresa e colaboradores. Em um cenário como este, durante uma crise, as baixas serão menores, e a união certamente prevalecerá. Sem o envolvimento sincero das equipes, o menor vento pode trazer grandes ondas, e o último som que será lembrado serão os chamados para “abandonar o navio”.
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